A escritora em sua chácara em Campinas (SP), em 1973
(foto: arquivo pessoal)

Hilda Hilst morre aos 73 anos
04 de fevereiro de 2004

Escritora paulista, que morreu na madrugada de quarta (4/2), em Campinas, deixa uma obra rica e única, que transita entre a poesia e a prosa, entre o metafísico e o obsceno. Os 41 livros que escreveu estão sendo reeditados, em ótima oportunidade para compreender sua importância na literatura brasileira

Hilda Hilst morre aos 73 anos

Escritora paulista, que morreu na madrugada de quarta (4/2), em Campinas, deixa uma obra rica e única, que transita entre a poesia e a prosa, entre o metafísico e o obsceno. Os 41 livros que escreveu estão sendo reeditados, em ótima oportunidade para compreender sua importância na literatura brasileira

04 de fevereiro de 2004

A escritora em sua chácara em Campinas (SP), em 1973
(foto: arquivo pessoal)

 

Por Heitor Shimizu


Agência FAPESP - A escritora Hilda Hilst morreu na madrugada de quarta-feira, em Campinas, no interior de São Paulo. Segundo boletim do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde estava internada desde o dia 1º de janeiro, o motivo do falecimento foi a falência múltipla de órgãos e sistemas. Tinha 73 anos.

"A escritora foi internada para realização de uma cirurgia, após sofrer queda que ocasionou uma fratura no fêmur. A cirurgia foi bem sucedida, entretanto, por ser uma paciente que apresentava uma deficiência crônica cardíaca e pulmonar, a situação se agravou nos últimos dias, culminando com a falência múltipla dos órgãos", explicou a nota divulgada pelo hospital.

Hilda Hilst nasceu em 21 de abril de 1930, em Jaú, no interior paulista, filha do poeta Apolonio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso. Seus primeiros livros publicados foram Presságio (1950) e Balada de Alzira (1951). Formou-se em 1952 pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Escreveu poesias até 1970, quando publicou sua primeira prosa, Fluxo-Poema.

A escritora vivia desde meados da década de 1960 em uma chácara herdada da mãe, a 11 km de Campinas. Ali, na chamada Casa do Sol, costumava receber a visita de amigos, entre eles escritores, artistas, críticos e cientistas.

Em 1982, publicou A obscena senhora D, o primeiro dos livros da sua fase de literatura considerada pornográfica, com a qual desde então passou a ser fortemente relacionada. Seguiram-se Com meus olhos de cão e outras novelas (1986), O Caderno rosa de Lory Lambi (1990) e Cartas de um sedutor (1991). Obras da fase obscena da autora foram publicadas em francês, italiano e alemão.

"Hilda Hilst deixa uma produção excelente, de altíssimo nível em vários gêneros, seja em poesia, teatro ou crônica, o que é algo absolutamente singular", disse Antonio Alcir Bernárdez Pécora, professor do Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, à Agência FAPESP. "Ela teve uma capacidade única de articulação entre o baixo e o alto, entre o obsceno e o metafísico."

Entre os prêmios que recebeu, estão o da Associação Paulista de Críticos de Arte como melhor livro do ano, por Ficção (1977), e o Jabuti, por Cantares de perda e predileção (1983). Em 1995, seu arquivo pessoal foi comprado pelo Centro de Documentação Alexandre Eulálio, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, estando aberto a pesquisadores do mundo inteiro.

Apesar de bem-sucedida junto à crítica, nunca foi um sucesso de público. A maioria de seus 41 livros foi lançada em tiragem reduzida e estava fora de catálogo até 2001, quando os títulos passaram a ser relançados pela Editora Globo. A editora pretende publicar a obra completa da escritora, reunida em 19 livros. Onze já foram lançados e outro está saindo em fevereiro, representando uma excelente oportunidade para os leitores, especialmente os mais novos, tomarem contato com seu texto único, sem comparações na literatura brasileira.

"Ela era muito conhecida, mas sua obra não. Além do aspecto escandaloso, há a dificuldade do texto. Escrevia de maneira original, com uma pontuação particular e o uso de muitos aspectos experimentais, como, por exemplo, prosas que terminam na forma de poesias", disse Pécora, responsável pela organização da obra completa da autora para a Editora Globo.

Um aspecto pouco conhecido de Hilda Hilst era o seu interesse pelas ciências exatas. Em sua casa, vivia rodeada por pilhas de livros, sendo que a maioria não era de literatura, mas sim de física, filosofia ou matemática, com as quais procurava refletir sobre questões como a imortalidade da alma, "do ponto de vista científico, não apenas metafísico", como disse em entrevista de 1996 para a Globo Ciência. Foi amiga de cientistas renomados, como César Lattes, Newton Bernardes e Mário Schemberg.

Sua notável beleza chamou a atenção de poetas, como Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e Manuel Bandeira. Os atores Marlon Brando e Dean Martin fazem parte da lista de namorados famosos. Foi casada com o escultor Dante Casarini, com quem viveu por alguns anos. Não teve filhos.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 1997, disse que gostaria de ir para um suposto planeta onde se pratica a imortalidade. "Nunca acreditei que fosse só isso: nascimento, vida, morte e apodrecimento. Quero ir para Marduk, onde moram Einstein e Júlio Verne", disse.

Para ler um poema de Hilda Hilst, clique aqui.

Para a bibliografia completa da escritora, clique aqui.

Mais sobre a autora em: www.releituras.com.br/hildahilst_bio.asp


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