Alunos em rodadas de negociação (foto: Movimento Ciência e Vozes da Amazônia COP30/divulgação)
Iniciativa promovida pelo British Council, Unifesp e UFPA busca envolver comunidade em ciência participativa
Iniciativa promovida pelo British Council, Unifesp e UFPA busca envolver comunidade em ciência participativa
Alunos em rodadas de negociação (foto: Movimento Ciência e Vozes da Amazônia COP30/divulgação)
Luciana Constantino, de Belém | Agência FAPESP – Para incentivar a participação da juventude nas discussões da COP30, pesquisadores brasileiros e do Reino Unido promoveram a formação de novas lideranças entre estudantes do ensino médio do Pará. Cerca de cem alunos de escolas públicas participaram de um simulado das negociações, experimentando na prática como se estruturam os debates e acordos da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, iniciada ontem (10/11), em Belém.
A iniciativa é parte do Programa Escolas Conectadas, do British Council, e foi desenvolvida em parceria com a Escola Azul, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e com o Movimento Ciência e Vozes da Amazônia COP30, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Os estudantes foram divididos em grupos para representar países, blocos (incluindo a União Europeia), outras nações desenvolvidas e as em desenvolvimento (com a participação do Brasil), o Sul Global, lobistas, ativistas e jornalistas.
Os grupos receberam seus papéis nas discussões e participaram de palestras com os pesquisadores das universidades para entender questões climáticas e ambientais, entre elas impactos do aquecimento global em cenários com elevação da temperatura em relação ao período pré-industrial (1850-1900) entre 1,5 °C e 2 °C.
“A primeira COP na Amazônia é uma oportunidade única para envolvermos as futuras gerações responsáveis por decidir as conferências que virão. Reunimos estudantes de escolas públicas da região, que vivem essa realidade, buscando formar futuros negociadores. Os impactos climáticos vão continuar crescendo. Precisamos de pessoas que saibam negociar”, afirma o biólogo Ronaldo Christofoletti, pesquisador do Instituto do Mar da Unifesp e coordenador do Programa Maré de Ciência, resultado de um projeto apoiado pela FAPESP na modalidade Pesquisa em Políticas Públicas.
O projeto liderado por Christofoletti utilizou uma abordagem integrada entre ciência e mobilização da sociedade, na perspectiva da ciência cidadã, com o objetivo de desenvolver metodologias e ações e promover capacitações voltadas à conservação marinha (leia mais em: agencia.fapesp.br/36745).
Como reduzir emissões e riscos num cenário overshoot
No início de novembro, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), ao publicar o Relatório de Lacunas para as Emissões (EGR, na sigla em inglês para Emissions Gap Report), afirmou, pela primeira vez, que a ultrapassagem do limite de aumento de temperatura de 1,5 °C, estabelecido no Acordo de Paris (em 2015), não pode mais ser evitada. Alertou que nas próximas décadas o planeta viverá o cenário conhecido como overshoot – um mundo mais quente pelo menos temporariamente, exigindo reduções de emissões de gases de efeito estufa adicionais e mais rápidas para minimizar o excesso e diminuir os danos a vidas e economias.
Esse teto de 1,5 °C foi definido após uma série de estudos científicos mostrarem que representava um limite seguro para evitar efeitos mais intensos das mudanças climáticas, como colapso de ecossistemas, aumento extremo do nível do mar e impactos graves à saúde humana. Atualmente, o mundo já vive sob o impacto de eventos mais frequentes e extremos, como as enchentes que devastaram municípios do Rio Grande do Sul em maio de 2024.
O levantamento apontou ainda que as emissões de gases de efeito estufa globais bateram novo recorde. Chegaram a 57,7 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) em 2024, um aumento de 2,3% em relação aos níveis de 2023. O aumento é maior do que o verificado entre 2022 e 2023, de 1,6%.
Parâmetros da negociação
Depois de aprenderem bases teóricas, os estudantes receberam os objetivos de negociação que teriam no simulado, baseados em cinco parâmetros – ano de pico de emissão de gases de efeito estufa; início da redução das emissões; qual a taxa anual de queda desses índices; a porcentagem de reflorestamento e o esforço para combater o desmatamento.
Foram usados métodos científicos com parâmetros internacionais para calcular a curva do aquecimento global de cada grupo dos “negociadores mirins”, buscando uma meta para conter o aquecimento entre 1,5 °C e 2 °C. Por fim, discutiram quanto cada bloco deveria colocar em um fundo para financiamento climático. As mesas de negociação levaram 50 minutos, com a realização de rodadas conjuntas na sequência.
Aluno do terceiro ano do ensino médio de uma escola em Belém, Rubens Uchoa, 16 anos, disse ter sido uma oportunidade única participar do simulado. “O momento é muito importante. Já discutimos esse tema na nossa escola, porém nesse formato de simulado da COP é algo inédito. É muito legal entender como isso tudo funciona”, disse Uchoa, por meio da assessoria da UFPA.

"Os estudantes que participaram do simulado relataram como agora possuem uma visão mais clara sobre o funcionamento e os desafios da COP", diz Ronaldo Christofoletti, pesquisador do Instituto do Mar da Unifesp e coordenador do Programa Maré de Ciência (foto: Movimento Ciência e Vozes da Amazônia COP30/divulgação)
Para Christofoletti, outro destaque da iniciativa é a capacitação de professores, um dos objetivos do Maré de Ciência, que busca promover a difusão científica e o engajamento para fortalecer a interface entre ciência, políticas públicas e sociedade. Trabalha no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, alinhados às metas da Década do Oceano da ONU.
“Contamos com 12 professores dessas escolas públicas, que também discutiram como incorporar práticas desse tipo em suas aulas e atividades”, completou Christofoletti à Agência FAPESP. O professor também recebe apoio da FAPESP por meio do Programa BIOTA, no projeto “Do local ao global: processos transdisciplinares para transformação de conflitos na zona costeira”.
“A transformação de conflitos, incluindo os climáticos, depende de negociação, diálogo e ações colaborativas. Os estudantes que participaram do simulado relataram como agora possuem uma visão mais clara sobre o funcionamento e os desafios da COP, e todos nós, professores e pesquisadores, também aprendemos novas estratégias educacionais. Certamente esta ação deixará um legado educacional para a região, que agora vamos expandir com outras experiências pela Rede Escola Azul”, completou Christofoletti.
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