Esperança e medo
03 de maio de 2004

O economista norte-americano Jeffrey Sachs comenta, em editorial na Science, o impasse em que o mundo se encontra, dividido às portas de um futuro que pode ser bom ou catastrófico. Segundo ele, a perspectiva positiva depende da ciência e do papel que os cientistas irão assumir

Esperança e medo

O economista norte-americano Jeffrey Sachs comenta, em editorial na Science, o impasse em que o mundo se encontra, dividido às portas de um futuro que pode ser bom ou catastrófico. Segundo ele, a perspectiva positiva depende da ciência e do papel que os cientistas irão assumir

03 de maio de 2004

 

Agência FAPESP - "A sociedade global se encontra presa a duas visões conflitantes do futuro: uma de medo e a outra de esperança. Ambas concordam que o mundo se encontra em perigo, mas suas conclusões são diferentes". As palavras são do famoso economista norte-americano Jeffrey Sachs, diretor do Instituto da Terra da Universidade de Columbia, em editorial da edição atual da revista Science (www.science.com).

"A visão do medo sustenta que a globalização, o crescimento populacional, a extinção de recursos e o impacto ao meio-ambiente intensificarão as lutas por recursos e entre culturas conflitantes. Será um mundo cada vez mais dividido entre ‘nós’ e ‘eles’. Os Estados Unidos, por sinal, parecem estar apostando nesse caminho, ao alocarem impressionantes US$ 450 bilhões anuais para gastos militares, o que é metade do total mundial", disse o economista.

A perspectiva positiva para o futuro foi discutida na conferência Estado do Planeta, realizado no final de março na Universidade de Columbia, em Nova York, quando foi discutido o impacto provocado pelo crescimento da população mundial – de quatro vezes no último século – e pelo aumento da atividade econômica – de 4,5 vezes por pessoa no mesmo período – e como isso irá afetar os anos que virão.

"Os participantes mostraram que a ciência e a tecnologia oferecem uma série de alternativas para combinar o bem-estar econômico com o desenvolvimento sustentável. Carbono de combustíveis fósseis pode ser capturado e armazenado, a produtividade dos alimentos pode ser ampliada pelo melhor uso do solo e pela biotecnologia, milhões de vidas podem ser salvas a cada ano por meio de recursos de saúde existentes e que serão desenvolvidos, e espécies e ecossistemas ameaçados podem ser preservadas graças a avanços na conservação biológica", exemplificou no artigo.

Para que as contribuições científicas possam ajudar a salvar o planeta, serão precisos tempo, grandes financiamentos públicos e o desenvolvimento de sistemas melhorados de governança global, afirmou Sachs, que também é consultor especial do secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em iniciativas para a redução da pobreza. "Ou seja, será preciso um elevado nível de ação coletiva, que hoje não está à vista em lugar algum."

Para quem acha que o dinheiro necessário para tais pesquisas é algo fora de cogitação, o economista rebate. "O financiamento necessário para a criação das tecnologias que podem dar suporte ao desenvolvimento sustentável corresponde a apenas uma pequena fração dos gastos militares", afirmou. "O problema é que o nível de compreensão pública para isso ainda não existe. Nossos líderes políticos escolhem alternativas militares em lugar das científicas em parte porque o público não conhece os riscos reais que estão à sua frente."

Mudar esse cenário é tarefa para os próprios cientistas, argumenta Sachs. "Por meio de instituições de ensino, academias nacionais e associações internacionais, os cientistas têm um papel fundamental a desempenhar. Há, atualmente, um grande anseio por informação, que deve ser atendido. Os cientistas podem servir ao interesse geral ao encontrarem mais oportunidades para o diálogo sistemático com o público. Novos fóruns de discussão para assuntos como clima, preservação da biodiversidade e diminuição da pobreza mundial podem fornecer um mecanismo fundamental para a construção de estratégias para o desenvolvimento sustentável que sejam eficientes e aceitas por todos", disse Sachs.


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