Em 1999 a FAPESP foi responsável por mais da metade dos investimentos em pesquisa na área de ciências agrárias no Estado de São Paulo, aponta estudo do Ipea (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)

Política de CT&I
Estudos avaliam impactos econômicos e sociais de pesquisas apoiadas pela FAPESP
14 de julho de 2025

Resultados de trabalhos em áreas como agricultura, saúde, empreendedorismo tecnológico e políticas públicas foram apresentados durante seminário na Fundação

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Estudos avaliam impactos econômicos e sociais de pesquisas apoiadas pela FAPESP

Resultados de trabalhos em áreas como agricultura, saúde, empreendedorismo tecnológico e políticas públicas foram apresentados durante seminário na Fundação

14 de julho de 2025

Em 1999 a FAPESP foi responsável por mais da metade dos investimentos em pesquisa na área de ciências agrárias no Estado de São Paulo, aponta estudo do Ipea (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)

 

Elton Alisson | Agência FAPESP – Entre 1974 e 2020, a produtividade agrícola de São Paulo cresceu 67,6%. A produção de milho, soja e laranja, em termos de toneladas por hectare, por exemplo, aumentou, respectivamente, 2,2%, 1,7% e 1,6% ao ano. Mesmo com o aumento da colheita, o uso da terra para agricultura e pecuária no Estado foi reduzido de 16,6 milhões para 15,2 milhões de hectares no mesmo período.

Foi possível atingir esses saldos positivos principalmente por causa de investimentos em ciência e tecnologia realizados notadamente pela FAPESP, indica estudo feito por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre os impactos das políticas públicas de fomento à CT&I sobre o crescimento da produtividade agrícola do Estado de São Paulo.

Os principais resultados dessa pesquisa foram apresentados no dia 10 de julho, durante o seminário “Research on Research and Innovation Project: Indicators, Metrics, and Evidence of Impacts”, sediado na FAPESP e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (leia mais em: agencia.fapesp.br/55300).

“A FAPESP tem um papel central no financiamento da ciência agrícola no Estado de São Paulo”, disse durante o evento José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do Ipea e autor principal do estudo.

De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, entre 1976 e 1994 a participação da FAPESP em dispêndios em ciências agrárias no total de despesas com CT&I no Estado de São Paulo saltou de 1% para 15% e atingiu o pico em 1999, quando passou a ser responsável por mais da metade dos desembolsos.

“O gasto da FAPESP na área de ciência agrícola no período de 1974 a 2020 foi de, em média, 22%”, apontou Vieira Filho.

Os impactos dos investimentos da Fundação em pesquisa agrícola também se refletem na criação de startups de base científica e tecnológica com soluções voltadas ao setor, as chamadas agritechs, apoiadas pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).


José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do Ipea: "A FAPESP tem um papel central no financiamento da ciência agrícola no Estado de São Paulo” (foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP)

A fim de mensurar os impactos do programa em empresas atuantes nesse e em diversos outros setores, um grupo de pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) tem conduzido um estudo com 16 beneficiárias em que procura identificar como o PIPE afetou seus negócios, como utilizaram os recursos e as causas do sucesso. Os resultados também foram apresentados no evento ocorrido em 10 de julho.

“Algumas declarações interessantes que empreendedores nos deram nas entrevistas foi que sem o PIPE não teriam aberto suas empresas e que os recursos oferecidos pelo programa ajudaram a assumir riscos tecnológicos”, disse Mario Sérgio Salerno, professor da Poli-USP e coordenador do estudo.

“Outra coisa que nos chamou muito a atenção foi que todos eles nos disseram que o fato de terem sido publicadas matérias sobre suas empresas nos meios de divulgação científica da FAPESP, como a revista Pesquisa FAPESP, a Agência FAPESP e o boletim Pesquisa para Inovação, foi muito relevante para dar visibilidade aos seus negócios e fazer contato com investidores”, afirmou Salerno.

Impactos na saúde

Já na área da saúde, um grupo de pesquisadores da Unicamp realizou um estudo de impacto econômico e social mensurável de projetos financiados pela FAPESP, cujo resultados também foram apresentados no evento. A principal pergunta que pretendiam responder era qual o retorno econômico e social de uma inovação financiada pela Fundação nesse setor.

Alguns dos desafios para realização do estudo foram identificar casos em que a inovação estivesse pronta, com patente ou propriedade intelectual estabelecida, já aprovada pelos órgãos regulatórios na área da saúde no Brasil e em vigor por um bom tempo, a fim de possibilitar mensurar o impacto em termos de vidas salvas. Além disso, os casos precisariam ter sido financiados pela FAPESP e dispor de um banco de dados que possibilitasse extrair os indicadores de pacientes beneficiados.

Após mapearem 22 casos, os pesquisadores selecionaram um viável: um protocolo estabelecido em 2009 para o tratamento de leucemia linfoide aguda (LLA) pelo Grupo Brasileiro para o Tratamento da LLA na Infância (GBTLI).

Por meio de estudos conduzidos por diferentes grupos de pesquisa no Estado de São Paulo, em grande parte financiados pela FAPESP, foi possível estabelecer um protocolo para o tratamento da doença, indicando um conjunto de quimioterápicos com melhores efeitos terapêuticos, explicou Luciano Coutinho, professor do Instituto de Economia da Unicamp e coordenador do estudo.

“Por meio desse desenvolvimento incremental, houve um ganho substancial na taxa de sobrevivência das crianças tratadas por meio do protocolo, que saltou de 70% para 79%”, afirmou.

Impactos em políticas públicas

O crescente ceticismo em relação aos benefícios sociais da ciência produzida pelas universidades brasileiras por alguns setores da sociedade foi o que motivou um grupo de pesquisadores da Unicamp, em parceria com colegas da Universidade Federal da Bahia, a realizar um estudo em que mediram os impactos das pesquisas financiadas pela FAPESP em políticas públicas.

Para isso, os pesquisadores analisaram quase 100 mil artigos com resultados de pesquisas financiadas pela FAPESP, reunidos na Biblioteca Virtual da FAPESP, e verificaram o número de citações deles em uma plataforma chamada Overton, que reúne dados de documentos de políticas públicas de todo o mundo.

Os resultados, também apresentados no seminário, indicam que, do total de quase 100 mil artigos analisados, relativos ao período de 1992 a 2023, 2.993 foram citados em documentos de políticas e que as citações foram concentradas em saúde, meio ambiente e segurança alimentar, por instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

“Isso demonstra o forte alinhamento entre as prioridades de financiamento da FAPESP e áreas relevantes para políticas, como saúde, meio ambiente e agricultura”, avaliou Evandro Coggo Cristofoletti, professor da Unicamp e um dos coordenadores do estudo.
 

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