Da esquerda para a direita: no alto, Alexandre e Karen; abaixo, Kelly e Niels-Olsen (imagem: reprodução)

Saúde Mental
Especialistas defendem a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção do suicídio
09 de setembro de 2024

Participantes de evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação apontaram caminhos para prevenir mortes e cuidar dos enlutados

Saúde Mental
Especialistas defendem a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção do suicídio

Participantes de evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação apontaram caminhos para prevenir mortes e cuidar dos enlutados

09 de setembro de 2024

Da esquerda para a direita: no alto, Alexandre e Karen; abaixo, Kelly e Niels-Olsen (imagem: reprodução)

 

André Julião | Agência FAPESP – O suicídio é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública global. Estima-se que 700 mil pessoas no mundo morram anualmente por essa causa, 80% em países de renda média e baixa. No Brasil, em 2021, foram 15 mil mortes por suicídio (uma a cada 34 minutos), terceira maior causa de óbito entre jovens de 15 a 29 anos.

Como parte da campanha Setembro Amarelo, que busca chamar a atenção para o assunto, a prevenção ao suicídio foi tema do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, uma parceria entre o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e a FAPESP. O evento pode ser assistido pelo canal da Agência FAPESP no YouTube.

“Esse é um assunto extremamente importante, global e que afeta a sociedade, pesquisadores e governos de forma comum. É algo muito caro para a FAPESP, que se sente honrada em discutir com especialistas formas em que possa se engajar, junto com as instâncias governamentais e a sociedade, na prevenção do suicídio e da automutilação”, afirmou Niels Olsen Saraiva Câmara, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e assessor da Diretoria Científica da FAPESP, que mediou o evento.

Segundo Alexandre Andrade Loch, professor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), as taxas de suicídio têm aumentado nas últimas décadas e esse fenômeno precisa ser mais bem compreendido.

“Mais de 90% dos consumados tinham ao menos um diagnóstico de transtorno mental. Quem tem algum transtorno mental tem até seis vezes mais chance de cometer suicídio. Um dos melhores métodos de prevenção é o tratamento adequado de doenças mentais”, disse.

No entanto, é preciso buscar tratamento. Algo que nem sempre acontece por conta do estigma e da discriminação decorrentes do diagnóstico de doença mental.

“Quando se trata de depressão, apenas 28% a 47% buscam ajuda no primeiro ano da doença. O atraso na busca de ajuda varia de dois a oito anos, o que é bastante semelhante com outras doenças mentais”, afirmou.

Loch disse ainda que o estigma se manifesta por conta da baixa alfabetização em saúde mental, o pouco conhecimento sobre esses tipos de transtorno.

“Muita gente acha que depressão é preguiça, que ansiedade é ser afobado, que ideias de suicídio são um desejo de chamar a atenção. Dessa falta de conhecimento decorre o atraso no tratamento, podendo chegar a esse evento-limite que é o suicídio”, ressaltou.

Comunicação

Para Kelly Giacchero Vedana, professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e criadora do Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio (CEPS), é preciso compreender o desejo de não sentir dor das pessoas para então substituir ações guiadas pelo desespero e pela dor por medidas promotoras de saúde mental, incluindo uma ampliação das possibilidades de apoio e escolha para as pessoas que sofrem.

Diante disso, é muito importante levantar as necessidades de indivíduos e de contextos específicos para que se possa propor recursos estratégicos que contribuam com a prevenção.

“A prevenção precisa agrupar um conjunto de ações que seja fundamentado na literatura científica e também congruente com as necessidades, prioridades de cada contexto e dos indivíduos”, observou.

De acordo com a literatura científica existente, incluindo os trabalhos do grupo da pesquisadora, a comunicação sobre prevenção do suicídio pode exercer efeitos protetores ou de risco.

“Pode tanto favorecer uma melhor compreensão e manejo de diferentes situações, como pode contribuir com a perpetuação de alguns estigmas, com ações que sejam desvantajosas quando pensamos em prevenção”, afirmou.

Quando se fala de suicídio na internet, por exemplo, a pesquisadora notou que a maioria dos conteúdos mais populares, com mais curtidas e compartilhamentos, tem conteúdo pró-suicida.

“Nos preocupamos com os pedidos de ajuda que acontecem no ambiente virtual e como muitas pessoas fazem postagens sobre suicídio, mas reforçando crenças e julgamentos.”

Por conta disso, seu grupo desenvolveu uma série de materiais disponíveis on-line para contribuir com o letramento sobre saúde mental.

Posvenção

Karen Scavacini, diretora científica da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (Abeps) e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), falou sobre posvenção, todo cuidado prestado aos sobreviventes enlutados por um suicídio.

Segundo a pesquisadora, a OMS calcula que entre cinco e dez pessoas são impactadas por uma morte por suicídio, enquanto outros estudos falam em até 135 pessoas. “Se pensar no contexto de empresas, escolas, universidades, é mesmo um número maior. Claro que não da mesma forma, depende do vínculo com aquela pessoa”, disse.

Levando em conta as 800 mil pessoas que cometem suicídio no mundo por ano, são 108 milhões de pessoas impactadas. Enquanto no Brasil, considerando as 15 mil mortes em 2021, são 2 milhões de impactados.

A psicóloga afirmou que o luto por um suicídio tem diferenças daquele de mortes por outras causas: tende a ser maior, mais intenso e com julgamento da sociedade.

“A sociedade acolhe para outras causas e para o suicídio, não. Questionam se a pessoa percebeu, se não tinha visto nada. Quando não sabem dar as respostas, as pessoas buscam culpados. Não existem culpados, assim como não há causa única. Em uma morte por suicídio, o impacto no sistema familiar tende a ser muito maior”, contou.

Assim como políticas públicas para prevenir o suicídio, Scavacini ressalta a necessidade de que estas deem conta dos enlutados, além da urgência de mais pesquisas e debates sobre o tema.

O evento contou ainda com a presença do deputado estadual Dr. Elton, coordenador da Frente Parlamentar de Prevenção ao Suicídio, e Eliézer Ribeiro da Costa, gestor do ILP.

Para assistir ao evento acesse: https://youtu.be/ptQbEZ5XJLU.
 

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