Estudos genéticos e morfológicos detalham mais sobre o ciclo evolutivo dos cnidários, grupo também dos corais
(foto: Jan Derk)

Evolução confirmada
03 de fevereiro de 2006

Estudos com invertebrados do filo Cnidaria mostram uma interessante coincidência. Os dados genéticos agora obtidos revelam o mesmo padrão sobre a evolução do grupo que a morfologia havia indicado

Evolução confirmada

Estudos com invertebrados do filo Cnidaria mostram uma interessante coincidência. Os dados genéticos agora obtidos revelam o mesmo padrão sobre a evolução do grupo que a morfologia havia indicado

03 de fevereiro de 2006

Estudos genéticos e morfológicos detalham mais sobre o ciclo evolutivo dos cnidários, grupo também dos corais
(foto: Jan Derk)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O estudo da genética molecular dos cnidários acaba de trazer revelações importantes para a história evolutiva do grupo, que existe sobre a face da Terra desde o Pré-Cambriano, período geológico que terminou há 543 milhões de anos.

Por meio dos caracteres moleculares de dois genes, o DNA 28S e o DNA 18S, cientistas conseguiram confirmar relações recém-desenhadas no mapa genealógico do filo Cnidaria, que além de apresentar grande diversidade é exclusivamente aquático.

"Encontramos, a partir dos caracteres moleculares estudados, o mesmo padrão que a morfologia nos havia mostrado. Isso é fantástico", afirma o professor Antonio Marques, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

"De um modo geral, é possível falar que a evolução dos genes e da morfologia mostraram uma boa coincidência", explica o cientista, um dos autores de artigo sobre o tema, que tem como primeiro autor Allen Collins, da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, e que será publicado na próxima edição da Systematic Biology.

A mesma dupla havia participado de um estudo filogenético também dos cnidários, publicado em 2004 na Invertebrate Biology. Mas, no lugar dos genes, nesse outro trabalho os pesquisadores se detiveram apenas nas questões morfológicas do grupo. "Em 2004, propusemos um nova classe, os Staurozoas, que são medusas diferentes. Em vez de livre-natantes, elas são fixas", conta Marques.

O novo grupo classificado pela morfologia, e agora confirmado pela sistemática molecular, tem uma posição importante na evolução dos cnidários. Eles estão colocados entre os antozoários (grupo do qual fazem parte os corais) e o grupo Medusozoa (todos os demais representantes do filo, como as águas-vivas). As medusas fixas, segundo a pesquisa genética recém-concluída, são determinantes para que se entenda o complexo ciclo evolutivo desses invertebrados.

A reprodução dos cnidários inclui tanto as larvas chamadas de pólipos como as em forma de medusa. Em alguns casos, ambas as estruturas fazem parte de um mesmo ciclo. "Pela nossa hipótese, podemos inferir quatro passos evolutivos", afirma Marques. No início, pela hipótese de trabalho defendida pelo pesquisador brasileiro, havia um grupo que tinha apenas pólipos (como o Anthozoa). A evolução girou e num segundo momento surgiram as medusas com pólipos em seus ápices – eis o porquê do Staurozoa ser um grupo fundamental.

"As medusas se transformaram ainda mais. Passaram a se desprender dos pólipos e a ter uma vida livre-natante", explica Marques o terceiro momento crucial do ciclo evolutivo identificado por seus estudos. O último passo foi uma nova forma de desenvolvimento das medusas, encontradas nos grupos mais superiores desse trecho da árvore da vida.

"A diferenciação, neste caso, não ocorre mais no ápice. As medusas passam a se diferenciar na lateral dos pólipos", explica o pesquisador da USP. Para a dupla Marques e Collins, essa nova hipótese pode ajudar bastante na compreensão do ciclo de vida dos cnidários. Esses animais, além da complexidade, são todos carnívoros e estão no mesmo grupo filogenético por causa de uma estrutura chamada cnidoblasto.

Na epiderme desses organismos existem cápsulas que abrigam um filamento espiralado, preenchido com um líquido urticante, que normalmente é disparado para defesa ou alimentação. É por isso que a água-viva e as caravelas costumam queimar.


  Republicar
 

Republicar

A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.