Pesquisadores seqüenciam o genoma de três parasitas que causam doenças importantes em países do terceiro mundo
(foto:Science)

Genoma em dose tripla
15 de julho de 2005

Em assunto de capa da Science grupos independentes, que contam com brasileiros, relatam o seqüenciamento dos genomas dos parasitas responsáveis pela doença de Chagas, doença do sono e leishmaniose

Genoma em dose tripla

Em assunto de capa da Science grupos independentes, que contam com brasileiros, relatam o seqüenciamento dos genomas dos parasitas responsáveis pela doença de Chagas, doença do sono e leishmaniose

15 de julho de 2005

Pesquisadores seqüenciam o genoma de três parasitas que causam doenças importantes em países do terceiro mundo
(foto:Science)

 

Agência FAPESP - O cerco está se fechando, apesar de o alvo exato ainda estar longe de ser encontrado. O trabalho paralelo de centenas de pesquisadores em várias partes do mundo, inclusive brasileiros, acaba de gerar informações genômicas essenciais para o futuro desenvolvimento de fármacos e até mesmo de vacinas contra doenças bastante conhecidas do terceiro mundo.

A revista Science que sai nesta sexta-feira (15/7) traz como assunto de capa as importantes conclusões dos seqüenciamentos dos genomas dos parasitas responsáveis pela doença de Chagas, pela doença do sono e pela leishmaniose. Os cientistas identificaram 6,2 mil genes comuns aos três parasitas, posicionados em ordem similar em cada um dos genomas.

São oito artigos sobre o assunto. Três sobre os genomas (Trypanosoma brucei, Trypanosoma cruzi e Leishmania major), outro que compara todos os seqüenciamentos, dois relatórios de pesquisa relacionados ao tema, o editorial e um artigo na sessão Perspective, assinado por Carlos Morel, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, e colegas.

Morel, ex-presidente da instituição fluminense, também dirigiu o programa especial para pesquisa e treinamento em doenças tropicais da Organização Mundial de Saúde (OMS). Para ele, países em desenvolvimento estão mostrando uma grande habilidade quando o assunto são inovações na área de saúde.

Pelos números apresentados pelo pesquisador, tais países investiram até hoje mais de US$ 2 bilhões em pesquisa na área. Em termos de produção (patente por produto interno bruto), nove países pobres estão na lista dos 25 mais produtivos: Índia, China, Brasil, África do Sul, Tailândia, Argentina, Malásia, México e Indonésia. Segundo Morel, apesar de todo esse avanço, é preciso que a comunidade global da área de saúde se envolva ainda mais com os sistemas de inovação.

"O seqüenciamento dos genomas dos três parasitos constitui, a meu ver, um belo exemplo do que a cooperação internacional pode conseguir na área de doenças negligenciadas", disse Morel à Agência FAPESP. Além da habilidade de caminhar no sentido da inovação, o cientista lembra da importância das redes de inovação em saúde, estabelecidas entre os pesquisadores envolvidos com as doenças tropicais: "Elas têm um papel fundamental".


Soluções à vista

A publicação dos três seqüenciamentos genômicos, defendem os autores, poderá ser útil não apenas para a pesquisa básica como para acelerar ainda mais as importantes inovações no campo da saúde em regiões como África, Ásia e América do Sul. Para Peter Myler, cientista do Instituto de Pesquisa Biomédica Seattle, dos Estados Unidos, agora que já foram mapeados os genes dos parasitas, é muito mais fácil identificar aqueles essenciais à sobrevivência desses organismos.

Não são apenas as semelhanças que poderão ajudar no desenvolvimento de vacinas e fármacos. As diferenças – e existem muitas entre os três patógenos – também serão decisivas. Os três protozoários são transmitidos por insetos diferentes, seus ciclos evolutivos têm características exclusivas e eles infectam diferentes tecidos. Além disso, a interação com o sistema imunológico também não é igual.

Com os genomas conhecidos – e algumas proteínas sintetizadas por eles também –, o caminho agora apresenta uma bifurcação. Alguns grupos deverão centrar esforços nas estruturas protéicas comuns aos três parasitas. Outros deverão se focar nas proteínas que só existem em determinados parasitas.

"Graças a esses estudos, os cientistas encontram-se agora muito mais próximos de poder desenvolver drogas eficientes contra essas doenças terríveis do que há cinco anos", afirmou Najib El-Sayed, pesquisador do Instituto de Pesquisa Genômica em Rockville, Estados Unidos, em comunicado da instituição.


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