Sem antas, veados e outros mamíferos, a floresta pode ter uma riqueza vegetal até 53% menor. Trabalho realizado no interior de São Paulo mostra como os animais interferem na vegetação
Sem antas, veados e outros mamíferos, a floresta pode ter uma riqueza vegetal até 53% menor. Trabalho realizado no interior de São Paulo mostra como os animais interferem na vegetação
Agência FAPESP - Conservar os remanescentes florestais sem o devido cuidado em preservar as comunidades de mamíferos de médio e grande porte pode causar alterações bastante nocivas em uma determinada comunidade vegetal.
Antas, veados, porcos-do-mato (queixadas e catetos), pacas e cutias. Todas essas espécies herbívoras desempenham um papel ecológico essencial na manutenção da diversidade florestal, conforme atesta um estudo realizado em vários pontos do interior de São Paulo.
"Fragmentos com uma redução ou extinção da biomassa dos animais analisados apresentaram uma riqueza de espécies vegetais aproximadamente 53% menor do que as áreas com maior presença animal", explica Cecília Alves-Costa, atualmente professora da Universidade Federal de Pernambuco, à Agência FAPESP. O trabalho da pesquisadora, apresentado no encontro da Associação de Biologia Tropical e Conservação (ABTC), em julho, venceu o prêmio Luis Bacardi, iniciativa que destaca os melhores trabalhos da área de biologia da conservação em áreas tropicais.
A menor riqueza de espécies dentro dos fragmentos analisados de Mata Atlântica de Planalto provocou outras alterações. "A densidade de plantas foi quase 90% maior e também houve três vezes mais recrutamento [número de novas plantas]", explica a pesquisadora.
Além da comparação direta entre áreas com mais animais – e, portanto, protegidas – e outras com menos (locais com mais devastação), outro tipo de teste foi realizado, dentro de uma mesma parcela, para que mais certezas pudessem surgir.
Segundo Cecília, optou-se também pela realização de um teste experimental dos efeitos da exclusão dos mamíferos. Para isso, foram distribuídos aleatoriamente em cada fragmento dez pares de parcelas de 2 por 2 metros. Dentro de cada par, uma parcela foi demarcada permanecendo aberta e a outra foi cercada por tela com malha de 8 por 12 centímetros. Nesse caso, apenas animais com menos de 1 quilo tiveram livre acesso às parcelas.
"O teste mostrou, de maneira incontestável, que a porcentagem de mortalidade de plantas diminui com a exclusão dos animais", disse. A relação mamíferos e comunidade vegetal ficou dessa forma comprovada.
A pesquisadora quer saber se os resultados obtidos pela exclusão, feitas há apenas 30 meses, serão os mesmos observados entre os fragmentos, que estão expostos às mesmas situações provavelmente por décadas. "A questão agora é: será que, mantendo a exclusão de mamíferos por mais tempo, outros parâmetros, como riqueza de espécies, vão se alterar na mesma direção em que foi observado nas comparações entre fragmentos?", questiona. A hipótese inicial é que a resposta seja positiva, apesar que vários outros estudos ainda serão necessários para que a conclusão apareça.
Mesmo com as incertezas, os resultados obtidos para o caso de São Paulo permitem que algumas afirmações sejam feitas. "A necessidade do controle efetivo da caça e a reconexão de fragmentos isolados – por meio do plantio de corredores de vegetação – são estratégias fundamentais para que as interações entre plantas e animais possam ser mantidas e a diversidade vegetal possa ser assegurada no longo prazo", aponta Cecília.
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