"Identificamos enzimas associadas tanto à eficiência alimentar quanto à emissão de metano. Isso abre uma gama de possibilidades para a produção de bioprodutos", afirmou Regitano (foto: Laura Redondo/Agência FAPESP)
Objetivo é selecionar animais que engordam com mais facilidade e emitem menos metano; pesquisa conduzida na Embrapa foi apresentada no simpósio FAPESP Day Uruguay
Objetivo é selecionar animais que engordam com mais facilidade e emitem menos metano; pesquisa conduzida na Embrapa foi apresentada no simpósio FAPESP Day Uruguay
"Identificamos enzimas associadas tanto à eficiência alimentar quanto à emissão de metano. Isso abre uma gama de possibilidades para a produção de bioprodutos", afirmou Regitano (foto: Laura Redondo/Agência FAPESP)
Karina Toledo, de Montevidéu | Agência FAPESP – Pesquisa conduzida na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) avaliou como a microbiota intestinal do gado nelore interfere na eficiência alimentar do animal – sua capacidade de aproveitar a energia do alimento – e na emissão de metano. Parte dos resultados foi apresentada pela pesquisadora Luciana Regitano na sexta-feira (14/11), durante o simpósio FAPESP Day Uruguay.
“Para avaliar a microbiota nós coletamos amostras de rúmen e de fezes, inicialmente de 52 animais criados para fins experimentais. Esse foi um diferencial do projeto. Até então os estudos publicados só haviam analisado amostras de rúmen, que são mais difíceis de coletar, pois o processo é invasivo. Nós mostramos que é possível fazer essa análise a partir das fezes”, contou Regitano, que coordena um Projeto Temático da FAPESP.
Como a proposta do grupo era usar esse tipo de análise para o melhoramento animal – selecionar bois que ganham peso mais facilmente e emitem menos metano – era preciso ampliar a escala de amostragem. “E por isso foi importante encontrar um meio mais simples de acessar a microbiota”, explicou a pesquisadora.
Até o momento, a nova técnica de avaliação a partir das fezes já foi empregada em 640 animais criados para fins comerciais. A partir de análises metabolômicas (do conjunto de metabólitos presentes nas fezes) e metagenômicas (sequenciamento de todo o RNA e DNA presente nas amostras, o que permite a identificação dos microrganismos), o grupo identificou uma série de marcadores que podem ser úteis para predizer se o animal, por exemplo, vai emitir mais ou menos metano ou se vai ganhar mais ou menos gordura (leia mais em: agencia.fapesp.br/39579).
Além disso, foram identificadas centenas de espécies de microrganismos até então desconhecidas.
“Em um trabalho que está prestes a ser publicado, fizemos um catálogo com todos os genes expressos nos microrganismos presentes no rúmen de nelore. Mostramos que o nível de expressão de cada gene muda o fenótipo do animal”, contou Regitano. “Nós identificamos enzimas associadas tanto à eficiência alimentar quanto à emissão de metano. Isso abre uma gama de possibilidades para a produção de bioprodutos.”
Entre essas possibilidades, contou a pesquisadora, está a manipulação da microbiota dos animais por meio da administração de prebióticos, ou seja, substâncias que alimentam os microrganismos do intestino. “Identificamos substratos, como o farelo de amendoim, que estimulam a produção da enzima que reduz a emissão de metano.”
Outra ideia seria clonar a sequência de DNA das enzimas-alvo e produzir as moléculas em laboratório, para dar como um suplemento ao animal ou para tratar o alimento. “Há ainda a perspectiva de expressar enzimas degradadoras de celulose encontradas na microbiota bovina, que podem ser úteis para a produção de etanol de segunda geração, por exemplo”, revelou.
No momento, o grupo investiga como a composição da microbiota afeta a reatividade do animal, ou seja, o torna mais ou menos agitado e nervoso. “Os microrganismos produzem neurotransmissores que atuam no sistema nervoso do bovino. Essa é a conexão mais óbvia, mas existem outros fatores indiretos que estamos investigando.”
A sessão científica sobre “Estratégias e políticas para a produção sustentável de proteína animal” também contou com a presença de Sérgio de Zen, da Universidade de São Paulo (USP); Fabio Montossi, do Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria (INIA); e de Federico Garcia, da Universidad de la República (UdelaR).
“Montossi tem interesse em estudar o efeito de diferentes pastagens na composição da microbiota e pode ser um potencial colaborador”, contou Regitano. “Também fiz contato com outros dois pesquisadores presentes no evento. Foi muito produtivo.”

Sérgio de Zen, Luciana Regitano, Federico Garcia e Fabio Montossi (foto: Karina Toledo/Agência FAPESP)
Mais informações em: fapesp.br/week/2025/uruguay.
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