Sítio histórico de Joanes, na Ilha do Marajó, tem vestígios de ocupação indígena e colonial com pelo menos 400 anos. Pesquisadores do Museu Paraense Goeldi fazem as primeiras escavações no local
Sítio histórico de Joanes, na Ilha do Marajó, tem vestígios de ocupação indígena e colonial com pelo menos 400 anos. Pesquisadores do Museu Paraense Goeldi fazem as primeiras escavações no local
Agência FAPESP - Desde sexta-feira (17/2), estão sendo feitos os primeiros trabalhos de escavação no sítio arqueológico de Joanes. O local fica no município de Salvaterra, arquipélago de Marajó, a três horas de barco de Belém. As escavações estão sendo feitas por integrantes do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Há várias incógnitas científicas em Joanes. Logo no primeiro dia de escavações foram encontradas telhas e alguns pisos usados nas antigas construções, que estão em ruínas e em boa parte soterradas. "Estamos tentando descobrir os alicerces da entrada da igreja e qual a sua real dimensão", conta Denise Schaan, arqueóloga do Goeldi, e especialista em cultura Marajoara, à Agência FAPESP.
Na segunda metade do século 17, foi construída no local a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Os pesquisadores ainda não sabem se a ordem religiosa foi fundada por franciscanos ou jesuítas. Há pesquisas documentais em curso para tentar elucidar a polêmica.
"Temos também uma iconografia feita em 1783 do local, que na época se chamava Vila do Monforte", diz Denise. Com o desenho nas mãos, os pesquisadores tentarão encontrar os alicerces de cada uma das construções representadas pelo autor do desenho, que participou da viagem do naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) à região.
Segundo os historiadores, no período colonial a Vila de Joanes era importante e tinha uma relação bastante presente com a capital Belém. No Marajó funcionava um pesqueiro real, que gerava todo o suprimento necessário para abastecer a capital da província.
Ao longo das últimas décadas, o sítio arqueológico passou por uma série de problemas. Parte das construções foi destruída pelas autoridades locais para a construção de uma praça. Por conta disso, os pesquisadores que lá trabalham acham fundamental conscientizar a população local da importância histórica do lugar.
A equipe aproveita a oportunidade da viagem para explicar aos moradores locais a importância de que um lugar como aquele seja preservado. Os pesquisadores fazem também o processo de limpeza das pichações existentes nas ruínas coloniais.
"Estamos discutindo todos os passos do projeto com a comunidade local, que estava preocupada com a retirada do material do sítio. Depois que explicamos que ele será levado ao Museu Marajó, a preocupação acabou", explica Denise. "Esse trabalho com a comunidade é fundamental para que eles possam ajudar na preservação."
Na semana passada, os pesquisadores do Goeldi e da UFPA deram palestras sobre arqueologia e turismo aos alunos da região interessados pelo tema. Além disso, está sendo realizada a exposição itinerante O Marajó na ponta dos dedos, que pertence ao acervo do Museu do Marajó.
"Além de sensibilizar as pessoas, estamos também colhendo as histórias orais dos moradores mais idosos, para gerar documentos históricos a partir dos relatos", conta Denise.
Mais informações: www.museu-goeldi.br
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