Cláudia Rezende (UFRJ), abriu o ciclo de conferências na sede da FAPESP com o tema “química perfumada (foto:Eduardo Cesar)
Plantas utilizadas na Antiguidade continuam sendo fontes de novas descobertas de substâncias para aplicação na indústria, dizem pesquisadores no Ciclo de Conferências do Ano Internacional da Química
Plantas utilizadas na Antiguidade continuam sendo fontes de novas descobertas de substâncias para aplicação na indústria, dizem pesquisadores no Ciclo de Conferências do Ano Internacional da Química
Cláudia Rezende (UFRJ), abriu o ciclo de conferências na sede da FAPESP com o tema “química perfumada (foto:Eduardo Cesar)
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Nas civilizações antigas são encontrados os primeiros relatos da utilização de plantas para a elaboração de perfumes, medicamentos e outros produtos para fins cosméticos, de alimentação, religioso e funerário, entre outros.
Hoje, com os avanços em pesquisa e desenvolvimento de novos processos para obtenção de substâncias químicas naturais e sintéticas, as indústrias continuam descobrindo novos compostos a partir de muitas das plantas descritas há séculos.
São compostos como terpenos, alcaloides e flavonoides, para utilização in natura ou para o desenvolvimento de novos aromas e fragrâncias, fármacos e outros produtos.
A avaliação foi feita pelos palestrantes do quinto encontro do Ciclo de Conferências do Ano Internacional da Química – 2011, que teve como tema “A química doce, amarga e perfumada”, realizado em 3 de agosto no auditório da FAPESP.
De acordo com a professora do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cláudia Rezende, que abriu o ciclo de conferências e abordou a “química perfumada”, os primeiros relatos conhecidos sobre a aplicação de aromas na Antiguidade vêm do Egito, onde nos templos existiam laboratórios para produção de unguentos e incensos.
“Apesar de, na época, ainda não existir o processo de destilação, os egípcios produziam um composto macerado, chamado kyphi, à base de ingredientes como menta, açafrão, zimbro, vinho, mel, resina, passas e mirra, que era a receita tanto de um incenso quanto de um perfume e um medicamento”, disse.
Um dos produtos derivados de uma das plantas que compõem esse composto, a Mentha arvensis L., que está sendo alvo de muitas pesquisas na atualidade, é o mentol.
Como o composto orgânico obtido da extração do óleo da planta e de outros óleos essenciais tem alguns efeitos indesejáveis nos produtos em que é aplicado – como odor intenso, gosto amargo e irritar os olhos –, as indústrias fabricantes de aromas e fragrâncias começaram a buscar nos últimos anos novos agentes refrescantes por diferentes rotas para substituí-lo.
Uma das abordagens, segundo Rezende, tem sido a avaliação da refrescância da série de isômeros do mentol, compostos com a mesma fórmula molecular, mas com arranjos atômicos diferentes. Outra alternativa são estudos para o desenvolvimento de mentol sob condições de liberação controlada em fumo. E a terceira via é o desenvolvimento de novas moléculas baseadas em estudos de estrutura e atividade do composto.
“Nos últimos anos, algumas empresas conseguiram sintetizar derivados do mentol, com maior refrescância e sem os efeitos negativos que ele possui, abrindo novas perspectivas para a aplicação do ingrediente”, disse a pesquisadora.
Amarga e doce
Outra substância obtida de planta com relatos de sua utilização na Antiguidade e que derivou uma série de compostos existentes atualmente é o ópio.
Conhecido como a primeira descrição de um sabor amargo na história dos sabores, a partir do composto foi obtido uma série de alcaloides –substâncias básicas derivadas principalmente de plantas –, em grande parte com sabor amargo e com aplicações em setores como a indústria farmacêutica.
“O ópio está presente em várias fases da história. Ele tem não só a morfina, como a codeína, que foi utilizada até os anos 1980 em xarope no Brasil, além da copadeína, da demaína e da heroína. Ele tem cerca de 23 alcaloides”, disse o professor Ângelo da Cunha Pinto, do Instituto de Química da URFRJ, que abordou no evento a “química amarga”.
Outra substância também derivada de um produto natural bem menos amargo do que o ópio tem o Brasil como maior produtor mundial: a cana-de-açúcar. E o país deveria se empenhar em transformá-la em outros produtos, além dos atuais, disse Vitor Ferreira, professor do Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“Precisamos investir em pesquisa para desenvolver novas moléculas a partir da sacarose. O Brasil produz quase 5 milhões de toneladas desse dissacarídeo e usa uma parte muito pequena desse volume para produzir outros produtos que não o etanol”, disse.
Segundo Ferreira, alguns dos produtos de química fina nos quais a sacarose pode ser transformada são o ácido cítrico, acetona, butanol e ácido fumárico. “A sacarose é tão importante na química dos carboidratos que tem um nome especial: a sucroquímica, que é a química da sacarose”, disse.
Próximo evento
O próximo evento no Ciclo de Conferências do Ano Internacional da Química 2011, com o tema “Doenças negligenciadas e os desafios no desenvolvimento de novos medicamentos”, será realizado no dia 14 de setembro, a partir das 13h30, no auditório da FAPESP.
Promovido pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ) em parceria com a revista Pesquisa FAPESP, o evento integra as comemorações oficiais do Ano Internacional da Química, instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês).
O ciclo é coordenado por Vanderlan da Silva Bolzani, professora do Instituto de Química de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do comitê nacional de atividades do AIQ-2011 da SBQ, e por Mariluce Moura, diretora de redação da revista.
Mais informações: www.fapesp.br/eventos/aiq
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