Segundo Ester Sabino, o Brasil é um dos poucos países do G20 que não tem um sistema robusto e unificado de vigilância epidemiológica (foto: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP)
Proposta foi defendida pela professora da Faculdade de Medicina da USP Ester Sabino durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação
Proposta foi defendida pela professora da Faculdade de Medicina da USP Ester Sabino durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação
Segundo Ester Sabino, o Brasil é um dos poucos países do G20 que não tem um sistema robusto e unificado de vigilância epidemiológica (foto: Léo Ramos Chaves/Revista Pesquisa FAPESP)
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – A criação de um centro de vigilância nacional de epidemias que integre dados de todos os Estados brasileiros é uma necessidade urgente, dado o risco de surgirem novas epidemias e a recorrência de doenças como dengue, zika, febre amarela e COVID-19 no país. A avaliação foi feita por Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (CECTI).
O evento, realizado quinta (07/03) e sexta-feira (08/03) na Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, teve o objetivo de preparar as contribuições do Estado de São Paulo para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), marcada para ocorrer entre 4 e 6 de junho, em Brasília.
“O Brasil é um dos poucos países do G20 que não têm uma instituição desse tipo. Precisamos pensar em um sistema robusto e unificado de vigilância. O surgimento de novos agentes infecciosos está ocorrendo de modo mais frequente e as epidemias têm custos humanos e econômicos enormes. Todos sabemos o custo da COVID-19, houve uma retração de US$ 6,3 trilhões na economia mundial. O custo de todas essas ações para tentar prevenir é sempre muito menor”, afirmou Sabino, que coordena o Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), financiado pela FAPESP e pela agência britânica de fomento à pesquisa em saúde Medical Research Council.
A pesquisadora explicou que as infecções emergentes – doenças infecciosas novas ou identificadas recentemente – são um grande risco global, cuja incidência tem aumentado. Nas últimas décadas, mais de 30 mil patógenos foram descobertos, sendo 60% das novas doenças transmitidas por animais (zoonoses).
Segundo a pesquisadora, essas questões de saúde pública estão conectadas com a saúde dos animais e do meio ambiente. Um exemplo dessa conexão é o novo avanço da dengue no país. A despeito dos repetitivos surtos e epidemias registrados nos últimos 40 anos, as recentes ondas de calor intensificaram a proliferação do mosquito causador da doença, aumentando o número de casos.
“Sabemos que existe essa conexão entre saúde e natureza, no entanto, cada área de pesquisa é tão separada que fica difícil criar uma política. Na questão de vigilância, eu priorizaria a questão da água. É na água que estão compostos químicos e microrganismos que podem afetar a nossa saúde e a dos animais”, explicou a pesquisadora.
Sabino se refere ao conceito de saúde global – One Health – que versa sobre a conexão entre saúde humana, do ambiente e dos animais. Um exemplo de como essa abordagem funciona é o monitoramento da água (rios urbanos e estações de tratamento), que permitiria detectar o surgimento de uma nova epidemia com até três semanas de antecedência da primeira alta de casos.
Para a pesquisadora, o combate a essas doenças deveria começar a ser organizado antes de elas se tornarem epidemias. “Mas ainda não sabemos quais ações são efetivas. Não existe, por exemplo, um método para avaliar o impacto das políticas públicas realizadas nos últimos anos. Fora isso, é muito difícil conseguir dados. No caso da dengue, estamos trabalhando no escuro”, disse.
"Há ainda a questão da perda de força dos Institutos de Pesquisa, que enfraquece a vigilância dessas doenças. É preciso organizar a nossa capacidade de vigilância em todas as áreas e integrar pesquisadores e institutos. O SUS [Sistema Único de Saúde] é o maior programa de transferência de renda no Brasil. Precisamos de pesquisa no SUS”, afirmou.
A pesquisadora acredita que a nova vacina contra a dengue, que passou a ser disponibilizada recentemente pela rede pública, deve ajudar. “Espero que consiga controlar a doença. Mas, em questão de arboviroses, sempre estão surgindo novas, como ocorreu com o vírus zika em 2015 e, agora, com o Oropouche, que está circulando na Amazônia e pode se tornar uma nova epidemia no Brasil”, avaliou.
A sessão “Meio ambiente e Diversidade Biológica”, realizada na manhã de sexta-feira, abordou os temas: Agronegócio e sustentabilidade, Produção de alimentos e segurança alimentar, Meio ambiente e Saúde Global, Recursos hídricos e Aquicultura sustentável. Além de Sabino, participaram: Carlos Joly (Universidade Estadual de Campinas), Suzan Pantaroto (Universidade Federal de São Paulo), Eloísa Garcia (Instituto de Tecnologia de Alimentos), Raffaella Rosseto (Instituto Agronômico) e Jefferson Nascimento de Oliveira (Universidade Estadual Paulista), Tavani Rocha Camargo (Startup Sample).
O vídeo com as sessões realizadas na manhã de quinta-feira pode ser acessado em: www.youtube.com/watch?v=RUdNToDzaxM.
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