Inconsistência de métodos usados para controlar os hormônios sexuais fazem com que haja os resultados mais diversos e, por consequência, inconclusivos, diz pesquisadora (imagem: Rawpixel.com/Freepik)

Imunologia
Flutuação hormonal afeta imunidade de mulheres, mas exercício físico pode mitigar o efeito
28 de novembro de 2025

Foi o que apontou artigo de revisão publicado por pesquisadores da Unesp; segundo os autores, porém, ainda não há consenso sobre os reais impactos do ciclo menstrual, da perimenopausa e da menopausa porque parte dos estudos adota metodologia inadequada

Imunologia
Flutuação hormonal afeta imunidade de mulheres, mas exercício físico pode mitigar o efeito

Foi o que apontou artigo de revisão publicado por pesquisadores da Unesp; segundo os autores, porém, ainda não há consenso sobre os reais impactos do ciclo menstrual, da perimenopausa e da menopausa porque parte dos estudos adota metodologia inadequada

28 de novembro de 2025

Inconsistência de métodos usados para controlar os hormônios sexuais fazem com que haja os resultados mais diversos e, por consequência, inconclusivos, diz pesquisadora (imagem: Rawpixel.com/Freepik)

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – As oscilações hormonais ao longo da vida das mulheres são um dos fatores que mais influenciam o sistema imunológico. Como em uma gangorra, a variação de estrogênio e progesterona incidem em nível celular, alterando o perfil imunológico e inflamatório. É nos dias que antecedem o período menstrual (fase lútea), por exemplo, que a atividade inflamatória é mais intensa. Na menopausa, a queda dos hormônios sexuais promove um estado pró-inflamatório.

Apesar do entendimento sobre a relação entre oscilações hormonais e sistema imunológico ter avançado, ainda não há consenso entre os cientistas sobre os reais impactos do ciclo menstrual, da perimenopausa e da menopausa na imunidade das mulheres. E o motivo para isso é banal: a falta de caracterização adequada do ciclo menstrual em uma parte dos estudos sobre o tema.

Foi o que demonstrou um trabalho de revisão realizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente, apoiado pela FAPESP. Ao revisar os principais estudos pulicados sobre o tema, os pesquisadores constataram que muitos deles ainda se baseiam em métodos simplificados, como o uso de aplicativos de celular, para definir em que fase do ciclo menstrual a mulher se encontra.

“De acordo com a principal diretriz internacional, métodos simplificados apenas nos informam se a pessoa está em período menstrual ou não, e isso não é suficiente para fazer estudos científicos. É preciso utilizar uma combinação de métodos para identificar se ela está na fase folicular, ovulatória ou lútea, pois em cada uma dessas etapas ocorrem variações da progesterona e do estrogênio, hormônios que têm implicações distintas para o sistema imunológico”, explica Barbara de Moura Antunes, pesquisadora que conduziu o estudo.

Antunes explica que essa lacuna metodológica tem gerado resultados contraditórios nas pesquisas sobre o tema. “A inconsistência e a diferença dos métodos utilizados para controlar os hormônios sexuais fazem com que tenhamos os resultados mais diversos e, por consequência, inconclusivos. E isso não preenche lacunas do conhecimento, apenas gera mais confusão e desinformação”, conta.

Para a pesquisadora, a falta de consenso e de rigor nas pesquisas vem de um problema anterior: a falta de inserção de aspectos da mulher nos estudos científicos. “Por muitos anos se preconizou que tanto ensaios clínicos quanto estudos de experimentação animal fossem realizados apenas com homens ou animais machos. Mas acontece que o corpo feminino vive em constante flutuação hormonal, diferentemente do masculino, que mantém níveis mais estáveis ao longo da vida. Ignorar essa dinâmica compromete a compreensão da saúde da mulher”, afirma.

O estudo de revisão publicado na revista Maturitas abre uma nova linha de pesquisa que pretende investigar de modo mais aprofundado essa relação e o impacto do exercício físico nesses diferentes cenários ao longo da vida da mulher.

A equipe responsável pelo artigo agora se prepara para uma nova etapa: a realização de um estudo original com mulheres brasileiras que promete preencher essas lacunas. “O nível de atividade física ou o condicionamento físico, associado com as flutuações hormonais, impacta na resposta inflamatória? Existe um tipo ideal de exercício físico quando falamos de imunidade? As variáveis do treinamento deveriam ser ajustadas ao longo do tempo? Qual o impacto dessa oscilação hormonal na mulher sedentária, ativa e treinada? Tudo isso pretendemos investigar no intuito de ampliar a compreensão sobre a saúde de metade da população", conta a pesquisadora para a Agência FAPESP.

A pesquisa será dividida em duas fases. A primeira vai analisar mulheres em idade reprodutiva (entre 18 e 35 anos), classificadas por níveis de aptidão cardiorrespiratória. O intuito será investigar como as diferentes fases do ciclo menstrual modulam a resposta inflamatória. Já a segunda fase incluirá mulheres na pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa, também divididas por níveis de condicionamento físico, para avaliar os efeitos do declínio hormonal.

Antunes explica que até agora o que se sabe nessa área é que, durante a vida reprodutiva da mulher, os níveis de estradiol (um tipo específico de estrogênio) e progesterona oscilam ao longo do ciclo menstrual, influenciando diretamente o sistema imunológico. Essas flutuações hormonais afetam células imunes, como monócitos e linfócitos, que possuem receptores para hormônios sexuais e, consequentemente, respondem a esse estímulo produzindo citocinas – proteínas sinalizadoras que regulam a inflamação.

Ela conta que da menstruação até a ovulação (final da fase folicular), o estrogênio está em alta e a progesterona em baixa, favorecendo uma resposta anti-inflamatória e melhor desempenho físico e cognitivo. Já na fase lútea, que antecede a menstruação, o cenário se inverte: o estrogênio cai e a progesterona sobe, tornando o organismo mais suscetível à inflamação, ao cansaço, com maior percepção de fadiga e possível atraso na recuperação muscular.

Os estudos conduzidos pelo grupo mostram que na fase folicular há maior presença de marcadores anti-inflamatórios e protetivos à saúde (como IL-1ra e HDL-c), enquanto na fase lútea predominam marcadores pró-inflamatórios (como TNF-α e IL-6).

“Com o envelhecimento, especialmente na menopausa, ocorre um declínio acentuado do estradiol, o que está associado a diversos problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, perda de massa muscular [sarcopenia], osteoporose e alterações no metabolismo lipídico."

Os estudos analisados mostraram ainda que o exercício físico, mesmo não revertendo a queda do estradiol, atua como uma ferramenta poderosa para prevenir e tratar os efeitos negativos do envelhecimento. “Ele melhora a produção de citocinas anti-inflamatórias, fortalece músculos e ossos e ajuda a manter a saúde geral da mulher em todas as fases da vida."

O artigo Immunometabolic insights into women's health across all ages pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0378512225005274.
 

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