Wagner Ribeiro, da USP, defende uma visão ampla e integrada para a gestão de recursos hídricos no Brasil (foto: E. Geraque)
Cientistas como Wagner Costa Ribeiro (foto) e Aldo Rebouças defendem, em mesa-redonda na USP, uma visão mais ampla e integrada para a gestão de recursos hídricos no Brasil. Conflitos internacionais pela água deverão ser freqüentes no futuro
Cientistas como Wagner Costa Ribeiro (foto) e Aldo Rebouças defendem, em mesa-redonda na USP, uma visão mais ampla e integrada para a gestão de recursos hídricos no Brasil. Conflitos internacionais pela água deverão ser freqüentes no futuro
Wagner Ribeiro, da USP, defende uma visão ampla e integrada para a gestão de recursos hídricos no Brasil (foto: E. Geraque)
Agência FAPESP - Nenhum dos pesquisadores que participou da mesa-redonda Recursos hídricos e gestão integrada de bacias hidrográficas, nesta terça-feira (31/8), durante a 2ª Semana de Meio Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), contrariou a tese de que as leis para gerir a água no Brasil são modernas. O problema, segundo eles, é outro: o modo como esses comitês de bacias estão funcionando na maior parte das vezes.
"As dificuldades que podemos descrever são várias", disse o geógrafo Wagner Costa Ribeiro, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, durante o evento. Para o professor, especialista em questões socioambientais a partir de uma ótica internacional, um problema sério está no que chama de "excesso de localismo".
Segundo Ribeiro, na maior parte dos comitês de bacias hidrográficas que estão em atividade no Brasil – por lei, essas instâncias de decisão precisam ter participantes, em proporções iguais, do governo, da sociedade civil organizada e dos usuários – existe uma postura exacerbada de defesa do aspecto local unicamente.
"Somos uma Federação. Se essa tese de olhar apenas o local se consolidar, por exemplo, poderemos viver situações inusitadas. Uma região com excesso de água não poderá fornecer um pouco para uma área vizinha, que tenha déficit hídrico?", questiona o pesquisador.
Além de propor uma visão nacional do problema da água, o geógrafo da USP vai além. "O Brasil, nas projeções feitas por instituições internacionais, aparece com uma situação relativamente favorável até 2025", explica. É bem provável, segundo Ribeiro, que o país seja um dos fornecedores de água para outras nações por causa das bacias Amazônica e do Prata. "Os países que precisarão de água irão buscar onde for preciso."
Dentro do mapa projetado no seminário da USP fica claro que as regiões do rio Nilo (Egito, Etiópia e Sudão), do rio Jordão (Israel, Palestina, Jordânia, Síria e Líbia), do rio Grande (fronteira entre México e Estados Unidos) e dos rios Tigre e Eufrates (Iraque, Síria e Turquia) serão, muito provavelmente, palcos de guerras por causa da água nas próximas décadas. "Das cerca de 250 bacias hidrográficas no mundo, em 80 existe algum tipo de conflito", conta.
Outro especialista em recursos hídricos, o também geógrafo da USP Aldo Rebouças, ressalta a importância do aspecto político que funciona como um dos pilares dos comitês de bacia. "Antes, o governador poderia bater na mesa e fazer o que bem quisesse. Hoje, isso mudou. Na verdade, o grande desafio agora é exatamente esse, passar de um postura centralizadora para decisões mais democráticas", afirma Rebouças, que também é adepto de se aplicar uma visão mais sistêmica ao problema da água.
"Compromisso com a cidadania e com as gerações futuras" deveriam ser os principais lemas, de acordo com Ribeiro, em qualquer discussão que envolvesse o problema da água. Para se chegar até eles, entretanto, fica a questão de se conciliar os diversos atores sociais e os vários interesses que envolvem a questão da água.
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