O pesquisador Paulo Saldiva, com o equipamento de ressonância magnética Magnetom, ao fundo (imagem: Leandro Negro)

Facility é inaugurada na Faculdade de Medicina da USP
17 de março de 2015

Laboratório conta com o primeiro equipamento de ressonância magnética para corpo inteiro com campo magnético de 7 tesla da América Latina; plataforma estudará cadáveres e tentará tornar autópsia menos invasiva

Facility é inaugurada na Faculdade de Medicina da USP

Laboratório conta com o primeiro equipamento de ressonância magnética para corpo inteiro com campo magnético de 7 tesla da América Latina; plataforma estudará cadáveres e tentará tornar autópsia menos invasiva

17 de março de 2015

O pesquisador Paulo Saldiva, com o equipamento de ressonância magnética Magnetom, ao fundo (imagem: Leandro Negro)

 

Elton Alisson | Agência FAPESP – A Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo (USP) inaugurou, na sexta-feira (13/03), a Plataforma de Imagem na Sala de Autópsia (Pisa), uma research facility que conta com o primeiro equipamento de ressonância magnética para corpo inteiro com campo de 7 Tesla da América Latina, o Magnetom 7T MRI.

Instalado em uma construção subterrânea de 500 metros quadrados, em um terreno adjacente à sede da FM-USP, o laboratório é formado ainda por equipamentos de tomografia computadorizada, ultrassom e raios X.

Com custo de US$ 7,695 milhões (cerca de R$ 24 milhões), o Magnetom foi adquirido com recursos da FAPESP – no âmbito do projeto “Plataforma de imagem na sala de autópsia” e do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU) –, da USP e da Secretaria Estadual de Saúde, por meio da Fundação Faculdade de Medicina.

“O equipamento deverá contribuir tanto para a pesquisa e o avanço do conhecimento de novas doenças, tendo grandes impactos na área da saúde, como para o aprimoramento do ensino médico”, disse Celso Lafer, presidente da FAPESP, durante a cerimônia de inauguração do equipamento e das instalações do Pisa.

Fabricado na Alemanha e na Inglaterra, o equipamento de 7 tesla possibilita produzir, simultaneamente, diversas imagens de todo o corpo humano, com um grande nível de detalhe.

Os equipamentos similares existentes em outros lugares do mundo – como na Europa, nos Estados Unidos e no Japão – são menores e não comportam um corpo humano inteiro, comparou Edson Amaro Júnior, professor de Radiologia da FM-USP.

“Já há, aproximadamente, 70 equipamentos de ressonância magnética de 7 tesla no hemisfério Norte e um na Austrália, mas, em sua maioria, são muito pequenos e têm sido utilizados mais experimentalmente”, afirmou.

Outro diferencial é que o equipamento “brasileiro” será utilizado para examinar cadáveres recebidos pelo Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC), mantido pela USP, o maior serviço de autópsias médicas do mundo, que realiza por ano cerca de 14 mil autópsias relativas a mortes naturais.

Com isso, será possível estudar um maior número de casos de doenças (casuística) e, ao mesmo tempo, validar com maior precisão a acurácia do equipamento para a realização de diagnósticos, apontam os pesquisadores participantes do projeto.

“Ao esclarecer as causas de mortes naturais, também será possível desenvolver novos tratamentos e contribuir para a melhoria da qualidade da assistência médica prestada aos pacientes, porque o controle de qualidade de atenção hospitalar é fazer com que o paciente entre e saia vivo do hospital”, disse Paulo Hilário Saldiva, professor titular de Patologia da FM-USP.

“Se o paciente morreu, é preciso questionar se foi feito tudo o que era possível, se as hipóteses diagnósticas estavam corretas e se houve complicações durante o tratamento. Isso é importantíssimo para a formulação de uma política de qualidade hospitalar”, avaliou.

A potência de 7 tesla do equipamento permite gerar imagens com precisão 5,4 vezes maior do que as dos aparelhos de ressonância magnética de até 3 tesla usados hoje em alguns hospitais no Brasil. Com o novo aparelho, detalhes anatômicos da espessura de um fio de cabelo são revelados.

Imagens do cérebro

As primeiras imagens produzidas pelo Magnetom serão apenas do cérebro, pois o equipamento sai da fábrica programado para analisar somente esse órgão.

Os pesquisadores da FM-USP, entretanto, já estão construindo dispositivos para que ele produza imagens também de outros órgãos. “Temos um pós-doutorando que ficou alguns anos nos Estados Unidos aprendendo como construir esses equipamentos”, disse Amaro.

Os pesquisadores também contribuirão para avaliar e desenvolver aplicações com equipamento de ressonância magnética de 7 tesla com pessoas vivas.

O equipamento ainda não foi aprovado para uso clínico por questões de segurança. O campo magnético gerado pelo ímã da máquina – que pesa três toneladas e permanece ligado o tempo todo – seria capaz de erguer uma peça de metal com o peso de 20 carros de porte médio, se fosse um guindaste, explicou Amaro.

Além disso, a radiofrequência gerada pelo equipamento pode causar aquecimento em todas as regiões do corpo humano, enquanto para uso clínico o ideal é que o aquecimento seja localizado na parte do corpo que se pretende analisar.

“Vamos usar termômetros ópticos para medir quais partes do corpo o equipamento esquenta e identificar eventuais efeitos colaterais causados pelo uso dele”, afirmou Amaro.

“Teremos a oportunidade de contribuir para avaliar e desenvolver aplicações com o 7 tesla em humanos”, afirmou Guido Cerri, ex-secretário de Saúde de São Paulo e professor do Departamento de Radiologia da FM-USP.

Comparação de autópsias

Os pesquisadores da Pisa já vêm realizando um projeto, denominado Brazilian Imaging and Autopsy Study (Bias), em que farão uma série de mil autópsias prospectivas minimamente invasivas para comparar os resultados com as autópsias convencionais.

Até agora, já foram realizadas, aproximadamente, 900 autópsias utilizando tomografia computadorizada, ultrassom e raios X, contou Saldiva.

De acordo com os pesquisadores, o número de autópsias por morte natural vem caindo no mundo, entre outras razões, pela dificuldade de aceitação do procedimento.

“Por outro lado, ela ainda ocupa um espaço único na medicina e pode ajudar a elucidar mecanismos de doenças emergentes, como a arterioesclerose e o Alzheimer, que ainda não se beneficiaram do avanço da biologia molecular, porque ainda não é possível fazer biópsia de um tecido do coração ou do cérebro de pessoas vivas”, disse.

A fim de facilitar a aceitação do procedimento e convencer famílias que perderam seus parentes por morte natural a ajudar a esclarecer as causas do óbito, pesquisadores da FM-USP trabalham no Projeto Temático “Uso de modernas técnicas de autópsia na investigação de doenças humanas”, sob a coordenação de Saldiva, com o objetivo de desenvolver técnicas de diagnóstico por imagem que ajudem a realizar autópsia de modo menos invasivo do que o procedimento convencional.

O projeto, que tem apoio da FAPESP, ganhou impulso com a inauguração da Pisa.

“O conceito que estamos trabalhando para convencer as famílias a autorizarem a autópsia é o de doação de conhecimento”, disse.

De acordo com Saldiva, mais da metade das pessoas no mundo morrem sem que a causa do óbito tenha sido definida e, quando é definida, não tem utilidade para estudos de comparação, porque a classificação é muito vaga, como parada cardíaca – característica compartilhada por todos os mortos.

“Ao aumentar o número de autópsias de mortes naturais com as técnicas minimamente invasivas desenvolvidas no laboratório, será possível ter uma classificação melhor de causas de óbito”, avaliou.

“Teremos a rara oportunidade de ter, ao mesmo tempo, imagens de alta definição, além de dados sobre o aspecto anatômico e celular dos órgãos”, afirmou o pesquisador.

Leia mais sobre a Plataforma de Imagem na Sala de Autópsia da Faculdade de Medicina da USP em agencia.fapesp.br/a_morte_explica_a_vida/20801/.
 

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