Da esquerda para a direita: Patricia Marques Castilho, Gustavo Wiederhecker, Jens Eisert e Felipe Fanchini (foto: Elton Alisson/Agência FAPESP)
Hospital Albert Einstein cria grupo de pesquisa para avaliar potenciais usos da tecnologia; projeto foi apresentado durante a FAPESP Week Alemanha
Hospital Albert Einstein cria grupo de pesquisa para avaliar potenciais usos da tecnologia; projeto foi apresentado durante a FAPESP Week Alemanha
Da esquerda para a direita: Patricia Marques Castilho, Gustavo Wiederhecker, Jens Eisert e Felipe Fanchini (foto: Elton Alisson/Agência FAPESP)
Elton Alisson, de Berlim | Agência FAPESP – O Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, iniciou um projeto para avaliar a aplicação de computação quântica para desenvolver novos medicamentos, avançar na compreensão da genômica e melhorar o diagnóstico de algumas doenças.
“A ideia é criar um grupo de computação quântica no centro de pesquisa do hospital. Estamos começando essa pesquisa agora. Sabemos que há um longo caminho para usar e aplicar essa tecnologia, mas acreditamos que pode ter um grande impacto na sociedade”, disse Felipe Fanchini, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Bauru e participante do projeto, em palestra apresentada durante a FAPESP Week Alemanha.
O hospital é uma das empresas brasileiras que começaram a explorar recentemente a aplicação de conhecimentos desse novo campo interdisciplinar, situado na intersecção da física, matemática, ciência da computação e engenharia, com potenciais impactos em diversas áreas.
“Há uma série de potenciais aplicações industriais de computação quântica que podem solucionar problemas em áreas como logística, serviços financeiros, saúde e ciências biológicas. Podemos usar computador quântico para resolver problemas práticos, da mesma forma que usamos computadores clássicos”, afirmou.
Em colaboração com mais dois colegas, o pesquisador fundou uma startup, batizada QuaTI, que pretende desenvolver tecnologias baseadas em informação e computação quântica.
Uma das tecnologias em desenvolvimento na startup visa prever formação de chuvas intensas, relacionadas a desastres naturais recentes, como as enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul em 2024.
“A ideia é tentar usar a computação quântica para, de alguma forma prever e enviar alertas para a população, de modo a mitigar os problemas causados por esses eventos extremos”, destacou Fanchini.
Para isso, os pesquisadores desenvolveram uma estação que coleta dados pluviométricos, recém-instalada em São Carlos, no interior paulista. Para analisar os dados coletados e realizar as previsões, serão empregados aprendizado de máquina e algoritmos de otimização quântica.
Também chamados de híbridos, esses algoritmos permitem tirar vantagens do atual estágio de desenvolvimento dos computadores quânticos, explicou o pesquisador.
“Os computadores quânticos atuais estão em uma escala intermediária e são sujeitos a ruídos. Diante desse cenário, surgiu a necessidade de desenvolver algoritmos que pudessem ter alguns parâmetros ajustados por computadores clássicos e ser processados nos computadores quânticos atuais, de modo a diminuir o ruído”, explicou Fanchini à Agência FAPESP.
“Os algoritmos quânticos têm o potencial de transformar profundamente uma ampla gama de campos, da ciência de dados à saúde, e até mesmo ajudar a mitigar os impactos das mudanças climáticas. Todos os sinais apontam para o progresso, mas somente com computadores quânticos menos ruidosos será possível validar verdadeiramente esse potencial e transformar essas promessas em realidade”, ponderou.
A opinião é compartilhada por Jeins Eisert, pesquisador do Centro Dahlem para Sistemas Quânticos Complexos da Universidade Livre de Berlim. Em sua palestra, o cientista avaliou que a computação quântica tem o potencial de estabelecer novos paradigmas na supercomputação. No entanto, antes que esse potencial possa ser totalmente realizado, várias questões críticas de pesquisa devem ser abordadas.
“Os países latino-americanos, especialmente o Brasil, têm sido particularmente ativos no campo de tecnologias quânticas, oferecendo inúmeras oportunidades para colaboração futura”, avaliou.
Diminuição da dependência
A fim de diminuir a dependência dos principais desenvolvedores de computadores quânticos e supercondutores, como os Estados Unidos e a China, a Alemanha vem realizando investimentos na área. Uma das principais iniciativas recentes nesse sentido foi a criação do Munich Quantum Valley, mostrou Christian Schneider, professor da Faculdade de Computação, Informação e Tecnologia da Universidade Técnica de Munique.
No ano passado, o país começou a operar seu primeiro computador quântico híbrido. “Esses projetos regionais ilustram esforços para promover experiência acadêmica independente e autossuficiência tecnológica, que são essenciais para reduzir a dependência de players globais dominantes”, avaliou o pesquisador.
Mais informações sobre a FAPESP Week Alemanha em: fapesp.br/week/2025/germany.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.