Astrônomos conseguem medir o movimento de uma galáxia. O feito, conseguido com uma série de rádiotelescópios apontados na M33, a 24 milhões de anos-luz, põe fim a uma espera de mais de 80 anos (imagem: NRAO/AUI/NSF)

Ela se move
08 de março de 2005

Pela primeira vez, astrônomos conseguem medir o movimento de uma galáxia. O feito, conseguido com uma série de radiotelescópios apontados para a M33, a 24 milhões de anos-luz, põe fim a uma espera de mais de 80 anos

Ela se move

Pela primeira vez, astrônomos conseguem medir o movimento de uma galáxia. O feito, conseguido com uma série de radiotelescópios apontados para a M33, a 24 milhões de anos-luz, põe fim a uma espera de mais de 80 anos

08 de março de 2005

Astrônomos conseguem medir o movimento de uma galáxia. O feito, conseguido com uma série de rádiotelescópios apontados na M33, a 24 milhões de anos-luz, põe fim a uma espera de mais de 80 anos (imagem: NRAO/AUI/NSF)

 

Agência FAPESP - Um sonho que acompanhava astrônomos há 80 anos acaba de ser realizado. Pela primeira vez mediu-se o movimento de uma galáxia inteira. O feito só foi possível com o uso de diversos radiotelescópios, espalhados pelo mundo e operando em conjunto.

Os pesquisadores envolvidos acreditam que, a partir de agora, tenha se aberto uma nova porta na astronomia, com possibilidades ilimitadas que podem ir de medir o futuro da Via Láctea – a galáxia na qual se encontra a Terra – a determinar a quantidade de matéria escura no Universo.

A equipe liderada por Andreas Brunthaler, do Instituto Max Planck de Radioastronomia, em Bonn, na Alemanha, registrou a galáxia M33 movendo-se a uma velocidade de 190 km/s em relação à Via Láctea e em direção à galáxia de Andrômeda. Os resultados foram publicados na edição atual da revista Science.

Formadas por bilhões de estrelas, as galáxias costumam formar aglomerados, como o Grupo Local, ao qual pertence a Via Láctea. Devido à força da gravidade, as galáxias se movimentam umas em relação às outras, em uma espécie de balé espacial. Como essas revoluções levam bilhões de anos, observadas a enormes distâncias parecem estar imóveis.

Em 1920, o astrônomo holandês Adriaan van Maanen afirmou ter capturado a rotação angular e o movimento de uma nebulosa em espiral, como as galáxias eram chamadas na época. Mas o grande rebuliço na comunidade científica causado pelo anúncio durou pouco.

Logo em seguida, como parte de um debate histórico a respeito do tamanho do Universo, o inglês Edwin Hubble provou que van Maanen estava errado. Hubble mostrou que as nebulosas em espiral eram sistemas de estrelas parecidas com a Via Láctea e que estavam muito distantes para exibir movimento a observadores na Terra – pelo menos com os instrumentos disponíveis.

A espera demorou mas acabou. O grupo de cientistas de diversos países liderado por Brunthaler registrou o movimento de nuvens de vapor d’água na galáxia M33, a 2,4 milhões de anos-luz da Terra, durante três anos. O vapor atua como uma espécie de laser natural, uma vez que emite ondas de rádio que podem ser identificadas com extrema precisão.

Com a técnica, os astrônomos conseguiram capturar o movimento na galáxia M33, justamente a mesma "nebulosa" observada por van Maanen. O feito serve como uma espécie de vingança para o holandês, que não conseguiu registrar o movimento em sua época. Segundo os cálculos do novo estudo, a M33 na realidade se move a uma velocidade cem vezes menor do que a estimada em 1920.

"Mais de 80 anos depois, o sonho de van Maanen tornou-se realidade", disse Brunthaler em comunicado do Instituto Max Planck. As medidas feitas agora mostraram que o vapor d’água, em um ano, move-se junto com a galáxia a apenas 30 microarcsegundos por ano, observados a partir da Terra.

O registro é tão preciso que permitiria medir a uma distância de 500 quilômetros o movimento de um corpo que estivesse se deslocando a 0,01 milímetro por ano. A precisão só foi possível pelo uso combinado de radiotelescópios separados a milhares de quilômetros uns dos outros em uma técnica conhecida como interferometria de campo distante.


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