Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, único do gênero no hemisfério Sul, enfrenta problemas orçamentários para se manter e dar conta da demanda de pesquisa. "O laboratório morre se parar de inovar", diz o diretor-geral, José Antonio Brum
Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, único do gênero no hemisfério Sul, enfrenta problemas orçamentários para se manter e dar conta da demanda de pesquisa. "O laboratório morre se parar de inovar", diz o diretor-geral, José Antonio Brum
Agência FAPESP – Desde que entrou em plena operação, em 1997, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), localizado em Campinas, no interior paulista, não pára de crescer e receber melhorias, produzindo conhecimento sobre novas propriedades dos átomos e moléculas, com aplicação em áreas como nanotecnologia, biologia estrutural e desenvolvimento de novos materiais. Mas o único laboratório do gênero no hemisfério Sul tem enfrentado dificuldades para se manter.
De acordo com o diretor-geral do LNLS, José Antonio Brum, o laboratório precisará de uma recomposição orçamentária, uma vez que tem crescido constantemente e que cada novo incremento aumenta o custeio de operação. "Cada vez que há um investimento, precisamos de mais 10% do valor para operar nas novas condições", disse Brum à Agência FAPESP, nesta segunda-feira (12/2), primeiro dos dois dias da 17ª Reunião Anual de Usuários de Luz Síncrotron.
O orçamento do laboratório, mantido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, cresceu 80% desde 1999, segundo Brum, mas, considerando a inflação no período, o aumento real foi de 5%. O orçamento de 2006 foi de pouco mais de R$ 21 milhões.
Entre 1999 e 2006, o laboratório passou de oito para 12 linhas de luz – conjuntos de componentes acoplados ao acelerador circular de elétrons para levar a luz síncrotron da máquina para as estações onde são realizadas experiências.
Outras três estão em fase de comissionamento. O LNLS ganhou ainda dois dispositivos de inserção, que aumentam a energia do equipamento, e a operação do anel passou de 16 para 22 horas diárias. Em 1999, o laboratório recebeu 226 experimentos. Em 2006 foram feitos 720.
Segundo Brum, em todo o mundo um laboratório dessas dimensões está sempre em construção – o próprio LNLS começou a ser construído em 1987 e só entrou em operação dez anos depois. "Com o orçamento comprometido com a expansão, os recursos para desenvolvimento de novas experiências fica dependente das agências externas de financiamento. O laboratório morre se parar de inovar", afirmou.
Além da manutenção básica, o laboratório consome grandes recursos no treinamento dos pesquisadores usuários. "Temos uma equipe de 16 pesquisadores, mas nossa missão é essencialmente receber outras pesquisas. Para isso, nosso pessoal técnico precisa treiná-los, pois lidamos com equipamento únicos, de alta sofisticação", disse o diretor-geral.
Caráter nacional
Com a atual limitação orçamentária, o LNLS corre o risco de perder a capacidade de atuar dentro do conceito de laboratório nacional, isto é, de estar à disposição para fomentar a pesquisa e desenvolver experiências de todos os cientistas cujos projetos passarem pelos processos de seleção. "Já temos demanda maior que nossa capacidade", contou Brum.
Em 2006, mais de mil pesquisadores trabalharam no LNLS em 720 projetos de pesquisa. Cerca de 15% dos usuários eram estrangeiros, principalmente argentinos (9%), mas também de toda a América Latina, da África do Sul e até mesmo da Europa e dos Estados Unidos, onde os laboratórios síncroton também estão sobrecarregados.
Os projetos submetidos ao LNLS recebem o parecer de assessores ad hoc e são submetidos a comissões externas, que escolhem os projetos considerados mais relevantes. O laboratório opera 24 horas por dia, cinco dias por semana.
Na opinião de Brum, o país precisa direcionar os investimentos de acordo com as prioridades nacionais e deve aprender a avaliar o que merece continuidade. "O Brasil precisa fazer escolhas. Para bom uso dos recursos limitados é necessário que se tenha capacidade política para tomar decisões e avaliar os resultados. Não é possível manter instituições moribundas", afirmou.
Segundo o cientista, a forma de operação do LNLS, que é uma organização social, favorece a avalição de resultados. "Somos uma organização privada sem fins lucrativos. A vantagem do conceito é dar autonomia às instituições, dar a elas o controle dos processos, mas cobrar resultados. Temos que criar sistemas de avaliação com objetivos e metas mensuráveis para tomar decisões", afirmou.
O laboratório se dedica à interação com empresas, a fim de criar condições para permitir a inovação de componentes tecnológicos e ajudar a desenvolver produtos. Mas os investimentos das empresas são focalizados nos projetos específicos e não ajudam na operação multiusuário do laboratório.
Resolução atômica
A luz síncrotron é uma radiação eletromagnética intensa produzida por elétrons de alta energia em um acelerador de partículas. Ela abrange uma ampla faixa do espectro eletromagnético: raios X, luz ultravioleta e infravermelha.
Controlando as diversas fontes de luz, os cientistas podem "enxergar" objetos em escalas invisíveis sob a luz visível, podendo usar, por exemplo, o raio X para obter uma resolução atômica dos objetos estudados, conseguindo ler comprimentos de onda de 1 angstrom (um décimo de nanômetro).
Os pesquisadores podem também investigar a estrutura de proteínas com aplicação da técnica de cristalografia, detectando, com a difração dos raios X incidentes na molécula, a posição dos átomos que a compõem. Com isso, investiga-se como são constituídas as proteínas e quais suas funções em um dado organismo.
De acordo com Brum, um dos principais avanços do LNLS nos últimos anos foi a implementação de dispositivos de inserção. O equipamento produz luz fazendo um feixe de elétrons dobrar quando passa nos antepolos magnéticos. Cada vez que ele dobra – o que significa que é acelerado – produz luz em todas intensidades.
"Temos um anel de energia média. Mas, entre os antepolos, na seção reta, instalamos dispositivos de inserção. São série de ímãs que produzem desvios no feixe na seção reta. O feixe faz cerca de 30 dobras, que aumentam o fluxo do raio X ou do raio ultravioleta em intensidade muito maior", explicou. Em 2005, foi instalado um dispositivo de inserção para raios X. Agora, um ondulador está sendo instalado para os raios ultravioleta.
Mais informações: www.lnls.br
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