Baudouin Jurdant, Carlos Vogt e Pierre Fayard (esq.p/dir.) discutem desafios da divulgação científica na sociedade do conhecimento (foto: Fernando Cunha)
Baudouin Jurdant (Universidade de Paris 7), Carlos Vogt (FAPESP) e Pierre Fayard (CenDoTec) debatem, em seminário em São Paulo, desafios da divulgação científica na sociedade do conhecimento
Baudouin Jurdant (Universidade de Paris 7), Carlos Vogt (FAPESP) e Pierre Fayard (CenDoTec) debatem, em seminário em São Paulo, desafios da divulgação científica na sociedade do conhecimento
Baudouin Jurdant, Carlos Vogt e Pierre Fayard (esq.p/dir.) discutem desafios da divulgação científica na sociedade do conhecimento (foto: Fernando Cunha)
Agência FAPESP - Quando se fala em divulgação científica, é comum pensar em formas de transmitir conhecimento para o público leigo, democratizando o saber. Mas ela é bem mais do que isso, como aponta Baudouin Jurdant, professor da Universidade de Paris 7, na França.
"A divulgação é uma etapa da própria produção científica", disse em conferência no seminário 'Estratégias para a divulgação científica na sociedade do conhecimento', nesta quinta-feira (19/10), em São Paulo. O evento, promovido pelo Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica (CenDoTec) e pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, inclui o lançamento do livro Cultura científica: Desafios (Edusp/FAPESP), com contribuições de pesquisadores franceses e brasileiros.
Jurdant defende que o pesquisador faça a divulgação para compreender melhor o que faz, adquirindo condições de inserir seu trabalho em uma integração sociocultural das ciências. "A divulgação científica não é um tipo de degradação da ciência. Ela participa da construção da objetividade científica", disse.
O professor francês também destacou a necessidade de se evitar a comum postura "didática" da divulgação científica. "Aprender ciência por meio dos veículos de comunicação é um itinerário inconcebível. Ninguém se torna físico lendo uma revista de física, por mais bem feita que seja", disse.
"A difusão se faz com palavras, não se adquire o status de cientista simplesmente aprendendo a língua científica. Se há conhecimento, que é transmitido pela divulgação, trata-se de um conhecimento de cultura", afirmou Jurdant.
Divulgação e conhecimento
"Sobre a questão das estratégias de divulgação, valeria a pena perguntar qual a relação entre divulgação científica e o que está englobado pelo conceito de cultura científica", disse Carlos Vogt, presidente da FAPESP, participante de outra conferência no evento, juntamente com o diretor-geral do CenDoTec, Pierre Fayard. Para ele, a cultura científica estaria relacionada com a sociedade do conhecimento, que caracteriza um modo de organização.
"Nessa nova sociedade, entramos em uma situação em que as diferenças entre o mundo e sua representação se tornam tênues. A questão da relação entre natureza e cultura é redesenhada. Estudos como os de Lévi-Strauss dão conta das constantes universais entre as diferentes manifestações culturais que podem mostrar o quanto a expressão do conhecimento decorre da estrutura da mente humana", disse Vogt, que também é presidente do CenDoTec.
Fayard destacou a evolução da transmissão de informações científicas na sociedade do conhecimento. "Antes dos anos 70, o modelo empregado era conhecido como ‘difusão científica’. Depois, veio o movimento da ‘ação cultural científica’, em que, no lugar de difundir o conhecimento, o foco eram as perguntas dos não-especialistas, da vida cotidiana", disse.
"Mas, quando se fala em sociedade do conhecimento, a dúvida maior é como pensar em uma comunidade que inclui ao mesmo tempo cientistas e não-cientistas. O mais importante, nesse caso, não é tanto o conteúdo científico, mas o poder da pergunta. Em vez da difusão, é preciso buscar um diálogo criativo. A sociedade do conhecimento é uma sociedade na qual o conhecimento se cria a partir do interesse, da necessidade, da pergunta", afirmou Fayard.
Segundo Vogt, é fundamental, ao se falar em estratégias de divulgação científica, levar em conta as mudanças nos padrões de consciência, que criam "indagações sobre nossos destinos e papéis no mundo".
"Quais são os limites do conhecimento? São internos ao próprio conhecimento, ou são de ordem ética? Divulgação científica não é suprir o déficit de conhecimento, mas formar espíritos críticos", disse Vogt.
O segundo e último dia do seminário "Estratégias para a divulgação científica na sociedade do conhecimento", nesta sexta-feira (20/10), contará com palestras de Ernst Hamburger (Instituto de Física da Universidade de São Paulo), Débora Garcia (Canal Futura) e Yurij Castelfranchi (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas).
Local: Auditório da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootécnica da USP - Av. Orlando Marques de Paiva, 87 - Cidade Universitária - São Paulo
Mais informações: www.fumvet.com.br
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