Imunização histórica
23 de julho de 2003

Mutação genética sofrida por judeus ashkenazes há 1.000 anos oferece proteção natural contra o vírus HIV, revela pesquisa de cientista australiano apresentada no no Congresso Internacional de Genética, em Melbourne

Imunização histórica

Mutação genética sofrida por judeus ashkenazes há 1.000 anos oferece proteção natural contra o vírus HIV, revela pesquisa de cientista australiano apresentada no no Congresso Internacional de Genética, em Melbourne

23 de julho de 2003

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Uma mutação natural, ocorrida há cerca de 1.000 anos, oferece proteção genética contra o vírus HIV. A alteração genética atingiu judeus ashkenazes na distante Khazaria, que atualmente faz parte do território russo. As rotas usadas pelos povos vikings também tiveram importância na distribuição desses genes. As revelações foram feitas por Marc Buhler, do Instituto de Pesquisas de Imunologia e Alergia da Universidade de Sydney, durante o Congresso Internacional de Genética, realizado de 7 a 10/7 na Austrália.

Segundo Buhler, a mutação, conhecida pelo nome de "delta 32", pode dar também proteção contra a esclerose múltipla. As descobertas surgiram a partir da análise genética de um grupo de 1,4 mil judeus ashkenazes que vivem na Austrália.

A freqüência da mutação gênica no grupo analisado pelo pesquisador australiano foi de 15%. O mesmo estudo realizado entre os judeus sefaradis encontrou uma taxa de 6%. Entre os caucasianos não judeus, a mesma análise chegou ao número de 11%.

Quando se analisou o genótipo de 26 representantes de forma individual, mais um número interessante foi encontrado. Todos os voluntários eram homozigotos para a mutação delta 32. Os cálculos realizados conseguiram ir mais além. O estudo feito por Buhler, por intermédio das medidas dos graus de recombinação gênica, conseguiu estimar quantas gerações daquele grupo populacional tiveram a mesma mutação. O resultado foram 50 gerações, ou aproximadamente 1.000 anos.

Khazaria está localizada ao leste do Mar Negro, no que hoje é o Sudeste da Rússia. A mutação ainda existe entre os descendentes judeus daquela parte do mundo, porque ela também se mostrou imune a varíola, que matou grande parte da população na Khazaria há mais ou menos 1.000 anos

Como os vikings passaram pela região em busca do ouro árabe, que deveria estar mais ao leste, eles acabaram contribuindo para a dispersão da mutação para outros lugares do mundo, ao seqüestrar habitantes da Khazaria e levá-los como escravos.


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