Glaucia Souza e Carlos Graeff durante a abertura da mesa-redonda (foto: Felipe Maeda/Agência FAPESP)
Encontro promovido pela coordenação do Programa BIOEN-FAPESP reuniu pesquisadores e representantes dos setores público e privado. Um aumento rápido e substancial na produção de combustíveis de aviação sustentáveis foi a opção considerada mais consistente
Encontro promovido pela coordenação do Programa BIOEN-FAPESP reuniu pesquisadores e representantes dos setores público e privado. Um aumento rápido e substancial na produção de combustíveis de aviação sustentáveis foi a opção considerada mais consistente
Glaucia Souza e Carlos Graeff durante a abertura da mesa-redonda (foto: Felipe Maeda/Agência FAPESP)
José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – A aviação é responsável por 2% a 3% das emissões globais de gases de efeito estufa. Para que o planeta possa zerar sua taxa líquida (emissões menos absorções) até meados do século, em sintonia com o Acordo de Paris, o setor precisa contribuir com uma diminuição substancial de sua pegada de carbono. Conforme relatório da Agência Internacional de Energia (IEA), “é necessário reduzir o nível de emissões atualmente crescente para menos de 1.000 megatoneladas de CO2 [dióxido de carbono] até 2030”. Um caminho para isso – pontua o documento – é a rápida substituição dos combustíveis de base fóssil por combustíveis de aviação sustentáveis (SAF, na sigla em inglês).
Para conversar sobre o tema, enfocando especificamente os biocombustíveis para aviação, seus desafios e oportunidades, suas demandas de pesquisa e parcerias, os gestores do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) promoveram, no dia 5 de setembro, uma mesa-redonda com especialistas da área: o “BIOEN SAF Biocombustíveis para aviação”. O encontro desdobrou-se em dois painéis: “Tecnologias, Potencial de Produção” e “Aspectos Regulatórios, Sustentabilidade, Tecnologias de Uso”.
No primeiro painel, moderado por Rubens Maciel Filho e Luis Fernando Cassinelli, participaram Fernando Ramada Castro (C.B. & Associates), Camilo Abduch Adas (Be8) e Luciane Chiodi (Agroicone).
Um tema desenvolvido nesse primeiro painel foi o das rotas tecnológicas para a produção de SAF. Ramada Castro destacou como opção o hidroprocessamento de óleos vegetais, cujas moléculas são quimicamente semelhantes às dos hidrocarbonetos do petróleo, o que constitui uma vantagem do ponto de vista operacional. “O óleo de palma seria o melhor produto para fazer SAF. Primeiro, porque não forma goma. Portanto, não precisa ser degomado. Segundo, porque tem a cadeia molecular mais próxima à do SAF. Terceiro porque tem o menor número de duplas ligações. Portanto, requer menos hidrogênio para ser processado”, explicou.
Uma vantagem adicional, apresentada no debate, é que a palma pode se expandir sobre áreas de pastagens degradadas. E o Brasil tem um enorme estoque de terras nessas condições. Portanto, uma expansão substantiva da lavoura de palma não demandaria, em princípio, nenhum tipo de desmatamento.
Chiodi falou da necessidade de incentivos governamentais – federais e estaduais – para promover essa transição. Enquanto Adas ressaltou a necessidade de que ela se paute por uma visão integradora, que não isole uma variável, mas procure considerar o conjunto, afirmando que a sustentabilidade deve se apoiar sobre um tripé: precisa ser ambiental, econômica e social.
Symone Araújo, diretora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), foi por esse caminho em sua apresentação, no segundo painel do evento. A diretora lembrou que, como responsável pela oferta e qualidade dos combustíveis, é sua missão proteger o consumidor brasileiro, “principalmente aquele consumidor que não consegue se juntar em nenhuma associação”. E acrescentou ser atribuição da agência defender as mulheres de baixa renda, que gerenciam 48% dos lares brasileiros e são as primeiras a serem afetadas pela pobreza energética. “Nosso papel é garantir que a transição energética seja justa, inclusiva e solidária. Senão, reforçaremos modelos anteriores, em que avançamos na tecnologia, mas as pessoas ficaram para trás”, enfatizou.
Além de Araújo, participaram do segundo painel Otávio Cavalett (Boeing), Marjorie Mendes Guarenghi (Agroicone) e Marcelo de Freitas Gonçalves (Embraer). A moderação foi de Luiz Horta Nogueira e Joaquim Eugênio Seabra.
Guarenghi destacou o peso que o Brasil pode desempenhar nas negociações internacionais e a necessidade de sinergia com outros países emergentes. Um tópico importante, levantado tanto por Cavalett quanto por Gonçalves, foi a necessidade de rápida incorporação da tecnologia SAF às aeronaves e turbinas atualmente em construção. Gonçalves recordou um dado óbvio, mas que pode às vezes ser negligenciado: não se troca de aeronave como se troca de automóvel. Um avião construído agora estará voando nos próximos 30 anos e, se não voar com combustíveis sustentáveis, contribuirá para o aumento das emissões de gases de efeito estufa. Sua vida útil se estende até depois de 2050 – a data fatal para que o planeta alcance a desejada taxa líquida de emissão zero.
O evento “BIOEN SAF Biocombustíveis para aviação” foi aberto por Carlos Graeff, assessor da Diretoria Científica da FAPESP, que representou o diretor científico Marcio de Castro Silva Filho, e por Glaucia Mendes Souza, membro da coordenação do BIOEN. Graeff recordou que a FAPESP já apoiou mais de mil projetos de pesquisa em bionenergia. E Souza apresentou as linhas gerais do planejamento estratégico do BIOEN para a década 2020/2030. Aumentar o leque das fontes de biomassa é item importante do plano.
O evento “BIOEN SAF Biocombustíveis para aviação” pode ser assistido na íntegra em: fapesp.br/16261/bioen-saf-biocombustiveis-para-aviacao.
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