Teste feito em espelho d´água na Câmara dos Deputados, em Brasília, confirma efeito antievaporante de mistura química não poluidora (foto: divulgação

Evaporação sob controle
08 de novembro de 2005

Teste feito em espelho d´água na Câmara dos Deputados, em Brasília, confirma efeito antievaporante de mistura química não poluidora. Média da redução diária foi 21%

Evaporação sob controle

Teste feito em espelho d´água na Câmara dos Deputados, em Brasília, confirma efeito antievaporante de mistura química não poluidora. Média da redução diária foi 21%

08 de novembro de 2005

Teste feito em espelho d´água na Câmara dos Deputados, em Brasília, confirma efeito antievaporante de mistura química não poluidora (foto: divulgação

 

Karin Fusaro

Agência FAPESP - Em setembro, o espelho d´água do Anexo 1 da Câmara dos Deputados, em Brasília, perdeu menos água do que de costume. A evaporação foi reduzida por uma mistura de surfactantes (substâncias que formam um filme ultrafino na superfície da água) e calcário, desenvolvida pelo engenheiro químico Marcos Gugliotti.

Diretor científico da Lótus Química Ambiental, em projeto financiado pelo Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe), da FAPESP, Gugliotti realizou de 9 a 18 de setembro os testes que serão apresentados nesta quinta-feira (10/11), às 15h, durante um seminário na Câmara. "Com a aplicação do produto o espelho d´água virou realmente um espelho, sua superfície ficou lisa e brilhante", disse o pesquisador à Agência FAPESP.

Em forma de pó, o produto foi aplicado numa parte do reservatório com área de aproximadamente 13 mil metros quadrados, que é normalmente mantido cheio, com 4 milhões de litros de água. A evaporação média de 5,88 milímetros do espelho representa uma perda diária de 76.440 litros.

"Com a aplicação da mistura foi possível reduzir a evaporação diária em 21,14%, média obtida a partir dos piores resultados do produto, gerando economia de 16 mil litros por dia", afirmou Gugliotti, pós-doutor em físico-química de superfícies pela Universidade de São Paulo (USP).

Em números absolutos, a menor evaporação foi de 14,63% e a maior atingiu 55,44%, ou seja, a evaporação de 5,88 milímetros diários chegou a ser reduzida para 2,62 milímetros.

Na primeira etapa do experimento, de 9 a 12 de setembro, Gugliotti mediu a perda de água nas condições naturais do local – a evaporação depende de fatores como as temperaturas do ar e da água, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento. Além de medidas realizadas no local do teste, o engenheiro químico utilizou dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) sobre as condições climáticas em Brasília naqueles dias para assegurar a confiabilidade de seus resultados.

A mistura antievaporante foi jogada no reservatório três vezes entre os dias 13 e 17 de setembro. Nesse período, o espelho d’água deixou de perder por evaporação cerca de 81 mil litros de água. Em contato com a água, o pó se transforma num filme ultrafino que diminui a rugosidade da superfície, formando uma barreira protetora entre a água e os elementos que favorecem sua evaporação, sem impedir as trocas de oxigênio e gás carbônico com a atmosfera. O produto tem efeito por cerca de 48 horas e pode ser aplicado manualmente, com a utilização de pá e a proteção de máscara e luvas.

A variação climática nos dias de teste ocorreu no sentido de aumentar a evaporação, o que favoreceu a verificação da capacidade do produto de segurar a água. As aplicações eram feitas a partir das margens do espelho pelo próprio pesquisador e levavam cerca de 40 minutos.

Segundo Gugliotti, os ventos de aproximadamente quatro metros por segundo contribuíram para espalhar o composto, fazendo o filme cobrir a totalidade da área em que foi jogado. "O vento mais intenso desmancha um pouco o filme, mas não o destrói. Em pouco tempo ele volta a se formar na superfície", explica.

Cada quilo do pó é suficiente para cobrir dez mil metros quadrados de área. No espelho d´água da Câmara foi usado um total de 3,9 quilos, 1,3 quilo por aplicação. O produto é biodegradável e não poluente. Durante o experimento, uma empresa contratada pelo pesquisador avaliou a qualidade da água antes e depois da utilização da mistura e não encontrou nenhuma mudança significativa.

Pequenas alterações em alguns parâmetros são explicadas pela localização do espelho d’água – ao ar livre e ao lado de um estacionamento e de um gramado – sujeito à contaminação por areia e terra trazidas pelo vento. Ao final do teste não foram verificadas alterações no pH da água.

Em fase final de testes com o produto, Gugliotti pretende aplicá-lo em pequenos açudes, preferencialmente na região Nordeste. A empresa Lótus Química Ambiental está localizada no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec).


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