Compreender o papel dos fertilizantes nas emissões de gases de efeito estufa é importante para garantir impacto ambiental positivo no uso de etanol como biocombustível, destaca Heitor Cantarella, do IAC (fotos: Eduardo Cesar e Apta)

Equação ambiental
12 de agosto de 2009

Compreender o papel dos fertilizantes nas emissões de gases de efeito estufa é importante para garantir impacto ambiental positivo no uso de etanol como biocombustível, destaca Heitor Cantarella, do IAC e do BIOEN

Equação ambiental

Compreender o papel dos fertilizantes nas emissões de gases de efeito estufa é importante para garantir impacto ambiental positivo no uso de etanol como biocombustível, destaca Heitor Cantarella, do IAC e do BIOEN

12 de agosto de 2009

Compreender o papel dos fertilizantes nas emissões de gases de efeito estufa é importante para garantir impacto ambiental positivo no uso de etanol como biocombustível, destaca Heitor Cantarella, do IAC (fotos: Eduardo Cesar e Apta)

 

Por Fábio de Castro, de Atibaia

Agência FAPESP – Diminuir as emissões dos gases de efeito estufa (GEE) que causam o aquecimento global é uma das principais razões para o atual esforço internacional que visa à substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia limpa, como o etanol da cana-de-açúcar. Mas os fertilizantes necessários para a produção do biocombustível podem ter um papel na própria emissão de GEE.

Esse papel do uso de fertilizantes nas emissões precisará ser cuidadosamente estudado para que seja possível compreender o balanço ambiental da cultura canavieira, de acordo com Heitor Cantarella, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), e especialista em fertilidade do solo e adubação.

Cantarella participou, na terça-feira (11/8), do workshop Tecnologias em biocombustíveis e suas implicações no uso da água e da terra, que está sendo realizado em Atibaia (SP) até o dia 12 de agosto. O evento é promovido pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Biotecnologia para o Bioetanol.

Segundo Cantarella, que é um dos coordenadores do BIOEN, o nitrogênio contido nos fertilizantes utilizados na lavoura de cana-de-açúcar tem papel significativo em relação aos GEE.

“Quando usamos a cana-de-açúcar para produzir biocombustível temos que avaliar o impacto dessa cultura no balanço de GEE. O nitrogênio entra nessa equação porque ao penetrar no solo, por meio de reações microbiológicas, ele provoca a liberação de pequenas quantidades de óxido nitroso, um importante GEE”, disse Cantarella à Agência FAPESP.

A intensidade do efeito estufa provocado por cada molécula de óxido nitroso é quase 300 vezes maior do que aquele causado por uma molécula de dióxido de carbono, segundo Cantarella. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) aponta que cerca de 1% do fertilizante nitrogenado utilizado em plantações acaba sendo enviado à atmosfera na forma de óxido nitroso.

“Mas é importante observar que os números do IPCC são gerais. Existem poucas avaliações sobre a produção do óxido nitroso aplicado à cultura de cana-de-açúcar. É preciso medir, nas condições de produção da cana, qual é a real contribuição da adubação nitrogenada”, disse.

De acordo com ele, no caso da cana-de-açúcar, o fato de a adubação nitrogenada ser feita em época relativamente seca cria condições teoricamente pouco favoráveis para a produção de óxido nitroso no solo. Mas a falta de estudos impede uma avaliação precisa. “Esse número precisa ser avaliado na prática”, afirmou.

A cultura canavieira continua se expandindo em São Paulo e essa tendência deverá prosseguir. “Apesar da expansão, do ponto de vista ambiental o problema da emissão de óxido nitroso não é tão grande. Por outro lado, ele adquire uma importância crucial quando fazemos um balanço ambiental de uma cultura que tem a mitigação das emissões de GEE entre seus objetivos”, disse.

O uso de fertilizantes na cultura de cana-de-açúcar, de acordo com o também presidente do Conselho Curador da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola, é, em geral, bastante eficiente. Com a mesma quantidade de adubo utilizada em outras culturas, a cana tem uma produção muito maior de biomassa.

“Ainda assim, a cultura de cana-de-açúcar, por sua extensão, responde por uma parcela de 13% a 17% de todo o fertilizante utilizado na agricultura brasileira”, afirmou.

Novos desafios

O principal obstáculo à eficiência das práticas de adubação na cultura canavieira no estado diz respeito a mudanças tecnológicas recentes. “Com o aumento das áreas com colheita mecanizada, temos uma grande quantidade de palha na superfície do solo. Isso dificulta a incorporação de fertilizantes, que muitas vezes são deixados expostos. E um dos principais fertilizantes nitrogenados usados nessa cultura, a ureia, está sujeito a grandes perdas por volatilização”, explicou Cantarella.

Uma das soluções possíveis para o problema, segundo ele, seria o uso de outra fonte diferente da ureia. “Mas esse tipo de alternativa é mais cara e menos abundante”, disse.

Outras soluções viáveis seriam a incorporação mecânica, ou uso de aditivos que reduzissem perdas. “Não temos ainda uma solução prática e econômica bem estabelecida. É um desafio que temos que resolver”, afirmou.

Outro tema que necessita mais estudos, aponta, é o papel de determinadas bactérias associadas à cultura da cana na fixação de nitrogênio da atmosfera. Essa alternativa de fixação biológica do nitrogênio poderia reduzir a necessidade de fertilizantes – o que teria grandes impactos ambientais e econômicos.

“Mas a magnitude dessa fixação ainda não está bem estabelecida. Os números da literatura são bastante variáveis. Nosso desafio é estabelecer essa contribuição e descobrir se podemos melhorá-la – seja com a inoculação de microrganismos mais eficientes ou pela seleção de variedades de cana-de-açúcar que respondam melhor ao processo”, disse.
 

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