Pesquisadores paulistas e catalães debatem incentivos à transferência de tecnologia (foto: Diego Freire)

Especialistas discutem desafios para acelerar transferência de tecnologia
29 de maio de 2015

Experiências bem-sucedidas em São Paulo e na Catalunha foram compartilhadas por pesquisadores na FAPESP Week Barcelona

Especialistas discutem desafios para acelerar transferência de tecnologia

Experiências bem-sucedidas em São Paulo e na Catalunha foram compartilhadas por pesquisadores na FAPESP Week Barcelona

29 de maio de 2015

Pesquisadores paulistas e catalães debatem incentivos à transferência de tecnologia (foto: Diego Freire)

 

Diego Freire, de Barcelona | Agência FAPESP - A experiência de incentivo à transferência de tecnologia ao longo da construção da nova fonte brasileira de luz síncrotron, em Campinas (SP), foi um dos casos de interação bem-sucedida entre instituições de pesquisa e empresas compartilhados durante a programação da FAPESP Week Barcelona, na quinta-feira (28/05).

Realizado pela FAPESP em parceria com os Centres de Recerca de Catalunya (Cerca), o evento ocorre até hoje (29/05), no Sant Pau Art Nouveau Site, em Barcelona, reunindo pesquisadores de São Paulo e da comunidade autônoma da Catalunha.

Em 2014, a FAPESP e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) abriram a primeira seleção pública para o desenvolvimento do novo síncrotron brasileiro, batizado com o nome de Sirius, que está sendo construído pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas. O objetivo é apoiar o desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores oferecidos por empresas no Estado de São Paulo.

De acordo com Harry Westfahl Júnior, do LNLS, um dos participantes da mesa-redonda que discutiu a transferência de tecnologia na pesquisa brasileira e na Catalunha, a iniciativa busca desenvolver tanto a instituição, por meio do provimento de parte da tecnologia necessária para o funcionamento do Sirius, como as empresas que atuam em São Paulo.

“Todo o projeto de desenvolvimento do Sirius foi estruturado de forma que o investimento não ocorresse somente na ciência em torno do acelerador, mas também se revertesse para a economia local. Quando você precisa que companhias se envolvam no projeto e produzam tecnologia, é importante criar meios para que elas também se desenvolvam”, disse.

Para o pesquisador, a parceria melhora a instituição, que se beneficia da tecnologia produzida, e as empresas, que aprendem e absorvem técnicas e processos novos.

Uma das primeiras fontes de luz síncrotron de 4ª geração em todo o mundo, o Sirius será composto por um acelerador síncrotron de 3 GeV e 0.28 nm radiano de emitância, permitindo que o Brasil se mantenha competitivo na área pelas próximas duas décadas, o que exige novas tecnologias.

“As centenas de magnetos que compõem o acelerador se parecem com partes de motores ou geradores, mas possuem algumas especificidades. A empresa que está trabalhando nisso logo percebeu que essas especificidades estavam além do que ela fazia até então e chegou a montar um laboratório em meio às suas instalações dedicadas ao Sirius. Foi um investimento que não só permitirá atender às necessidade do acelerador, mas que também fez com que a empresa crescesse e ampliasse seu core business”, exemplificou Westfahl Jr.

Os recursos da chamada da FAPESP com a Finep, já em fase de seleção, serão de R$ 40 milhões, divididos igualmente entre as duas instituições. Foram submetidas 22 propostas e cada uma das selecionadas poderá receber até R$ 1,5 milhão.

Vale do Silício brasileiro

Em julho do ano 2000, a revista norte-americana de tecnologia Wired definiu a cidade paulista de Campinas, onde está sendo construído o Sirius, como “a líder na revolução das comunicações no Brasil” e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) como “a resposta do Brasil ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)”. Para Hugo Luis Fragnito, do Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp, o reconhecimento se deve ao modelo de transferência de tecnologia adotado pela instituição desde a década de 1970, que levou à criação de um programa na área de comunicações ópticas e, em seguida, ao desenvolvimento da primeira fibra óptica brasileira.

“Trata-se de um modelo simples, que passa da universidade para as indústrias por meio de centros de pesquisa e desenvolvimento, mas que contempla também a transferência de ‘cérebros’ – os pesquisadores são transferidos junto com a tecnologia, contribuindo para que não só ela avance, mas também o conhecimento”, disse na mesa-redonda.

Fragnito chamou a atenção para o papel da universidade no processo. “É preciso que as instituições, além de boas ideias, tenham pessoal adequadamente treinado para dar suporte ao pesquisador, criando um ambiente favorável à identificação de oportunidades. A Catalunha tem experiências positivas nesse sentido, especialmente em áreas ligadas à biotecnologia”, comentou.

É o caso do Vall d'Hebron Institut d’Oncologia (VHIO), em Barcelona, que atua na identificação de novos fundos de pesquisa e de patrocinadores externos e instituições filantrópicas para financiamento de inovações e fornece suporte administrativo, técnico e científico contínuo a pesquisadores, incluindo supervisão de procedimentos de patentes.

Para Laura Soucek, do VHIO, que também participou das discussões, o maior desafio é lidar com a dificuldade dos pesquisadores em tratar de desenvolvimento de negócios em suas áreas de atuação.

“É preciso ter na equipe alguém especializado em negócios e a universidade deve dar esse suporte aos pesquisadores. O Brasil, em termos de gerenciamento da transferência de tecnologia em projetos de grandes proporções, como o Sirius e outras iniciativas na Unicamp e nas demais universidades de São Paulo, está à frente e tem muito a ensinar com as pontes que estão sendo construídas entre instituições de pesquisa e empresas”, disse à Agência FAPESP.
 

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