Gramsci no século 21
03 de novembro de 2005

Pesquisadores discutem a importância e a atualidade da obra do teórico reunida nos Cadernos do cárcere, escritos no período em que esteve aprisionado pelo fascismo italiano

Gramsci no século 21

Pesquisadores discutem a importância e a atualidade da obra do teórico reunida nos Cadernos do cárcere, escritos no período em que esteve aprisionado pelo fascismo italiano

03 de novembro de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Quem era Antonio Gramsci? Do ponto de vista intelectual, segundo Carlos Nelson Coutinho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o teórico italiano (1891-1937) pode ser classificado como um filósofo da política, antes de um cientista social propriamente dito.

Coutinho é o organizador da edição completa dos Cadernos do cárcere, que estão sendo publicados no Brasil em uma edição em série, pela editora Civilização Brasileira – seis volumes já foram publicados. Uma das obras mais importantes da teoria política, os Cadernos foram escritos no período em que Gramsci foi mandado à prisão pelo fascismo, de 1925 a 1935. Por causa da censura, o conteúdo dos escritos fragmentados só seria conhecido pelo grande público após a morte do autor. Os livros saíram inicialmente na Itália, entre 1948 e 1951.

O conjunto sistemático das reflexões tornadas possíveis pelos Cadernos permite uma série de releituras fundamentais para ajudar na compreensão dos dias atuais. Abordagens que podem ser feitas desde a filosofia até a lingüística.

"É difícil você dizer, em filosofia ou em ciências sociais, que uma obra está ultrapassada. Claro que muitas são datadas, como a de Platão, por exemplo, mas sempre é possível uma outra leitura. Uma abordagem interessada da obra sempre nos permite pensar em problemas atuais", disse Renato Ortiz, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à Agência FAPESP. Ortiz e Coutinho participaram de debate durante o 29º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG), na sexta-feira (28/10).

Segundo Ortiz, uma dessas releituras pode ser feita sobre o pensamento político presente na obra gramsciana, para quem a política não se resumia apenas às esferas políticas propriamente ditas, ela estava em todos os lugares. Isso equivale às idéias mais modernas que afirmam, por exemplo, ser a mídia eletrônica um importante canal para a política.

Para Coutinho, Gramsci, antes de tudo, precisa ser encarado como um marxista, porque pensava sempre na totalidade social. Dentro desse contexto, conceitos como sociedade civil, uma das arenas mais importantes da luta de classes, ou a idéia de revolução passiva, além da teoria do folclore, que lança luz sobre a importância da cultura popular, também permitem várias outras entradas, bastante atualizadas, na obra do intelectual italiano.

Pela sua importância passada e presente, Gramsci recebeu um tratamento especial na reunião da Anpocs. "Sem dúvida, ele é um dos últimos autores marxistas ainda vivos do ponto de vista intelectual", aponta Coutinho. "Ele era aberto para ciências sociais particulares, apesar de ser sempre um crítico nada simpático da sociologia."

Gramsci, jornalista, escritor, editor, teórico e político, fundador do Partido Comunista italiano, em 1921, escreveu mais de 30 cadernos durante o período em que esteve preso. Esse legado contém a visão do autor da história e do nacionalismo da Itália e idéias como a importância da educação e do desenvolvimento de intelectuais por parte do proletariado.


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