A oxidação da glicerina acontece no fotoanodo de vanadato de bismuto (amarelo) enquanto o hidrogênio (bolhas) é gerado no outro eletrodo (imagem: divulgação/CINE)

Energia renovável
Glicerina substitui com vantagem a água na produção de hidrogênio verde, indica pesquisa
25 de junho de 2025

Segundo estudo liderado por pesquisadores do Centro de Inovação em Novas Energias, troca por subproduto abundante do biodiesel aumenta a eficiência de células fotoeletroquímicas, visto que a oxidação da água é um processo lento e pouco eficiente

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Glicerina substitui com vantagem a água na produção de hidrogênio verde, indica pesquisa

Segundo estudo liderado por pesquisadores do Centro de Inovação em Novas Energias, troca por subproduto abundante do biodiesel aumenta a eficiência de células fotoeletroquímicas, visto que a oxidação da água é um processo lento e pouco eficiente

25 de junho de 2025

A oxidação da glicerina acontece no fotoanodo de vanadato de bismuto (amarelo) enquanto o hidrogênio (bolhas) é gerado no outro eletrodo (imagem: divulgação/CINE)

 

Agência FAPESP* – Um estudo liderado por pesquisadores do Centro de Inovação em Novas Energias (CINE) demonstrou que a troca de água por glicerol – popularmente conhecido como glicerina – incrementa a eficiência de células fotoeletroquímicas, equipamentos que usam luz solar como fonte de energia limpa e renovável para gerar hidrogênio verde.

O CINE é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e pela Shell em 2018. O centro é sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com a participação de outras oito instituições brasileiras.

Nas células fotoeletroquímicas, a luz é absorvida no fotoanodo por materiais sensíveis e impulsiona uma série de reações de oxidação (perda de elétrons) e redução (ganho de elétrons) que, no final, dividem a molécula de água em moléculas de oxigênio e hidrogênio. Entretanto, a oxidação da água é um processo lento e pouco eficiente, razão pela qual grupos de pesquisa em todo o mundo buscam formas de superar essa limitação.

Uma delas consiste em substituir a água por outras moléculas que possam ser oxidadas com mais facilidade e que gerem correntes elétricas maiores, tornando mais eficiente a produção de hidrogênio. A ideia é usar moléculas orgânicas obtidas de fontes renováveis e sustentáveis, como os resíduos de biomassa.

“No processo de geração de hidrogênio é preciso de energia, que pode ser oriunda da rede elétrica, como na eletrólise clássica, ou de outras fontes, como a energia solar”, explica Elton Sitta, professor da UFSCar e pesquisador do CINE. “Em nosso trabalho estudamos moléculas orgânicas que, quando oxidadas, podem servir de fontes de elétrons e prótons para geração de hidrogênio”, diz Sitta, que liderou o estudo, publicado no periódico Electrochimica Acta.

Os autores fizeram experimentos para comparar a oxidação de moléculas de metanol, etileno glicol e glicerol em fotoanodos de vanadato de bismuto, material considerado promissor para esse tipo de aplicação por causa de sua boa absorção de luz, baixa toxicidade, baixo custo e estabilidade perante a umidade e a luz.

A equipe de pesquisa concluiu que o glicerol apresenta a melhor atividade na geração de elétrons para a produção de hidrogênio verde. Além disso, é uma substância amplamente disponível no Brasil por ser um subproduto da produção de biodiesel. Finalmente, a sua oxidação gera, além dos elétrons, algumas substâncias que podem ser usadas como matérias-primas em diversas indústrias.

“Para a produção em larga escala, há desafios tanto para a oxidação da água como para a de moléculas orgânicas como fonte de elétrons, mas as orgânicas têm se mostrado uma alternativa interessante para evitar a corrosão dos fotocatalisadores e a possibilidade de se obter outros produtos de valor agregado”, afirma Sitta.

Realizada na Unicamp e na UFSCar, a pesquisa contou com financiamento da FAPESP por meio de outros três projetos (13/07296-2, 23/02929-9 e 22/02300-0). Também é assinada por Cristian Hessel, Lauren Moreti, Victor Yoiti Yukuhiro e Pablo S. Fernández.

O artigo Methanol, ethylene glycol, and glycerol photoelectrochemical oxidation reactions on BiVO4: Zr,Mo/Pt thin films: A comparative study pode ser lido aqui: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0013468624015366?via%3Dihub.

* Com informações de Verónica Savignano, do CINE.

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