Estimativa é que 400 mil crianças estejam contaminadas com chumbo nos Estados Unidos. A maioria delas vive em regiões urbanas, como Indianápolis

Efeito retardado
18 de janeiro de 2005

Análises realizadas no solo de Indianápolis, nos Estados Unidos, revelam que o risco de contaminação por chumbo ainda é alto. Desde os anos 1980, o governo norte-americano proibiu a presença da substância química na gasolina e em tintas

Efeito retardado

Análises realizadas no solo de Indianápolis, nos Estados Unidos, revelam que o risco de contaminação por chumbo ainda é alto. Desde os anos 1980, o governo norte-americano proibiu a presença da substância química na gasolina e em tintas

18 de janeiro de 2005

Estimativa é que 400 mil crianças estejam contaminadas com chumbo nos Estados Unidos. A maioria delas vive em regiões urbanas, como Indianápolis

 

Agência FAPESP - Depois de conhecidos os efeitos nocivos da contaminação por chumbo na saúde humana, principalmente como um desencadeador de problemas mentais em crianças com até 5 anos de idade, o uso indiscriminado desse elemento químico passou a ser controlado. Nos Estados Unidos, em 1986, o governo proibiu que combustíveis e tintas usadas na construção civil tivessem chumbo na composição. Desde 1981, os carros novos produzidos pela indústria automobilística também deixaram de liberar o elemento químico na atmosfera.

Quase 20 anos depois, os resultados que surgem das planilhas médicas dos hospitais norte-americanos mostram que a proibição surtiu efeito. O número de crianças afetadas pelo chumbo caiu de 80% para 2,2%. Apesar de a média nacional ser baixa, quando analisados apenas os casos registrados em centros urbanos dos Estados Unidos, a porcentagem volta a subir para 15%.

A partir desse quadro, cientistas do Departamento de Geologia da Universidade de Indiana resolveram analisar o solo em vários pontos da cidade de Indianápolis. O objetivo do estudo era descobrir até que ponto o chumbo ainda estava presente no solo da cidade.

As áreas mais estudadas, conforme mostra o artigo "Urban Lead Poisoning and Medical Geology: An Unfinished Story", publicado com destaque pela revista de divulgação científica GSA Today, editada pela Geological Society of America, estavam perto de ruas e estradas com diferentes níveis de tráfego. No passado, quando ainda se usava chumbo na gasolina, a queima desses compostos liberou uma grande quantidade desse elemento químico no meio ambiente. Grande parte dele acabou depositado em áreas próximas das vias de transporte.

Os pesquisadores encontraram altas concentrações de chumbo nos solos próximos aos locais de circulação de veículos. A presença do elemento químico diminuiu à medida que as amostragens foram se distanciando das margens das ruas e rodovias. As zonas urbanas, com áreas que registraram uma concentração de até 500 partes por milhão (ppm), estão bem mais saturadas de chumbo do que os novos subúrbios (60 ppm em média), que surgiram depois da proibição de 1986.

Para os pesquisadores, está claro que o chumbo liberado durante anos no passado, e que também foi usado em tintas e vários outros produtos industriais, está imobilizado no solo das grandes cidades. Segundo Gabriel Filippelli, principal autor do estudo, o risco não está apenas em Indianápolis, mas em todo centro urbano com grande quantidade de veículos automotores.

Os geólogos estimam que nos Estados Unidos ainda existem 400 mil crianças entre 1 e 5 anos de idade com quantidades importantes de chumbo no sangue. Elas entraram em contato com o contaminante quando esse, por algum processo, foi liberado do solo e recolocado no meio ambiente. A maioria dessas pessoas, mostra o estudo na área de geologia médica, vive em famílias com baixo nível socioeconômico.

Para atenuar o problema da contaminação por chumbo, lançado na atmosfera por meio do homem há muito tempo, os geólogos defendem algumas ações. A principal delas é melhorar o monitoramento das áreas de risco, que podem muito bem serem definidas com base em modelos matemáticos e nas imagens de satélite.


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