Série jornalística mostra a primeira parada em alto-mar do navio de pesquisa Marion Dufresne, na costa da Guiana Francesa. Primeiras amostras de sedimentos marinhos foram coletadas a 186 km do continente (imagem: reprodução)

Diário de Bordo acompanha o início dos trabalhos da expedição oceanográfica Amaryllis
28 de junho de 2023

Série jornalística mostra a primeira parada em alto-mar do navio de pesquisa Marion Dufresne, na costa da Guiana Francesa. Primeiras amostras de sedimentos marinhos foram coletadas a 186 km do continente

Diário de Bordo acompanha o início dos trabalhos da expedição oceanográfica Amaryllis

Série jornalística mostra a primeira parada em alto-mar do navio de pesquisa Marion Dufresne, na costa da Guiana Francesa. Primeiras amostras de sedimentos marinhos foram coletadas a 186 km do continente

28 de junho de 2023

Série jornalística mostra a primeira parada em alto-mar do navio de pesquisa Marion Dufresne, na costa da Guiana Francesa. Primeiras amostras de sedimentos marinhos foram coletadas a 186 km do continente (imagem: reprodução)

 

Elton Alisson, de Caiena (Guiana Francesa) | Agência FAPESP – O segundo episódio da série jornalística Diário de bordo, publicado hoje (28/06) pela Agência FAPESP, mostra como foi a primeira parada em alto-mar do navio de pesquisa Marion Dufresne, que marcou o início dos trabalhos da expedição científica Amaryllis.

O ponto escolhido fica na costa da Guiana Francesa, a 186 quilômetros do continente. Lá foram coletadas, sob chuva e tempo fechado, as primeiras amostras dos sedimentos marinhos que têm aspecto de lama, com cor cinza chumbo e textura de argila. Uma lama que é preciosa para os paleoclimatólogos participantes da expedição porque é um testemunho de como foi o clima, há dezenas de milhares de anos, nas regiões onde estão estudando.

“Olhamos para os sedimentos marinhos, nas camadas que estão depositadas no Atlântico Equatorial, para reconstituir o que aconteceu no clima do passado. Com base no que aconteceu no clima do passado, em momentos em que a circulação foi mais intensa ou mais fraca, que choveu mais ou menos, em que a biodiversidade amazônica aumentou ou diminuiu, é possível entender as complexas interpelações entre o oceano, o clima e a biota”, diz Cristiano Mazur Chiessi, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e coordenador brasileiro da expedição.

No total, estão previstas dez paradas, em diferentes estações, das quais duas são na Guiana Francesa, três próximas da foz do rio Amazonas e outras cinco ao largo da costa do Nordeste brasileiro, sendo duas nas imediações do rio Parnaíba, na divisa entre Maranhão e Piauí.

As estações de coleta, ao longo do oceano Atlântico Equatorial, têm profundidades que variam entre 75 metros (como uma das próximas à foz do rio Amazonas) e quase 3 mil metros (como as localizadas na Guiana Francesa). Segundo cientistas participantes da expedição, essas variações de profundidades e de distância da costa dos pontos de coleta de sedimentos permitirão reconstituir as condições climáticas da Amazônia e do Nordeste, assim como as condições oceânicas, em diferentes escalas de tempo.

Em estações mais distantes da costa, em águas profundas, os cientistas esperam extrair sedimentos que registraram a história climática dos últimos 2 milhões de anos. Já em estações mais próximas da desembocadura do rio Amazonas, a expectativa é coletar amostras de sedimentos que ajudem a reconstituir o clima na Amazônia nos últimos 50 anos. Segundo eles, isso permitirá analisar, por exemplo, como o desmatamento da floresta amazônica está alterando o aporte de sedimentos do rio Amazonas para o oceano – processo cujo impacto ainda é desconhecido.

Tomografia do fundo do mar

Além do tempo e do acúmulo de sedimentos, outros critérios adotados pelos coordenadores da expedição para decidir por uma estação de coleta é a feição das camadas de sedimentos. Para verificar se estão na forma desejada, é empregado um equipamento chamado ecossonda de penetração de fundo.

O equipamento emite um sinal sonoro que se propaga no fundo do oceano e é capturado por sensores a bordo do navio. Dessa forma, possibilita obter imagens das primeiras dezenas de metros de camadas de sedimentos do fundo do oceano, de modo semelhante ao que faz uma tomografia ou um raio X do corpo humano. Com isso os pesquisadores conseguem verificar se a sedimentação de um local predefinido apresenta condições ideais para a coleta, com camadas bem paralelas, comparáveis, grosso modo, às de um bolo.

“Procuramos por camadas espessas, com mais de 50 metros e que tenham uma característica que indique para a gente que é um material mais fino, mais organizado e estruturado, uma vez que um material que vem deslizado não é útil para o objetivo do projeto, que é contar a evolução ambiental da região”, diz Arthur Ayres Neto, professor do departamento de geologia e geofísica da Universidade Federal Fluminense (UFF), participante da expedição Amaryllis.

Por meio de um sistema de posicionamento dinâmico, o navio para exatamente no local apontado como o ideal para fazer as escavações. Uma vez no local, é iniciada a operação de equipamentos que farão a coleta dos sedimentos marinhos e o transporte ao deque do navio.

Todo esse trabalho é acompanhado por um observador da Marinha do Brasil, embarcado no Marion Dufresne.

Nos próximos episódios da série Diário de bordo serão mostrados o funcionamento dos equipamentos de coleta de sedimentos disponíveis no navio e a rotina de trabalho dos pesquisadores participantes da expedição científica Amaryllis.

A série completa ficará disponível em: agencia.fapesp.br/diario-de-bordo.

* O repórter viaja a convite do Centro Nacional de Pesquisa (CNRS) da França.

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