Feridas abertas
31 de outubro de 2005

Para o sociólogo Brasílio Sallum Jr., da USP, a crise política vivida pelo Brasil, que tem raízes estruturais, deverá fazer com que a campanha eleitoral de 2006 seja uma das mais agressivas da história

Feridas abertas

Para o sociólogo Brasílio Sallum Jr., da USP, a crise política vivida pelo Brasil, que tem raízes estruturais, deverá fazer com que a campanha eleitoral de 2006 seja uma das mais agressivas da história

31 de outubro de 2005

 

Por Eduardo Geraque, de Caxambu

Agência FAPESP - O sistema político, que já se encontrava desequilibrado, sofreu um duro golpe com a chegada do PT ao poder. A afirmação é de Brasílio Sallum Jr., professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

"De um lado, havia o anacronismo do próprio sistema. De outro, um partido forte, multivertebrado e com uma burocracia semiprofissional", disse o sociólogo à Agência FAPESP. Essa soma de fatores estimulou a exacerbação assistida pelo país nos últimos meses.

Segundo Sallum Jr., que participou de acalorado debate durante o 29º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG), na sexta-feira (28/10), a crise não contraria os padrões de um sistema em que o desequilíbrio já estava presente. "Essa crise, em termos políticos, foi apenas a gota d’água. Ela tem raízes estruturais", afirma.

Na análise do sociólogo, um dos problemas centrais está no chamado "presidencialismo imperial" que existe no Brasil, além da pouca quantidade de recursos financeiros disponíveis para o governo federal cumprir, por vias legais, promessas feitas anteriormente com aliados políticos. "Mesmo no período Fernando Henrique assistimos a muitos problemas entre o partido do governo e seus aliados", diz. Um dos exemplos é a alta quantidade de medidas provisórias editadas.

"Não tenho a receita do bolo para reequilibrar o sistema. Mas ela passa pela redução do poder normativo da presidência. Isso tem ocorrido, mas muito aos tropeços", avalia Sallum Jr.

Como isso não será feito a curto prazo, a tese defendida por Sallum Jr. tem outro ponto, que poderá ser confirmado ou não em breve. "Essa crise certamente irá se emendar com a campanha eleitoral de 2006. Campanha que, acredito, será uma das mais agressivas de todos os tempos. Haverá muitas coisas em jogo, como os princípios éticos", afirma.


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