Cientistas paulistas e mexicanos trocam informações sobre tecnologias em desenvolvimento durante workshop promovido na FAPESP (foto: Felipe Maeda / Agência FAPESP)
Cientistas paulistas e mexicanos trocam informações sobre tecnologias em desenvolvimento durante workshop promovido na FAPESP
Cientistas paulistas e mexicanos trocam informações sobre tecnologias em desenvolvimento durante workshop promovido na FAPESP
Cientistas paulistas e mexicanos trocam informações sobre tecnologias em desenvolvimento durante workshop promovido na FAPESP (foto: Felipe Maeda / Agência FAPESP)
André Julião | Agência FAPESP – O combate a doenças transmitidas por mosquitos – como dengue, febre amarela, zika e chikungunya – é um tema que mobiliza pesquisadores do meio acadêmico e também de empresas. No Brasil e no México, países onde essas arboviroses têm alta incidência, produtos inovadores estão sendo desenvolvidos para combater o Aedes aegypti.
Alguns desses projetos foram apresentados durante um workshop promovido pela FAPESP e pelo International Development Research Centre (IRDC), instituição mantida pelo governo canadense que apoia pesquisas em países em desenvolvimento.
“Esse encontro possibilitou um intercâmbio entre empresas e pesquisadores apoiados pela FAPESP, em São Paulo, e pelo IDRC, no México. Para nós, é de alta prioridade o desenvolvimento de parcerias com fundações e agências na América Latina. Por isso, é estratégico trabalhar com a FAPESP”, disse Roberto Bozzano, especialista sênior de programas do IDRC.
As empresas paulistas são apoiadas por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e desenvolvem tecnologias para combater o mosquito, uma das ações apontadas por especialistas como estratégicas para o combate às arboviroses.
Rodrigo Perez, presidente da BR3, apresentou o DengueTech, um biolarvicida à base de bactérias – inofensivas para humanos e animais – capazes de combater larvas. O projeto contou com apoio da FAPESP e da Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) por meio do Programa PAPPE/PIPE Subvenção.
O produto foi desenvolvido em parceria com a Fiocruz e já está disponível no mercado. É composto por uma forma modificada do BTI (sigla para Bacillus thuringiensis, sorotipo israelensis).
Os tabletes podem ser aplicados em pratinhos de plantas, caixas d’água e mesmo em água potável, locais que podem funcionar como criadouros do mosquito.
“O produto é altamente seletivo para o A. aegypti e, portanto, não afeta abelhas ou outros insetos. A ideia é que ele seja usado tanto em campanhas de saúde pública quanto em residências, pelas famílias, transformando pequenos criadouros em armadilhas contra o mosquito. Esse controle pode ser feito de forma sustentável e preventiva, ao longo de todo o ano, de modo a suprimir o vetor das doenças”, disse Perez. Um pequeno tablete do DengueTech tem ação de até 60 dias.
Inseticidas biodegradáveis
Também aplicado nos potenciais criadouros do mosquito, o AMS, tecnologia criada pelo Matlabs, de Sorocaba, forma uma película sobre a água que impede o desenvolvimento do mosquito, sendo eficaz em todas as fases do ciclo de vida. A pesquisa contou com apoio da FAPESP.
O líquido, à base de compostos naturais, é dispensado por um dosador, programado para liberar quantidades suficientes para proteger a água antes de o produto ser degradado.
“Desenvolvemos um inseticida que pode ser usado em sistemas de água potável. O produto não intoxica o inseto, mas causa a morte por uma ação majoritariamente física. Ainda está em fase de experimentos que visam provar a segurança de aplicação. Mas os ativos são biodegradáveis e não contaminam o ambiente”, disse Gedeão Klarosk Perez, fundador da empresa.
O desenvolvimento de inseticidas alternativos é importante porque a maior parte dos produtos disponíveis no mercado é poluente e pode gerar resistência nos mosquitos. O tema foi abordado por cientistas da empresa Promip, sediada em Engenheiro Coelho (SP), que desenvolveu uma tecnologia para avaliar o potencial de resistência dos vetores.
A equipe fez um estudo em 130 cidades do Brasil para avaliar como a resistência dos mosquitos variava de um município para o outro. Esse tipo de conhecimento permite escolher o produto mais eficaz para uma determinada região antes de iniciar campanhas de saúde pública, por exemplo.
A pedido do Ministério da Saúde e com apoio, a empresa desenvolveu um teste que mostra a resistência a diferentes produtos disponíveis no mercado e indica o mais adequado para cada cidade pesquisada.
“Coletamos os ovos do mosquito em campo e levamos para o laboratório para testes. Uma molécula chamou nossa atenção por promover uma baixa mortalidade. Curiosamente, ela tem o mesmo mecanismo de ação de um outro produto largamente usado em campanhas de combate ao mosquito no Brasil inteiro”, disse Guilherme Trivelatto, consultor de manejo de vetores da Promip.
Repelentes, tinta e tela
O desenvolvimento de novos repelentes é explorado por algumas empresas e grupos de pesquisa que participaram do workshop. A Nanomed, de São Carlos, desenvolveu um sistema de liberação controlada de óleo essencial para ser usado em repelentes de mosquito. O produto aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercializado.
“É um ativo completamente novo para esse tipo de uso. Por meio de nanotecnologia, ele é liberado aos poucos na pele e protege por mais tempo”, disse Amanda Luizetto dos Santos, sócia-fundadora da empresa, que teve apoio da FAPESP e da Finep por meio do Programa PAPPE/PIPE Subvenção.
O encapsulamento de outro óleo essencial, de citronela, é objeto de estudo de um projeto apoiado pela FAPESP e conduzido por Vânia Rodrigues Leite e Silva, professora do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (ICAQF-Unifesp), em Diadema.
Já a empresa Chemyunion realiza simulações computacionais para chegar a moléculas com potencial para servirem como princípio ativo de novos repelentes. Após 100 mil compostos candidatos, os pesquisadores chegaram a cinco que deverão ser testados em breve.
Os pesquisadores mexicanos apoiados pelo IDRC apresentaram uma tinta que libera inseticida encapsulado por meio de nanotecnologia, protegendo residências e escolas públicas por pelo menos um ano e meio. O projeto foi apresentado por Jorge Méndez, pesquisador do Hospital Infantil do México, e Mauro Corral, da empresa Codequim, que estão analisando a eficácia e a segurança do produto para comercialização no México.
Outro projeto apoiado pelo IDRC foi apresentado por Pablo Manrique e Norma Pavia, pesquisadores da Universidad Autónoma de Yucatán, Rosa Mendez Vales, da Secretaria de Saúde de Yucatán, e Alfonso Flores Leal, da empresa Public Health Supply and Equipment de Mexico. Eles desenvolveram uma tela especial para portas e janelas. Além de impedir a entrada de insetos nas residências, o produto tem um inseticida em sua composição que mata os mosquitos, aumentando ainda mais sua eficiência.
A comitiva mexicana foi composta ainda por Federico Gómez, especialista em epidemiologia e controle de doenças transmitidas por vetores, e Erick Azamar Cruz, do Hospital de Alta Especialidade de Oaxaca.
Linhas transgênicas de mosquitos
A pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) Margareth Capurro apresentou no evento estudos voltados ao desenvolvimento de mosquitos transgênicos e defendeu a necessidade de combinar diferentes estratégias para o combate às arboviroses.
“É preciso um controle integrado. Não será apenas uma abordagem que vai dar conta das doenças. No entanto, a erradicação [dos mosquitos] é um ponto central do controle”, disse.
Segundo a pesquisadora, além da erradicação são necessárias medidas de educação da população, desenvolvimento de vacinas, eliminação de potenciais criadouros, como pneus, garrafas e depósitos de lixo, e uso de larvicidas e inseticidas (leia mais em: agencia.fapesp.br/28078).
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