Genes da conservação
13 de setembro de 2004

Em Santa Catarina, estudos genéticos estão ajudando a preservar o que resta da Mata Atlântica. Para Maurício dos Reis, da UFSC, aumentar a participação de geneticistas em projetos de conservação é uma necessidade imediata

Genes da conservação

Em Santa Catarina, estudos genéticos estão ajudando a preservar o que resta da Mata Atlântica. Para Maurício dos Reis, da UFSC, aumentar a participação de geneticistas em projetos de conservação é uma necessidade imediata

13 de setembro de 2004

 

Por Eduardo Geraque, de Florianópolis

Agência FAPESP - Expansão das fronteiras agrícolas e exploração ilegal de madeira. Não bastassem essas duas grandes ameaças para a Mata Atlântica, que existem desde que os portugueses desembarcaram pela primeira vez na costa da Bahia, uma nova pressão surgiu há cerca de 20 anos.

"Hoje em dia, a construção de hidroelétricas também está prejudicando a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica", contou o pesquisador Maurício Sedrez dos Reis, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), durante mesa-redonda realizada sexta-feira (10/9), último dia do 50º Congresso Brasileiro de Genética, em Florianópolis.

Com todo esse quadro contrário, espécies vegetais como a Mimosa catharinensis e a Araucária contam apenas com os ambientalistas e cientistas para tentar virar esse jogo. "Sem dúvida, a participação de dados genéticos em políticas de conservação deveria ser maior", acredita Reis. Um dos exemplos citados pelo cientista está relacionado com um local bastante próximo à praia do Santinho, palco do congresso na capital catarinense.

A M. catharinensis até hoje só foi encontrada em uma área de 680 metros quadrados, encravada no Parque Florestal do Rio Vermelho, no norte da Ilha de Santa Catarina. "Essa é uma área de conservação ambiental que nunca foi regulamentada pelo governo", explica Reis. O problema é ainda maior porque, segundo ele, essa propriedade estatal estaria na lista dos imóveis que podem ser vendidos pelo Governo do Estado para aumentar seus recursos financeiros.

"Pelo menos até agora, por causa também desse trabalho genético que mostrou a existência de um grupo único na região, conseguimos fazer com que a venda não fosse concretizada", explica o cientista da UFSC. O caso da mimosa é emblemático. Dos 7,5% da área original da Mata Atlântica que ainda está de pé, existem ambientes muito específicos dentro da floresta, que são fundamentais para a sobrevivência de vários grupos. "A lista oficial de espécies em extinção em Santa Catarina tem 107 itens. Mas, com certeza, quando se fizer uma revisão, esse número poderá se mostrar até dez vezes maior", acredita Reis.

No caso dos pinheiros de araucária, apenas 3% dos exemplares dessa espécie ainda sobrevivem em solo catarinense. Um grande levantamento genético dessa população está em curso para que novas estratégias possam ser montadas e, assim, fazer com que essas angiospermas continuem no cenário sulino. "A carência de informações ainda é bastante grande, infelizmente", disse Reis.


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