Educação e lazer para a paz
26 de julho de 2004

Conferência na SBPC discute propostas para enfrentar o problema da violência nas instituições de ensino. Marlene Pereira, do Observatório de Violências nas Escolas do Brasil, propõe a consolidação de programa que estimula a abertura das escolas nos finais de semana para atividades de esporte, cultura e lazer

Educação e lazer para a paz

Conferência na SBPC discute propostas para enfrentar o problema da violência nas instituições de ensino. Marlene Pereira, do Observatório de Violências nas Escolas do Brasil, propõe a consolidação de programa que estimula a abertura das escolas nos finais de semana para atividades de esporte, cultura e lazer

26 de julho de 2004

 

Por Thiago Romero, de Cuiabá

Agência FAPESP - Estudantes freqüentemente se deparam com focos de violência escolar, mas não há dados científicos confiáveis e suficientes para quantificar o problema. A situação não atinge apenas o Brasil, mas também a Europa. Essa foi uma das conclusões do encontro "Violência nas Escolas: Estudos comparativos", na sexta-feira (23/7), em Cuiabá, durante o último dia de atividades da 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Cuiabá.

Para tentar reverter o quadro de falta de dados científicos sobre o assunto, a francesa Catherine Blaya, diretora do Observatório Europeu das Violências nas Escolas, apresentou os resultados de um estudo comparativo feito por ela entre França, Espanha e Inglaterra, que teve como objetivo verificar a incidência de casos de violência nas escolas de ensino secundário situadas em áreas de baixas condições socioeconômicas.

O estudo incluiu a aplicação de um questionário para uma amostra de 3.270 alunos franceses, 1.545 ingleses e 1.176 espanhóis. "Os professores acham que não estão nas escolas para ‘educar’, mas sim para ‘ensinar’ uma disciplina específica", disse Catherine, que também integra o Setor de Pesquisa e Avaliação da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

"A grande maioria dos alunos se mostrou insatisfeita no convívio escolar pois, segundo eles, os professores não os consideram como pessoas, mais sim como objeto de ensino. Essa falta de intimidade faz com que os problemas de violência escolar dos alunos não cheguem ao conhecimento dos professores."

Para Catherine, o apoio financeiro por parte das autoridades responsáveis é indispensável como forma de proporcionar aos docentes melhores condições de trabalho. "Os professores precisam se envolver pessoalmente com os alunos e se sentir responsáveis pela cultura de sua escola. Assim, toda a instituição poderá participar de programas de sensibilização que consigam diminuir as taxas de violência", disse.

De acordo com Marlene Monteiro Pereira, do Observatório de Violências nas Escolas do Brasil, da mesma maneira que a escola é um campo onde a violência se manifesta, as instituições de ensino precisam ser um espaço de desconstrução da violência. "Trata-se de um centro onde devem ser desenvolvidas ações e projetos que melhorem as relações interpessoais, com reflexos positivos na formação dos alunos."

Um exemplo, citado por Marlene, de superação e prevenção do problema, é o projeto Abrindo Espaços: Educação e Cultura para a Paz, da Unesco, que pretende ampliar sua ação no Brasil por meio de uma parceria com o Ministério da Educação. O objetivo é estimular a integração entre a escola e a comunidade por meio da abertura dos estabelecimentos de ensino durante os finais de semana, para a realização de atividades de esporte, cultura e lazer.

"A violência existe e tem um impacto sobre a aprendizagem e o funcionamento das escolas. No entanto, os resultados do programa ‘Abrindo Espaços’ demonstra que há solução para esse quadro de degradação das relações. Nossa tarefa é apoiar essas iniciativas para transformar o assunto em um alvo prioritário das políticas públicas em todos os níveis governamentais", defendeu Marlene.


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