Carlos Eduardo Bicudo, do Instituto de Botânica de São Paulo, defende uma visão mais horizontal entre os taxonomistas (foto: E.Geraque)

Especialização generalizada
14 de outubro de 2005

No Congresso Brasileiro de Botânica, Carlos Eduardo Bicudo, do Instituto de Botânica de São Paulo, defende uma visão mais horizontal entre os taxonomistas. Para ele, os ecléticos estão perdendo terreno de forma bastante perigosa

Especialização generalizada

No Congresso Brasileiro de Botânica, Carlos Eduardo Bicudo, do Instituto de Botânica de São Paulo, defende uma visão mais horizontal entre os taxonomistas. Para ele, os ecléticos estão perdendo terreno de forma bastante perigosa

14 de outubro de 2005

Carlos Eduardo Bicudo, do Instituto de Botânica de São Paulo, defende uma visão mais horizontal entre os taxonomistas (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Curitiba

Agência FAPESP - Em um futuro muito próximo, e isso não é nenhum exercício de ficção científica, o número de nomes de ruas em homenagem a plantas brasileiras poderá ser maior que a própria quantidade de espécies encontradas na natureza. Para que essa projeção não se concretize, a ciência precisará muito dos taxonomistas botânicos, mas desde que esses tenham um comportamento científico moderno.

"Estamos vendo uma tendência nefasta de verticalização. Os pesquisadores chamados generalistas, que desenvolveram uma visão ampla e horizontal da ciência, não são valorizados. Os ecléticos parecem que perderam. O progresso está derrotando-os", disse Carlos Eduardo Bicudo, pesquisador do Instituto de Botânica de São Paulo e um dos maiores especialistas em algas de água doce do país, à Agência FAPESP.

Apesar da verticalização construída ao longo de sua carreira – ele é um dos discípulos de Aylthon Brandão Joly, considerado o pai brasileiro da ficologia (ciência que estuda as algas) –, Bicudo não se deixa encastelar. "Procuro ser ao mesmo tempo um generalista. E luto muito para formar pessoas desse modo. Só nessa região do mundo temos pessoas assim. Nos Estados Unidos e na Europa elas acabaram por completo. A cultura ali não aceita a visão generalista", afirma.

Apesar de afirmar que o problema não é exclusivo do Brasil e nem apenas só da ficologia, Bicudo defende a criação da cultura de formar pessoas que possam caminhar tanto na vertical quanto na horizontal. "Precisamos desses dois tipos, mas também é possível criar as duas mentalidades num único indivíduo", disse o pesquisador durante a conferência "180 anos de estudos de algas de águas continentais no Brasil: e agora?", no 56º Congresso Brasileiro de Botânica, que será encerrado nesta sexta-feira (14/10), em Curitiba.

Mesmo com todo o avanço no último século – a princípio toda a produção sobre espécies brasileiras era feita no exterior e por estrangeiros –, Bicudo cita uma série de recomendações, além da necessidade da consolidação da visão generalista. "Não se pode cruzar os braços. É preciso trabalhar em colaboração, e essas parcerias devem ser baseadas na honestidade e na humildade", aponta.

Além disso, segundo o pesquisador, todos precisam ter em mente que conservação em biodiversidade não é apenas investimento em taxonomia. "E a ecologia, a fisiologia e diversas outras áreas? Todas essas disciplinas devem caminhar juntas", afirma. Para Bicudo, essa é a única forma que existe para que o exercício da relação dos nomes das ruas e das plantas, apresentado por ele durante a conferência, não vire um fato real.


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