Maria Luiz Heilborn, da Uerj, foi uma das participantes da mesa-redonda sobre os 30 anos do feminismo no Brasil, na reunião da Anpocs (foto: E.Geraque)

Feminismo republicano
27 de outubro de 2005

Nos 30 anos do movimento que defende os direitos das mulheres no Brasil, cientistas reunidos na reunião da Anpocs, em Caxambu, discutem os caminhos percorridos pelos grupos que defendem esse ideal

Feminismo republicano

Nos 30 anos do movimento que defende os direitos das mulheres no Brasil, cientistas reunidos na reunião da Anpocs, em Caxambu, discutem os caminhos percorridos pelos grupos que defendem esse ideal

27 de outubro de 2005

Maria Luiz Heilborn, da Uerj, foi uma das participantes da mesa-redonda sobre os 30 anos do feminismo no Brasil, na reunião da Anpocs (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Caxambu

Agência FAPESP - Para quem acredita que 30 anos é pouco tempo para uma análise do movimento feminista brasileiro, vale lembrar que apenas em 1988, na redação da nova Constituição, a chefia da família, antes dada ao homem por lei, pôde ser assumida também pela mulher. Pouco antes, na década anterior, as questões eram o uso dos contraceptivos orais e o tabu da virgindade.

"Os avanços foram enormes em termos de direitos conquistados pelas mulheres", afirma Maria Luiza Heilborn, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). A cientista social foi uma das participantes da mesa-redonda "30 anos do feminismo no Brasil", realizada nesta quarta-feira (26/10) no 29º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu, sul de Minas Gerais.

Em termos gerais, se o movimento esteve nessas três décadas voltado para processos de interpelação do Estado – o que Bila Sorj, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, chamou de "feminismo republicano" durante o debate –, ele também conseguiu penetrar na sociedade, na visão de Maria Luiza. "Não tem ainda a absorção ideal, mas temos alguns exemplos que mostram ter havido transformações na vida em sociedade nesse período", disse à Agência FAPESP.

A questão da violência doméstica contra as mulheres é um dos temas usados pela pesquisadora da Uerj para exemplificar as mudanças do período. "A consciência sobre esse problema hoje está bastante presente. E para isso contribuiu muito a mídia televisiva, por conta de séries como Malu Mulher e outras", afirma a pesquisadora do Rio de Janeiro. As delegacias da mulher, um fenômeno brasileiro, também surgiram nesse bojo, tendo sido replicadas posteriormente em outros países.

A aceitação do uso da pílula e o fato de a mulher poder exercer sua sexualidade com mais naturalidade – a virgindade não é mais uma condição indispensável para o casamento – causaram mudanças tão radicais que podem ser medidas inclusive em números.

Segundo Maria Luiza, entre 1960 e 2000, a iniciação sexual feminina caiu em termos da idade mediana de 20,1 anos para 17,8. "Isso pode parecer pouco, mas não é. Para o homem, a idade continuou em 16,2", explica a cientista social.

Se o momento é de comemoração – o marco oficial que inicia o feminismo no Brasil foi um congresso sobre a condição da mulher brasileira realizada no Rio de Janeiro em julho de 1975, patrocinado pelas Nações Unidas –, a data também permite que se olhe para as lacunas.

Para Celi Jardim Pinto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um desses espaços a serem preenchidos está no campo político. "O movimento não fez, pelo menos em um primeiro momento, um trabalho de cutucar a sociedade. Ainda precisamos romper com a situação de termos tão poucas mulheres tanto no Legislativo como nas esferas do Executivo", disse a pesquisadora, que considera esse campo como um dos últimos grandes redutos masculinos existentes no Brasil.


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