Júlio Cesar Bicca-Marques, da PUC-RS, fala sobre nova forma de pesquisa com animais, em que espécies são observadas em campo, mas parcialmente controladas por meio de plataformas de alimentos (foto: J.C.Bicca-Marques)
Júlio Cesar Bicca-Marques, da PUC-RS, fala sobre nova forma de pesquisa com animais, em que espécies são observadas em campo, mas parcialmente controladas por meio de plataformas de alimentos
Júlio Cesar Bicca-Marques, da PUC-RS, fala sobre nova forma de pesquisa com animais, em que espécies são observadas em campo, mas parcialmente controladas por meio de plataformas de alimentos
Júlio Cesar Bicca-Marques, da PUC-RS, fala sobre nova forma de pesquisa com animais, em que espécies são observadas em campo, mas parcialmente controladas por meio de plataformas de alimentos (foto: J.C.Bicca-Marques)
Agência FAPESP – Júlio César Bicca-Marques, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), fez estudos experimentais de campo com quatro grupos de primatas de espécies diferentes, no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre.
A experiência e os resultados foram apresentados nesta segunda-feira (23/7), durante a palestra "Ecologia cognitiva e forrageio social em primatas neotropicais", no 12º Congresso Brasileiro de Primatologia, realizado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), em Belo Horizonte.
Bicca-Marques considera importante não apenas o resultado, mas o formato utilizado, segundo ele uma novidade na pesquisa com primatas. Há dez anos, os estudos eram feitos apenas de duas formas. Com os animais em cativeiro, solitários ou em pares, mas altamente controlados, ou no campo, com os grupos em ambientes sociais, porém, sem nenhum controle.
Na nova modalidade, "os animais são observados em campo, mas parcialmente controlados na medida em que são montadas plataformas de alimentos", disse. O pesquisador esclarece que esse tipo de experimento vem para agregar mais informações aos estudos tradicionais e que os três são importantes.
A teoria do forrageio social identifica como os membros do grupo usam as informações ecológicas e sociais para ter sucesso na busca de comida. "O grupo social abriga três tipos de indivíduos: os batedores, que procuram e acham o alimento a partir de informações ecológicas; os usurpadores, que monitoram os outros indivíduos para descobrir a comida, ou seja, se alimentam a partir de informações sociais; e os oportunistas, um misto dos outros dois", explicou Bicca-Marques.
A experiência envolveu grupos de macacos-bigodeiros (Saguinus imperator imperator), soins (Saguinus fuscicollis weddelli), sauás (Callicebus cupreus cupreus) e macacos-da-noite (Aotus nigriceps).
O pesquisador analisou o comportamento dos animais enquanto grupo e como indivíduos, observando o uso das habilidades cognitivas (tato, visão, olfato, audição e informações espaciais) quando estavam nas áreas de alimentação.
Para o sucesso do experimento, alguns ingredientes são indispensáveis, segundo Bicca-Marques: uma boa área de estudos, armadilhas bem pensadas, plataformas de alimentação, iscas com bananas verdadeiras e falsas e dentro de saquinhos de tela metálica, folhas falsas, macacos famintos, paciência e muita sorte, "porque às vezes os animais simplesmente não aparecem", disse. O aparato permite oferecer alimentos verdadeiros e falsos em diversas situações e serve para mostrar quando os macacos estão usando os sentidos e as informações espaciais na busca de comida.
Os resultados foram praticamente os mesmos nos quatro grupos. Os batedores levam vantagem quando há pouca quantidade de comida, mas na fartura batedores e usurpadores se dão bem. Nas estações de alimentação as fêmeas têm características de batedores e usam mais a visão. Foi observado ainda que, nos experimentos visuais, os macacos-da-noite demoravam mais para agir. Nos olfativos, foram os mais rápidos.
Segundo Bicca-Marques, ainda há muito o que acrescentar nessa modalidade de experimento. No estudo, ele tentou uma dica associativa, colocando blocos brancos nas plataformas com alimento. Nenhum macaco percebeu. Para ver se despertava a atenção, colocou blocos bem maiores e amarelos. Os macacos até se escoravam neles, mas não faziam nenhuma associação, com exceção de uma fêmea jovem bigodeira que apresentou performance que o grupo não teve.
"Esse tipo de experimento tem a vantagem de provar do que os primatas são capazes. Entretanto, é impossível falar sobre o que não são capazes, porque há várias interferências e condições", destacou.
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