O telescópio Blanco, no Chile, será usado para o projeto internacional que tenta desvendar a natureza da energia escura, envolvendo pesquisadores brasileiros. Sistema terá dados de 300 milhões de galáxias

Força desconhecida
16 de março de 2007

Cinco instituições de pesquisa brasileiras iniciam, na segunda-feira (19/3), participação em projeto internacional que tenta desvendar a natureza da energia escura – um dos principais desafios atuais na cosmologia. Sistema terá dados de 300 milhões de galáxias

Força desconhecida

Cinco instituições de pesquisa brasileiras iniciam, na segunda-feira (19/3), participação em projeto internacional que tenta desvendar a natureza da energia escura – um dos principais desafios atuais na cosmologia. Sistema terá dados de 300 milhões de galáxias

16 de março de 2007

O telescópio Blanco, no Chile, será usado para o projeto internacional que tenta desvendar a natureza da energia escura, envolvendo pesquisadores brasileiros. Sistema terá dados de 300 milhões de galáxias

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Cerca de 70% de tudo o que existe é energia escura. A observação revela a existência desse componente, que exerce uma pressão negativa – como se fosse uma força oposta à gravidade – fazendo com que a expansão do Universo se acelere. Mas a ciência ainda não sabe o que ela é, do que é feita, nem quais são seus mecanismos.

Nesta segunda-feira (19/3), pesquisadores de cinco instituições brasileiras iniciam participação no projeto internacional Dark Energy Survey (DES), que pretende estudar a natureza da energia escura – um dos principais desafios atuais na física e na cosmologia.

O grupo, denominado DES-Brazil, reúne-se pela primeira vez no Rio de Janeiro, na sede do Observatório Nacional (ON), instituição ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). A reunião de dois dias terá como objetivo divulgar a participação nacional, informar a comunidade científica sobre o projeto de forma organizada e dividir as responsabilidades entre os membros brasileiros do consórcio.

Além do ON, participam do grupo pesquisadores e técnicos do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e dos institutos de física das universidades federais do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.

De acordo com Luiz Nicolaci da Costa, pesquisador do ON e coordenador do DES-Brazil, a criação de modelos que permitam explicar conceitualmente a energia escura depende de um bom conhecimento da variação temporal da taxa de expansão do universo, o que exige observação de propriedades de objetos a distâncias muito grandes.

"Por isso, o DES, quando estiver operando, fornecerá uma quantidade de dados muito grande, da ordem de 1 terabyte por dia. Hoje, conhecemos algumas centenas de milhares de galáxias. Com o projeto, teremos dados de 300 milhões de galáxias, 20 mil aglomerados massivos de galáxias, duas mil supernovas e uma infinidade de outros objetos", disse Costa à Agência FAPESP. O objetivo dos pesquisadores é desenvolver a partir de agora as ferramentas que serão necessárias para o início das observações, previsto para setembro de 2010.

Liderado pelo Centro Nacional para Aplicações em Supercomputação (NCSA) e pelo Fermilab, nos Estados Unidos, o projeto incluirá pesquisadores de 15 instituições, entre norte-americanas, britânicas, espanholas, chilenas e brasileiras. As observações serão feitas no telescópio Blanco, de 4 metros, em Cerro Tololo, no Chile, e o investimento total do projeto é de US$ 30 milhões.


Formação de recursos humanos

"Cada parceiro entrará com sua competência. Nós estamos desenvolvendo o Astrosoft, um software para gerenciar todos os dados gerados pelo projeto. Trata-se de um sistema integrado cuja função será supervisionar o processo de ponta a ponta, incluindo observação, análise e distribuição do imenso volume de dados", explicou Costa.

Além da participação de dez técnicos e oito pesquisadores no sistema de gerenciamento, o Brasil contribuirá também com aporte financeiro por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (MCT) e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Segundo Costa, o maior ganho para o país, ao lado do acesso a dados de grande relevância, será a formação de recursos humanos especializados. "Queremos atrair pesquisadores de universidades brasileiras para que executem projetos de pesquisa na área de tecnologia da informação e possam contribuir para a disseminação do conhecimento gerado", disse.

O DES tem como meta mapear uma área de céu de 5 mil graus quadrados em quatro diferentes bandas que vão do óptico ao infravermelho. Para isso, os participantes estão construindo uma câmera grande angular constituída de um mosaico de 62 CCDs de alta resolução, a ser instalada no telescópio Blanco.

"Parte do investimento está sendo direcionado a melhoramentos no telescópio. Como estamos participando da construção e instalação da câmera, receberemos, em troca, 500 noites de observação durante o período do projeto", afirmou Costa. O imenso acervo de dados será armazenado virtualmente e poderá ser consultado pela comunidade brasileira, de acordo o pesquisador do ON.


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