Médico segura a recém-nascida Nicole
(foto: Stela Murgel/Unifesp)

Esperança aberta
05 de dezembro de 2003

Nicole, que passou por cirurgia rara no útero da mãe, nasceu na sexta-feira. O procedimento, conhecido como "a céu aberto", havia sido feito anteriormente apenas uma vez no Brasil, pela mesma equipe da Unifesp. As células-tronco do bebê poderão auxiliar no tratamento de um câncer de seu irmão

Esperança aberta

Nicole, que passou por cirurgia rara no útero da mãe, nasceu na sexta-feira. O procedimento, conhecido como "a céu aberto", havia sido feito anteriormente apenas uma vez no Brasil, pela mesma equipe da Unifesp. As células-tronco do bebê poderão auxiliar no tratamento de um câncer de seu irmão

05 de dezembro de 2003

Médico segura a recém-nascida Nicole
(foto: Stela Murgel/Unifesp)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - Uma cirurgia difícil com um final feliz – e um começo ainda melhor. Nasceu na manhã de sexta-feira (5/12), no Hospital São Paulo, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um bebê que foi submetido, ainda no útero da mãe, a uma rara cirurgia.

Na 26ª semana de gestação da mãe, Danieli Rejane Ferreira de Campos, de 27 anos, os médicos detectaram que Nicole, que nasceu com 2,5 kg e com boa saúde, sofria de meningomielocele (fechamento da coluna vertebral) e optaram pela realização de um complexo procedimento cirúrgico conhecido pelo nome de "a céu aberto". Seria apenas a segunda cirurgia do tipo no Brasil. A anterior foi feita em agosto pela mesma equipe da Unifesp.

"Verificamos que uma parte da medula espinhal de Nicole estava exposta ao líquido amniótico e não havia ocorrido o fechamento do tubo neural, ou seja, a pele não havia sido fechada", disse Carlos Gilberto Almodin, ginecologista-obstetra e pesquisador do Departamento de Obstetrícia da Unifesp.

Nesse tipo de cirurgia, disse o médico à Agência FAPESP, o útero que abrigava Nicole teve que ser exteriorizado. "O líquido amniótico poderia prejudicar a formação da medula espinhal. A criança estaria correndo um risco muito grande de nascer com distúrbios de bexiga e de intestino, ou até mesmo paraplégica", explicou o médico, que fez parte da equipe cirúrgica junto com outros 14 especialistas. Outra seqüela que poderia ocorrer é a hidroencefalia, o acúmulo de água no cérebro.

Segundo Almodin, a cirurgia seguiu os seguintes passos: abertura do útero; retirada e conservação do líquido amniótico; exposição da área que estava aberta para a desobstrução da coluna vertebral; e reposição do líquido amniótico. O último passo foi o fechamento do útero, para que a gestação fosse mantida em condições ideais.

A operação foi considerada um sucesso pela equipe da Unifesp. Apesar de rara no Brasil, nos Estados Unidos mais de duas centenas de operações do tipo já foram feitas. "Apesar de ainda não ter sido comprovada cientificamente, todos os pesquisadores envolvidos no protocolo de pesquisa acreditam, com base nos dados disponíveis, que vale a pena fazer esta operação com bebê ainda no útero da mãe", disse Almodin.

O tratamento convencional para o problema é feito após o nascimento. A opção é colocar uma válvula na cabeça do recém-nascido para atuar como dreno. Com a cirurgia a "céu aberto", é possível evitar que a má-formação na coluna vertebral comprometa o cérebro. As chances de reduzir problemas motores e cognitivos na criança, como retardo mental e dificuldade de aprendizado, também é maior. Porém, a avaliação do resultado da cirurgia só pode ser confirmada após o parto.

"Todos os testes pós-parto realizados até agora tiveram excelentes resultados. Nicole está com boa movimentação de pernas e, desde seu nascimento, demonstra muito sucesso em seus estímulos", disse Almodin.

A menina poderá ainda ajudar seu irmão Lucas, de dois anos e dois meses. A mãe Danieli Rejane descobriu, há pouco menos de um mês, que o filho mais velho tem câncer no abdômen. Os especialistas que cuidam do menino sugeriram aproveitar o momento do parto de Nicole para a retirada de células-tronco de seu cordão umbilical e da placenta, que poderão ser utilizadas em um transplante de medula óssea. O material extraído será congelado e submetido a testes de compatibilidade. As chances de sucesso neste tipo de operação são de até 40%.


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