Estudo feito na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP indica que pacientes com enxaqueca crônica têm o triplo de chances de sofrer de disfunção temporomandibular severa (foto: Wikimedia Commons)

Enxaqueca está associada à dor na articulação da mandíbula com o crânio
22 de agosto de 2017

Estudo feito na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP indica que pacientes com enxaqueca crônica têm o triplo de chances de sofrer de disfunção temporomandibular severa

Enxaqueca está associada à dor na articulação da mandíbula com o crânio

Estudo feito na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP indica que pacientes com enxaqueca crônica têm o triplo de chances de sofrer de disfunção temporomandibular severa

22 de agosto de 2017

Estudo feito na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP indica que pacientes com enxaqueca crônica têm o triplo de chances de sofrer de disfunção temporomandibular severa (foto: Wikimedia Commons)

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Sabe-se que, de alguma forma, a enxaqueca está relacionada a dores nos músculos da mastigação. Mas a relação com a disfunção temporomandibular (DTM) – que ocorre na articulação da mandíbula com o crânio – era feita independentemente da frequência da enxaqueca.

Em estudo recém-publicado, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMPR) da Universidade de São Paulo descrevem que quanto mais frequente for a enxaqueca (migrânea crônica) mais severos serão os sintomas de DTM, como dificuldade de mastigação e tensão na articulação temporomandibular.

“Nosso estudo mostrou que um paciente que apresente migrânea crônica – aquela que ocorre em 15 ou mais dias por mês – tem o triplo de chances de relatar sintomas mais severos de DTM, se comparado a pacientes com migrânea episódica”, disse Lidiane Florencio, autora do estudo que integra o Projeto Temático “Estudo da associação de aspectos clínicos, funcionais e de neuroimagem em mulheres com migrânea”, apoiado pela FAPESP.

Os dados foram publicados no Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics. O estudo avaliou 84 mulheres na faixa dos 30 anos. Vinte e uma apresentavam migrânea crônica, 32 migrânea episódica e 32 não tinham migrânea.

Foram observadas taxas de prevalência de sinais e sintomas de DTM em 54% das mulheres sem enxaqueca, 80% das mulheres com enxaqueca episódica e em 100% daquelas que apresentavam enxaqueca crônica.

Para Florencio, a justificativa da associação entre frequência da enxaqueca e severidade da DTM pode estar nos níveis mais elevados de sensibilização desses pacientes.

“A repetição de casos de enxaqueca pode amplificar a sensibilização à dor. Nossa hipótese é que a enxaqueca atue como um fator que predispõe à DTM. Por outro lado, a DTM pode ser considerada um fator de perpetuação potencial para a enxaqueca, pois atua como uma entrada nociceptiva [de recepção de estímulos aversivos] constante que contribui para manter a sensibilização central e os processamentos anormais de dor”, disse.

Quem veio primeiro

DTM e enxaqueca são comorbidades. No entanto, embora haja uma predisposição de quem tem enxaqueca apresentar DTM, não necessariamente quem tem DTM apresentará enxaqueca.

“Quando o paciente tem enxaqueca, há maior chance de ele apresentar sinais e sintomas de DTM, já o inverso não é verdadeiro. Há casos de pacientes com DTM severa sem apresentar nenhum quadro de enxaqueca”, disse Débora Grossi, orientadora do estudo e coordenadora do Projeto Temático.

Os pesquisadores estimam, no entanto, que, embora a DTM não seja a causa da enxaqueca, ela pode facilitar a frequência e severidade de uma nova crise.

“O que sabemos é que a migrânea não é causada pela DTM. A enxaqueca é uma doença neurológica com causas multifatoriais. Já a DTM, assim como a cervicalgia e outras doenças musculoesqueléticas, é um conjunto de fatores que piora a sensibilidade de quem tem enxaqueca. O fato de ter a DTM pode piorar a migrânea, tanto em severidade quanto em frequências”, disse Florencio.

Tanto enxaqueca quanto DTM têm mecanismos patológicos muito parecidos. A enxaqueca é uma condição que afeta 15% da população em geral, sendo que 2,5% delas têm progressão na forma crônica.

A DTM tem causas multifatoriais, como o estresse e a sobrecarga muscular. Ela é um conjunto de sinais e sintomas em que o paciente pode ter sinais e sintomas articulares, como dor na articulação, redução dos movimentos da mandíbula e estalidos, podendo apresentar também um quadro muscular, como dor e cansaço muscular, ou irradiação da dor na musculatura da face e pescoço.

Diante dos resultados, os pesquisadores defendem que pacientes com enxaqueca devem ter os sinais e sintomas da DTM clinicamente examinados.

“Os dados obtidos mostram que a relação com a DTM, apesar de existir, é menor em quem tem poucas crises de enxaqueca, ou enxaqueca episódica. Só essa informação já deveria mudar a forma de avaliar esse paciente. Se quem tem enxaqueca tende a ter DTM mais severa, é preciso então que os profissionais de saúde avaliem nos pacientes com enxaqueca se ele apresenta sinais de sintomas de DTM”, disse Grossi.

O artigo Association Between Severity of Temporomandibular Disorders and the Frequency of Headache Attacks in Women With Migraine: A Cross-Sectional Study (https://doi.org/10.1016/j.jmpt.2017.02.006), de Lidiane Lima Florencio, Anamaria Siriani de Oliveira, Gabriela Ferreira Carvalho, Fabiola Dach, Marcelo Eduardo Bigal, César Fernández-de-las-Peñas, pode ser lido em www.jmptonline.org/article/S0161-4754(17)30045-3/pdf.
 

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