Livro conta como o vibrião do cólera chegou a Belém – e ao Brasil – em 1855, provocando a morte de mais de 1,4 mil pessoas em menos de um ano

Epidemia importada
06 de julho de 2004

Jane Felipe Beltrão, da Universidade Federal do Pará, conta em livro como o vibrião do cólera chegou a Belém – e ao Brasil – em 1855, provocando a morte de mais de 1,4 mil pessoas em menos de um ano

Epidemia importada

Jane Felipe Beltrão, da Universidade Federal do Pará, conta em livro como o vibrião do cólera chegou a Belém – e ao Brasil – em 1855, provocando a morte de mais de 1,4 mil pessoas em menos de um ano

06 de julho de 2004

Livro conta como o vibrião do cólera chegou a Belém – e ao Brasil – em 1855, provocando a morte de mais de 1,4 mil pessoas em menos de um ano

 

Agência FAPESP - A galera portuguesa Deffensor partiu superlotada da cidade do Porto, em Portugal. Grande parte da tripulação era formada por colonos que prestariam serviços à Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas. Em maio de 1855, a embarcação atracou em Belém, no Pará. Durante a viagem, que durou cerca de um mês, 36 marinheiros morreram vítimas de uma estranha moléstia.

Segundo a antropóloga Jane Felipe Beltrão, da Universidade Federal do Pará (UFPA), esse é o início da história do cólera no Estado e também no Brasil. No mês seguinte, a doença infecciosa aguda já atingia a Bahia e, em julho, o Rio de Janeiro, espalhando-se em seguida para outras regiões. A origem do cólera no país está no livro Cólera, o flagelo da Belém do Grão-Pará, que acaba de ser lançado por Jane em publicação conjunta da UFPA e do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Os registros da época indicam que, em menos de um ano, 1.433 pessoas morreram em Belém por causa da doença. Todos estariam sepultados no Cemitério da Soledade. Segundo Jane, esses números estariam subestimados. A pesquisadora tem indícios de que os escravos, por exemplo, que morreram por causa do cólera, não foram contabilizados, pois não costumavam ser enterrados no cemitério.

Ao contextualizar a história da população da capital paraense em meados do século 19, a autora ressalta que não foi apenas o cólera que reduziu a população. A doença chegou ao lado da febre amarela, da varíola e da Revolta da Cabanagem, levante popular que durou de 1835 a 1840.

Na época, o Pará contava com apenas 23 médicos para um população de mais de 247 mil habitantes. Os médicos tiveram dificuldades para identificar a doença, o que contribuiu para o aumento das mortes. O diagnóstico correto, segundo Jane, foi dado pela primeira vez pelo médico Américo Santa Rosa, que também era contra o tratamento por sangria, algo bastante comum na época.

Debilitados pela doença, os doentes ainda tinham que sobreviver ao tratamento indicado pela maioria dos médicos, em que uma veia do paciente era cortada. A sangria era interrompida apenas quando 400 mililitros de sangue havia escorrido. A justificativa era que o sangue mais grosso – uma das conseqüência reais do cólera – causava o entumescimento da veia, processo que, segundo se acreditava, precisaria ser evitado. Até barbeiros se tornaram especialistas da técnica, freqüentemente fatal.


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