O luxuoso Hotel Esplanada, no centro de São Paulo, era uma das referências arquitetônicas da cidade nos anos 20
Arquiteta da FAU conta como os hotéis de São Paulo acompanharam o crescimento econômico da cidade, passando de simples pousos de tropeiros a fornecedores de hospedagem luxuosa
Arquiteta da FAU conta como os hotéis de São Paulo acompanharam o crescimento econômico da cidade, passando de simples pousos de tropeiros a fornecedores de hospedagem luxuosa
O luxuoso Hotel Esplanada, no centro de São Paulo, era uma das referências arquitetônicas da cidade nos anos 20
Agência FAPESP - Apesar de poucos, os hotéis da São Paulo das primeiras décadas do século passado servem como bons indicadores do desenvolvimento econômico e cultural da capital.
Como não lembrar do Hotel Excelsior, que alterou por completo o então chamado skyline da Avenida Ipiranga, recém-alargada no início dos anos 1940? E do famoso Hotel Esplanada, que na década de 1920 recebia empresários e artistas nos fundos do Theatro Municipal?
O Esplanada foi por um tempo o cartão-postal paulistano – hoje é a sede do Grupo Votorantim. Ele e o Excelsior são ícones marcados na história paulistana, pois antes deles não existia quase nada. A cidade recebia apenas imigrantes.
"São Paulo não era uma cidade muito atraente para a longa permanência de viajantes no início do século 20. Ela funcionava mais como passagem para quem chegava ou saía pela malha ferroviária em direção ao porto de Santos", disse a historiadora e arquiteta Ana Carla Monteiro à Agência FAPESP. Mestranda da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), ela pesquisa a implantação da rede hoteleira paulistana entre 1941 e 1970.
Enquanto o Rio de Janeiro teve um crescimento acelerado a partir da chegada da família real em 1808, a capital paulista manteve sua condição de vila por mais tempo. Os pousos de tropeiros ou hospedarias eram o que havia de acomodação na Vila de São Paulo naquela época, construídos nas proximidades dos acessos de estradas e dos edifícios importantes da cidade.
Inaugurada primeiramente no Bom Retiro e transferida para o Brás em 1887, a Hospedaria dos Imigrantes foi o primeiro estabelecimento de grande porte na cidade destinado à hospedagem, chegando a comportar 6 mil pessoas.
A instalação da Academia de Direito do Largo São Francisco, em meados do século 19, foi um dos acontecimentos que ajudaram a dar vigor a São Paulo. A academia fomentou a vida cultural e aumentou a demanda por alojamentos.
O Grande Hotel, construído na rua São Bento em 1878 e demolido em 1964, foi um dos mais notáveis marcos do período. Antes do início do século 20 ele era considerado por muitos o melhor hotel do país.
Maior e mais influente
Entre 1920 e 1930, as exportações de café propiciaram a capitalização de recursos e permitiram a formação das primeiras indústrias, criando um novo perfil urbano e econômico na cidade. Superada a crise de 1929, o crescimento populacional, o surgimento de espaços de interação (praças, teatros e cinemas), a melhoria do transporte público e a presença dos automóveis modificaram profundamente os costumes da sociedade.
O estilo arquitetônico dos hotéis começou na belle époque, passou pela art déco e chegou até a influência norte-americana, acompanhando a evolução da sociedade. Em meados dos anos 1950 a cidade tornou-se uma grande metrópole, com forte potencial turístico e, conseqüentemente, farta rede hoteleira.
De acordo com Ana Carla, o setor cresceu bastante por influência política. "Com as comemorações do quarto centenário da cidade, a prefeitura aprovou leis que isentavam de impostos os hotéis que fossem construídos até 25 de janeiro de 1954", afirmou a historiadora e arquiteta. Os novos edifícios reforçavam a idéia de cidade grande, já incorporando a presença de elevadores e garagens.
A grande metrópole que São Paulo virou nos anos 1950 contribuiu para uma reformulação dos hotéis e dos locais da cidade que poderiam abrigar os luxuosos e charmosos edifícios. "Em meados da década, os novos hotéis da metrópole não iriam desapontar as expectativas de São Paulo e seriam destaques por décadas na malha urbana e na vida social da cidade", disse Ana Carla.
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