Projeto da Unicamp e do Inca foi o único na América Latina contemplado em chamada da Chan Zuckerberg Initiative; equipe vai receber mais de US$ 500 mil e usar técnica de estudo de sequenciamento de célula única de forma pioneira no país (imagem: macrófago no tecido adiposo/Hernandez Moura Silva)
Projeto da Unicamp e do Inca foi o único na América Latina contemplado em chamada da Chan Zuckerberg Initiative; equipe vai receber mais de US$ 500 mil e usar técnica de estudo de sequenciamento de célula única de forma pioneira no país
Projeto da Unicamp e do Inca foi o único na América Latina contemplado em chamada da Chan Zuckerberg Initiative; equipe vai receber mais de US$ 500 mil e usar técnica de estudo de sequenciamento de célula única de forma pioneira no país
Projeto da Unicamp e do Inca foi o único na América Latina contemplado em chamada da Chan Zuckerberg Initiative; equipe vai receber mais de US$ 500 mil e usar técnica de estudo de sequenciamento de célula única de forma pioneira no país (imagem: macrófago no tecido adiposo/Hernandez Moura Silva)
André Julião | Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto Nacional do Câncer (Inca) vão estudar diferentes populações de macrófagos – tipo de célula do sistema imune – presentes nos tecidos adiposos de pessoas magras e obesas, de ambos os sexos. O objetivo é entender como essas células atuam no processo inflamatório de pacientes com obesidade, mais propensos a doenças crônicas como diabetes e hipertensão arterial e também a complicações da COVID-19.
O grupo brasileiro é o único da América Latina contemplado na chamada internacional “Single-Cell Analysis of Inflammation”, da Chan Zuckerberg Initiative (CZI). O projeto foi contemplado com US$ 525 mil, para serem aplicados em dois anos. A equipe é liderada pelos pesquisadores Marcelo Mori e Pedro Moraes-Vieira, ambos do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, em conjunto com Mariana Boroni, pesquisadora do Inca, no Rio de Janeiro.
Os pesquisadores da Unicamp foram recentemente contemplados na chamada Suplementos de Rápida Implementação contra COVID-19 da FAPESP. Mori investiga como o envelhecimento contribui para a infecção pelo SARS-CoV-2, enquanto Moraes-Vieira estuda os fatores de risco associados à maior gravidade da COVID-19, além de fazer o mapeamento de vias metabólicas necessárias para a resposta contra o SARS-CoV-2.
Mori e Moraes-Vieira fazem parte ainda do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.
O estudo vai analisar uma amostra de 10 mil células presentes no tecido adiposo subcutâneo e visceral de forma individualizada. As amostras de tecido deverão ser colhidas pela equipe do médico Elinton Adami Chaim, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, assim que o estudo obtiver aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa.
“A ideia é determinar moléculas que diferenciam subpopulações de macrófagos das pessoas obesas e magras, a fim de identificar novas populações dessas células. Vamos identificar os marcadores moleculares encontrados em cada uma das 10 mil células, definir as subpopulações existentes e validar os achados usando citômetro de fluxo. Isso vai permitir a análise de até 30 marcadores simultaneamente em cada célula”, explica Moraes-Vieira.
O aparelho de citometria de fluxo multiparamétrico foi adquirido recentemente pelo Instituto de Biologia da Unicamp com financiamento da FAPESP.
Análise de cada célula
A chamada da organização filantrópica norte-americana – fundada em 2015 pela médica Priscila Chan e seu marido, Mark Zuckerberg, dono do Facebook – tem como objetivo financiar estudos focados em processos inflamatórios a partir da análise de célula única, uma técnica ainda incipiente no Brasil. Foram 29 projetos aprovados no total, a maioria dos Estados Unidos, que dividirão US$ 14 milhões em recursos.
“A análise de célula única é uma estratégia revolucionária, que vem aumentando nos últimos anos a capacidade de entender diferentes tipos celulares em um mesmo tecido. A técnica permite determinar a expressão de genes de cada célula da amostra. Isso permite quantificar dezenas de milhares de células e, assim, aumentar a resolução da análise”, explica Mori.
Enquanto as análises convencionais em tecido dão uma média da expressão de genes de todas as células que estão presentes na amostra, a análise de sequenciamento de RNA por célula única determina a expressão gênica por célula de forma individual, podendo evidenciar o comportamento e a identidade de cada uma das células presentes em uma amostra de tecido.
Por conta disso, estudos desse tipo geram uma quantidade de dados muito maior do que as análises convencionais. Para serem analisados, são necessárias avançadas ferramentas de biologia computacional. Essa parte do trabalho será realizada por Boroni, do Inca.
O estudo vai possibilitar ainda o desenvolvimento de uma plataforma na Unicamp, que futuramente poderá ser usada por toda a comunidade científica. Como a técnica da análise individual de célula única é nova no Brasil, o projeto vai obter equipamentos e estabelecer protocolos para que esse tipo de análise possa ser feita por outros grupos brasileiros, que poderão aplicar o conhecimento para diferentes pesquisas.
Os dados e protocolos dos experimentos serão compartilhados ainda no Human Cell Atlas, uma plataforma global para armazenar informações sobre as células humanas, com o objetivo de compreender melhor os mecanismos celulares e, consequentemente, melhorar diagnósticos, monitoramento e tratamentos de doenças.
O Human Cell Atlas Brasil, braço nacional da iniciativa, tem entre os coordenadores Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP). O grupo realizou reuniões no ano passado a fim de coordenar pesquisadores de diversas especialidades para submeter projetos competitivos para a chamada da CZI.
Além dos pesquisadores da Unicamp e do Inca, os grupos contemplados são de centros como Harvard, Stanford, Yale e Princeton University, nos Estados Unidos; University of Oxford, no Reino Unido, e Max Planck Institute, na Alemanha, entre outros.
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