Pesquisadores dos EUA, México, França e Japão apresentam novos modelos para centros de ciência e discutem fatores que dificultam a popularização da ciência (foto: MeSci)

Evolução versus criação
14 de abril de 2005

Pesquisadores dos EUA, México, França e Japão apresentam no Rio de Janeiro novos modelos para centros de ciência e discutem fatores que dificultam a popularização da ciência e a inclusão social

Evolução versus criação

Pesquisadores dos EUA, México, França e Japão apresentam no Rio de Janeiro novos modelos para centros de ciência e discutem fatores que dificultam a popularização da ciência e a inclusão social

14 de abril de 2005

Pesquisadores dos EUA, México, França e Japão apresentam novos modelos para centros de ciência e discutem fatores que dificultam a popularização da ciência (foto: MeSci)

 

Agência FAPESP - O debate entre a teoria de evolução da vida e o criacionismo foi a pauta da segunda plenária do 4º Congresso Mundial de Centros de Ciência, que está sendo sediado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro, até 14 de abril.

A discussão, embora pareça antiga, foi bem oportuna, principalmente porque a proposta da plenária era abordar justamente novos modelos e desafios dos centros de ciência.

"Os novos modelos – exploratórios, museus de ciência, etc. – existem, mas mesmo com tantas opções diferentes não conseguimos atrair a sociedade. Por que esse casamento não funciona na prática?", questionou Goery Delacote, diretor do Explotarium de São Francisco, nos Estados Unidos.

"No início, a idéia de coisas novas no Explotarium não era percebida pela sociedade. O cientista sabe que a ciência está mudando, mas o público em geral não tem essa percepção. O problema é que os museus de ciência não acompanham a mudança", afirma.

Para o chefe executivo da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS), Alan Leshner, o maior dos desafios é superar o momento atual que, segundo ele, é preocupante no que diz respeito à relação ciência-sociedade.

"Essa relação está mais difícil. As pessoas ainda respeitam e confiam na ciência e nos benefícios da pesquisa, mas há um novo fator que poderá ter um grande impacto no processo de humanização da ciência. Em todo o mundo tem havido um forte movimento criacionista, contrário à teoria da evolução", disse Leshner.

Dados apresentados pelo cientista mostram que o interesse do público pela ciência tem diminuído na medida em que as iniciativas criacionistas têm aumentado. A pesquisa apontou que 60% dos norte-americanos acreditam em percepção extra-sensorial, que 55% acham que Deus criou o homem e que 37% apóiam o ensino do criacionismo nas escolas. Os dados mostram ainda que 31% dos professores de ciência entrevistados disseram-se pressionados a lecionar o tema nas escolas.

"A questão não é se devemos ou não ensinar essa crença religiosa na escola, mas sim que devemos melhorar a maneira de lecionar ciência, de modo a mostrar que uma teoria científica está apoiada em fatos científicos, resultados que são comprovados na prática. Precisamos mostrar que o criacionismo está somente na teoria e que, portanto, deve ser encarado como tal", afirmou Leshner.


Próximo ao público

Para a diretora executiva da Red Pop do México, Julia Tagueña Parga, o momento é de estimular cada vez mais o diálogo do cientista com o público. "Os centros de ciência devem ver o visitante como um usuário. Devem ser um local para questionamento, um ponto de tolerância e eqüidade", disse ela, adiantando que em junho de 2006 será inaugurado o Centro de Ciência de Chiapa.

"Temos de abandonar o monólogo e conversar com as pessoas. Temos também de ouvir o que elas têm a dizer, ir até elas e engajá-las na compreensão da ciência e da tecnologia", concordou Alan Leshner.

O diretor do Museu Nacional da Ciência e da Inovação (MeSci) do Japão, Mamoru Mohri, lembrou que o país passou da ruína à segunda grande potência do mundo devido aos avanços da tecnologia, hegemonia essa alcançada em apenas meio século, e que esteve recentemente ameaçada quando, na década de 1990, pesquisas mostraram que o interesse dos alunos das escolas japonesas pela ciência tinha declinado.

"O Japão estava em perigo, pois o grau de envolvimento da população com a ciência tinha diminuído", disse. O governo, então, interveio lançando um programa que pregava que os cientistas deviam compartilhar suas descobertas com o público em geral. Do programa nasceu o MeSci.

"Percebemos que quanto maior o número de estudantes fazendo ciência, mais avanços teríamos", disse Mohri. O museu japonês realiza exposições interativas, como a Conheça o cientista, na qual um pesquisador dá informações detalhadas a respeito de determinada área científica.

"Mais que popularizar, é preciso humanizar a ciência", afirmou o pesquisador francês Jean François Ebert, da Cidade da Ciência de Paris, quarto museu mais visitado na França, que recebe a cada ano 1.500 turmas de estudantes.

"Não há um modelo único para um centro de ciência. Estamos sujeitos a fatores como a falta de interesse do público e a rapidez do progresso da tecnologia", apontou Ebert.

Mais informações e a programação completa do 4º Congresso Mundial de Centros de Ciência: www.museudavida.fiocruz.br/4scwc.


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