Solenidade ocorreu no dia 8 de novembro, no Centro de Convenções de Ribeirão Preto (imagem: Phelipe Janning/Agência FAPESP)
Médico foi aposentado compulsoriamente em 1969, quando reitor da Universidade de São Paulo, ao manifestar-se contrário à sanção aplicada ao professor Florestan Fernandes e outros colegas. Reincorporado em 1980 ao corpo docente, faleceu em 1985
Médico foi aposentado compulsoriamente em 1969, quando reitor da Universidade de São Paulo, ao manifestar-se contrário à sanção aplicada ao professor Florestan Fernandes e outros colegas. Reincorporado em 1980 ao corpo docente, faleceu em 1985
Solenidade ocorreu no dia 8 de novembro, no Centro de Convenções de Ribeirão Preto (imagem: Phelipe Janning/Agência FAPESP)
André Julião*, de Ribeirão Preto | Agência FAPESP – Um homem sereno mesmo em um dos momentos mais turbulentos da história do país. Um professor afável e dedicado que inspirou muitos alunos e conduziu uma importante reforma universitária. Pai de sete filhos que manteve a família unida mesmo na adversidade.
Não faltaram histórias e depoimentos emocionados na outorga do título de professor emérito da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) a Helio Lourenço de Oliveira (1917-1985). A solenidade ocorreu no dia 8 de novembro, no Centro de Convenções de Ribeirão Preto, e reuniu a congregação da FMRP-USP, professores, estudantes e familiares.
“A homenagem abarcou dois aspectos da sua atuação. A primeira delas, ter fundado um departamento muito inovador naquela época [Clínica Médica], na maneira de ensinar clínica, de ter professores que se dedicavam, além do ensino, à pesquisa. Foi um pioneiro nesse aspecto, e criou um modelo de ensino de medicina. Mas, ao lado disso, ele também teve uma atuação muito grande com relação a toda a universidade”, disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP e professor emérito da FMRP-USP, que compôs a mesa da solenidade.
Zago e outros participantes lembraram que Helio Lourenço assumiu a reitoria no momento em que ocorria a primeira e mais abrangente reforma universitária da USP, que extinguiu a cátedra, criou os departamentos e seus conselhos, abriu a carreira ao permitir mais de um titular em cada departamento. Além disso, reorganizou unidades e departamentos da instituição.
“Foi uma transformação radical que modernizou a universidade. Ao lado disto, ele foi um defensor da autonomia universitária”, afirmou Zago.
Em 28 de abril de 1969, sua defesa da autonomia ficou patente ao escrever ao então ministro da Educação, Tarso Dutra, solicitando reconsiderar a aposentadoria compulsória imposta pelo governo federal a três professores da USP: Florestan Fernandes, Jayme Tiomno e João Batista Vilanova Artigas. Os afastamentos se davam com base no Ato Institucional nº 5 (AI-5), decretado em dezembro de 1968.
O ministro deu uma resposta curta, sem confirmar ou negar os afastamentos, mas questionando se o reitor em exercício considerava “justos ou não quanto aos fundamentos ideológicos e de defesa [do] regime [os] atos [de] aposentadoria”, conforme telegrama cuja reprodução pode ser lida no livro Helio Lourenço: Vida e Legado, escrito pelo filho Ricardo Brandt de Oliveira, professor da FMRP-USP, e Regina Prado, lançado pela Edusp em 2017.
A verdadeira resposta veio no dia seguinte, no programa de rádio A Hora do Brasil, na forma de uma nova lista de aposentadorias compulsórias na USP. Entre os nomes, Caio Prado Júnior, Elza Berquó, Emília Viotti da Costa, Fernando Henrique Cardoso e o próprio Helio Lourenço de Oliveira.
Três metros
À época adolescente, a filha Maria Isabel Brandt Oliveira Mafra lembra que não entendia exatamente o que estava acontecendo, mas que percebia que algo muito ruim ocorria à sua família.
Com o afastamento, apareceram convites para ele trabalhar no exterior. “Ele nos consultou onde queríamos morar. A Unesco o havia convidado para organizar universidades no Oriente Médio e nós escolhemos o Egito, porque era mais perto da Europa, mas acabamos voltando para o Brasil sem ter visitado o continente europeu”, relembra Maria Isabel à Agência FAPESP.
“Era um período muito pesado. Eu era uma adolescente, mas já compreendia. Acho que foi muito mais difícil para meus irmãos mais novos, que nem sequer entendiam o que estava acontecendo”, conta Maria Cristina de Oliveira Salgado, professora aposentada da FMRP-USP e filha de Oliveira.
Em 1980, com a Anistia, Helio Lourenço retomou seu posto na universidade e se tornou diretor da FMRP três anos depois, cargo que já havia ocupado antes de assumir a reitoria. O hoje reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Jr., lembra que cursava a graduação quando soube do professor que tinha sido reitor e exilado político.
“A primeira vez que encontrei o professor Helio, parecia que ele tinha uns três metros de altura”, brincou. “Já diretor, ele nos dava aulas na Vila Lobato, no que se chamava na época de ambulatório de pais, porque os pais levavam as crianças para fazer puericultura. O professor Helio criou esse ambulatório e nos ensinava lá”, rememorou sobre o centro que completou 55 anos em 2024.
Além de Carlotti, Zago e Brandt Oliveira, compuseram a mesa da solenidade o diretor da FMRP-USP, Jorge Elias Jr., e o professor Antônio Pazin Filho, chefe do departamento de Clínica Médica da FMRP-USP.
Leia a íntegra do discurso do professor Marco Antonio Zago aqui.
* Colaborou Phelipe Janning.
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