Flagrantes do futuro
14 de abril de 2008

Com base em avanços tecnológicos recentes, João Antônio Zuffo, coordenador e fundador do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP, lança livro com projeções até 2038, seguindo os limites naturais da ciência, em áreas como inteligência artificial, educação e TV digital

Flagrantes do futuro

Com base em avanços tecnológicos recentes, João Antônio Zuffo, coordenador e fundador do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP, lança livro com projeções até 2038, seguindo os limites naturais da ciência, em áreas como inteligência artificial, educação e TV digital

14 de abril de 2008

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Não se trata apenas de um livro de ficção científica, mas de uma obra de divulgação científica com foco na evolução tecnológica atual e nas conseqüências socioeconômicas que muitas das novas descobertas podem trazer em um horizonte de 30 anos.

Essa é a proposta de Flagrantes da Vida no Futuro, escrito por João Antônio Zuffo, um dos fundadores, no início da década de 1970, do Laboratório de Microeletrônica da Universidade de São Paulo (USP) e hoje coordenador geral do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da mesma instituição, do qual também foi o fundador em 1976.

Recheado de reflexões do autor sobre temas diversos, que são relatadas em 70 crônicas, o livro tem como pano de fundo novas linhas de pesquisas e situações com as quais cientistas de todo o mundo se defrontam atualmente, em especial no contexto da chamada Era da Informação, ou Infoera.

As crônicas são divididas por temas como inteligência artificial, economia, política, religião, sociedade, educação e profissões. Zuffo ressalta que alguns dos avanços podem não se confirmar até 2038, mas todos têm chances de se tornar realidade, uma vez que não haveria impedimentos científicos para isso.

"De acordo com os avanços das tecnologias atuais, não há nenhuma impossibilidade teórica para os eventos descritos no livro ocorrerem", disse ele à Agência FAPESP.

"O estudo dessas projeções futuras é algo constante no LSI para que as novas linhas de pesquisa possam ser definidas, principalmente nas áreas de microeletrônica, permitindo que possamos minimizar os erros. Mas sempre fazemos essa extrapolação dentro dos limites naturais da ciência e das possibilidades científicas atuais", explicou.

A obra aponta que, em um futuro não tão distante, dentro de aproximadamente três décadas, países emergentes como Brasil, Rússia, Índia e China não terão grandes problemas em áreas como a inclusão digital da população, devido ao forte papel que suas economias terão no cenário mundial.

"O grande mérito do professor Nicholas Negroponte, do MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts], não foi construir o lap top de US$ 100, mas quebrar o paradigma de preço, que antes era dez vezes maior. Isso permitirá o acesso de milhões de pessoas à internet", afirma o também professor titular do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da USP.


Próximo da inclusão

No caso brasileiro, Zuffo vai além: a inclusão digital de toda a população deverá ocorrer na década de 2010 para que, por volta de 2038, quando a população do país estiver estabilizada em cerca de 220 milhões de habitantes, o analfabetismo possa estar totalmente erradicado.

"A educação no futuro será cada vez mais feita a distância e auxiliada por sistemas de microinformática e realidade virtual, de maneira que os professores, desde o nível primário, possam exercer uma função mais de orientadores e as crianças acabem tendo uma educação quase que puramente baseada na evolução natural de seus conhecimentos", sugeriu.

Para Zuffo, a automatização de rodovias também é uma questão de tempo, levando em conta os sistemas de transporte inteligente e as padronizações tecnológicas para a melhoria do fluxo de veículos que hoje estão sendo desenvolvidas em vários países. "Isso inclui os carros que, programados previamente, chegariam sozinhos aos seus destinos", disse.

O autor também considera de maneira otimista a evolução das nanotecnologias nas próximas décadas, quando será possível comandar bilhões de microrrobôs para executar desde tarefas relacionadas à limpeza e à higiene até operações cirúrgicas mais complexas.

"Sem dúvida, em 30 anos, a construção de nanomáquinas será uma realidade. Mas ainda tenho dúvidas se existirão softwares suficientemente sofisticados para comandá-las de maneira sincronizada", ponderou.

A televisão tridimensional, com altíssima resolução e visão holográfica de 360°, para Zuffo também é algo que deverá estar no mercado nos próximos dez anos. "Em alguns congressos no exterior estão sendo apresentados os primeiros modelos experimentais desse tipo de TV, cuja imagem tridimensional pode ser observada sem óculos. Esse é um exemplo de evolução natural de uma tecnologia que já está sendo estudada", explicou.

"Isso me leva a crer que as tecnologias de HDTV atualmente utilizadas para a TV digital deverão, dentro de cerca de cinco anos, ser substituídas por novos sistemas mais avançados. O formato atual de TV digital talvez não terá tempo de ocupar todo o mercado brasileiro, essa é a minha opinião pessoal", disse o professor.

  • Livro: Flagrantes da Vida no Futuro
  • Editora: Saraiva
  • Páginas: 232
  • Preço: R$ 29,90
  • Mais informações: www.editorasaraiva.com.br


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