À esquerda um espécime de Xiphopenaeus kroyeri coletado no litoral paulista; à direita o lixo coletado com as amostras de pesquisa (fotos: Daphine Herrera)

Poluição
Grupo investiga a presença de microplásticos em camarões no litoral de São Paulo
22 de janeiro de 2025

Projeto apoiado pela FAPESP analisa tanto os riscos ecológicos dessa poluição quanto os possíveis impactos para a saúde humana

Poluição
Grupo investiga a presença de microplásticos em camarões no litoral de São Paulo

Projeto apoiado pela FAPESP analisa tanto os riscos ecológicos dessa poluição quanto os possíveis impactos para a saúde humana

22 de janeiro de 2025

À esquerda um espécime de Xiphopenaeus kroyeri coletado no litoral paulista; à direita o lixo coletado com as amostras de pesquisa (fotos: Daphine Herrera)

 

Agência FAPESP* – Estudo de campo conduzido no campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista (Unesp) investiga o acúmulo de microplásticos em grandes crustáceos, especificamente nos camarões-de-sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri). O objetivo é avaliar tanto os riscos ecológicos dessa poluição quanto os possíveis impactos para a saúde humana, considerando a ingestão desses animais pela população.

Apoiada pela FAPESP no âmbito do Programa BIOTA , a pesquisa está sendo realizada em duas regiões com características ambientais bastante contrastantes: a Baixada Santista, que abrange áreas industriais, portuárias e pesqueiras com grande impacto ambiental; e Cananéia, uma região de menor intervenção humana e mais preservada, no litoral sul de São Paulo.

Os dados preliminares são preocupantes: a presença de microplásticos foi observada no trato gastrointestinal de algo entre 80% e 90% dos camarões avaliados até o momento.

Embora a quantidade de partículas varie entre os locais, o fato de que a contaminação está presente em uma porcentagem tão alta dos animais levanta questões sobre as consequências a longo prazo para os consumidores e para o meio ambiente.

“A nossa proposta é comparar como camarões de ecossistemas tão diferentes respondem à exposição a microplásticos”, explica “Daphine Herrera, pós-doutoranda do projeto e bolsista da FAPESP. “Os camarões, por serem detritívoros [alimentam-se de detritos no fundo do mar], estão expostos a grandes quantidades de microplásticos presentes nos sedimentos marinhos. Esse hábito facilita a análise de bioacumulação de microplásticos em seu organismo, tornando-os modelos ideais para o estudo”, acrescenta.

Um problema macro

Os microplásticos são pequenas partículas com menos de 5 milímetros de tamanho. Eles são responsáveis por 92,4% dos detritos de plástico marinho e estão presentes por todo o ambiente oceânico, da coluna de água às praias e até no oceano profundo. Podem trazer graves consequências para a vida marinha e, por extensão, para os seres humanos que consomem frutos do mar.

Com base nessa preocupação, pesquisadores do Laboratório de Biologia de Camarões Marinhos e de Água Doce da Unesp procuram preencher uma lacuna de conhecimento: identificar os níveis de contaminação por microplásticos nos camarões-de-sete-barbas pescados no litoral paulista.

O primeiro passo da pesquisa consiste em avaliar o nível de exposição no trato gastrointestinal dos camarões, onde os microplásticos podem ser detectados inicialmente.

Outro objetivo central do projeto é compreender se a contaminação por microplásticos afeta também a qualidade nutricional dos camarões, o que pode ter implicações importantes para o consumo humano. Essa análise corresponde à próxima fase do projeto, que buscará avaliar se os microplásticos detectados nos camarões estão se acumulando em outros tecidos além do trato gastrointestinal, como na musculatura, que é justamente a parte mais consumida pelos seres humanos.

“Estamos apenas começando a entender a extensão desse problema, mas os dados já mostram que a situação é alarmante”, diz Herrera. “Este estudo é um passo importante para compreender melhor os efeitos da poluição marinha no Brasil e as potenciais repercussões para a saúde pública, especialmente em um país onde o consumo de frutos do mar é tão expressivo.”

A pesquisa estuda os crustáceos decápodes, que incluem os camarões, siris, lagostas, lagostins e caranguejos, por exemplo. O projeto busca abordar diferentes aspectos, como ciclo de vida, padrões biogeográficos, reprodução, organização populacional, status taxonômico e processos evolutivos desses organismos.

O trabalho também inclui a análise da história evolutiva dessas espécies, com foco em ecossistemas de importância para a sua preservação, como manguezais, estuários e bacias hidrográficas. A integração entre as respostas geradas nesse estudo deve auxiliar na compreensão de aspectos de relevância ambiental e social, como conservação de espécies e de ecossistemas, além de tratar da qualidade de produtos que chegam ao consumidor.

* Com informações de Érica Speglich, do boletim BIOTA Highlights.
 

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