O halo formado ao redor do He-6 não aumenta a possibilidade de fusão nuclear como os cientistas imaginavam (foto: divulgação)
Estudo publicado na revista Nature por física da USP com colegas de outros países mostra que os grandes núcleos de hélio, ao contrário do que se imaginava há duas décadas, não aceleram os processos de fusão nuclear
Estudo publicado na revista Nature por física da USP com colegas de outros países mostra que os grandes núcleos de hélio, ao contrário do que se imaginava há duas décadas, não aceleram os processos de fusão nuclear
O halo formado ao redor do He-6 não aumenta a possibilidade de fusão nuclear como os cientistas imaginavam (foto: divulgação)
Agência FAPESP - Há cerca de 20 anos foi descoberta a existência do He-6. Esse átomo de hélio, com quatro nêutrons e dois prótons, tinha um tamanho maior do que os núcleos conhecidos até o momento, o que levou os cientistas da época a imaginarem que, com esses elementos, o processo de fusão nuclear poderia ser acelerado.
"Mas essas partículas especiais são, na realidade, frágeis demais e se quebram antes de fundirem com outro núcleo", explicou Alinka Lépine-Szily, professora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP. A cientista é uma das autoras de um estudo que procurou medir se os átomos do He-6 aceleravam ou não a fusão. A pesquisa foi liderada por Ricardo Raabe, da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, e conta ainda com cientistas da França, Itália e Polônia. Os resultados estão sendo publicados na edição desta quinta-feira (14/10) da revista Nature.
Os pesquisadores realizaram uma série de experimentos no Centro de Pesquisas do Cíclotron, em Louvain-la-Neuve, na Bélgica. Na prática, o que se fez foi queimar átomos de He-6. Nenhuma fusão extra foi detectada. O que se observou foi que os átomos de urânio usados na reação é que receberam dois nêutrons dos núcleos de hélio.
Alinka explica que a natureza extremamente delicada de tais núcleos havia tornado difícil uma resposta clara a essa questão. Foi apenas agora, com o estudo do qual participou, que se conseguiu descobrir que o átomo de hélio superpesado não aumenta a possibilidade de que uma fusão nuclear ocorra. "Levou muitos anos até se chegar ao avanço técnico para medir esse processo em laboratório", disse.
O núcleo normal de hélio é formado por dois prótons (cargas positivas) e dois nêutrons (com a mesma massa dos prótons, mas sem carga). Os núcleos mais pesados, descobertos há 20 anos, apresentam uma espécie de halo, por causa dos dois nêutrons adicionais a eles incorporados.
"Pensava-se que a fusão nuclear poderia ser maior exatamente por causa desse halo e isso teria grandes implicações para a nucleossíntese primordial ou mesmo para o estudo de estrelas", explica Alinka. Segundo ela, a produção de energia por fusão também poderia ter alguma influência. "Imaginava-se que a chance de se fundir pudesse aumentar, não que fosse ocorrer um ganho de energia."
A fusão nuclear é o mecanismo que une minúsculos núcleos do centro dos átomos para formar outros mais pesados. "Esse é o processo, por exemplo, que faz queimar o Sol e é importante também para a produção de novos elementos químicos ou para o desenvolvimento de novas fontes de energia para o futuro", conta a professora da USP.
A fusão, que ocorre em condições sempre muito particulares na natureza, ainda continuará provocando a imaginação dos cientistas, mas é certo afirmar, ao menos por enquanto, que "não existe aumento de chances de ele ocorrer devido simplesmente à presença do halo no He-6", afirma Alinka.
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