Cúpula do Clima reúne lideranças mundiais para discutir os principais desafios e compromissos no enfrentamento das mudanças do clima. (foto: Rafa Neddermeyer/COP30)
Avaliação foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da Cúpula dos Líderes; evento que antecede a COP30, em Belém, acontece em meio a obras no pavilhão principal da conferência climática
Avaliação foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da Cúpula dos Líderes; evento que antecede a COP30, em Belém, acontece em meio a obras no pavilhão principal da conferência climática
Cúpula do Clima reúne lideranças mundiais para discutir os principais desafios e compromissos no enfrentamento das mudanças do clima. (foto: Rafa Neddermeyer/COP30)
Elton Alisson, de Belém | Agência FAPESP – Na Zona Azul – pavilhão principal do Parque da Cidade, onde acontecerão as negociações oficiais dos chefes de Estado e a Cúpula dos Líderes, que antecede a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) –, um mutirão de operários corre contra o tempo para concluir as obras no local até a abertura oficial da conferência climática, na próxima segunda-feira (10/11).
O local, cujo acesso é restrito e permitido mediante um credenciamento especial da Organização das Nações Unidas (ONU), abrigará mais de cem pavilhões dos países-membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), além de salas de reuniões, espaços para a imprensa e escritórios de delegações, onde os países e organizações apresentarão seus projetos voltados à mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Na abertura, terça-feira (06/11), da Cúpula dos Líderes, a área e o chão do local onde ficarão situados os pavilhões nacionais ainda estavam totalmente cobertos por tapumes e mesas, cadeiras e plantas ornamentais estavam espalhadas pelos corredores das salas de reuniões e do acesso ao salão plenário e à mesa-redonda de líderes, decorados com painéis com fotos da floresta amazônica.
A cúpula vai reunir até amanhã (07/11) chefes de Estado e de governo, ministros e dirigentes de organizações internacionais para discutir os principais desafios e compromissos no enfrentamento da mudança do clima. O evento acontece, pela primeira vez, separadamente da COP30 e antecede as discussões que acontecerão durante a conferência climática.
No salão plenário, chefes de delegação de diversos países irão proferir durante os dois dias do evento discursos sobre o clima. Entre eles, o príncipe William, do Reino Unido, e o presidente da França, Emmanuel Macron. Já na mesa-redonda de líderes acontecerão três sessões temáticas convocadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“É o momento de levar a sério os alertas da ciência [sobre os impactos das mudanças climáticas globais]”, disse o presidente em seu discurso na abertura da cúpula.
“O ano de 2024 foi o primeiro em que a temperatura média da Terra ultrapassou 1,5 ºC de aquecimento em relação aos limites pré-industriais. A ciência já indica que essa elevação vai se estender por algum tempo ou décadas, mas não podemos abandonar os objetivos do Acordo de Paris”, avaliou.
O presidente afirmou que “a humanidade está ciente dos impactos das mudanças do clima há mais de 35 anos, desde a publicação do primeiro relatório do IPCC [o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas]. Mas foram necessárias 28 COPs para reconhecerem, em Dubai, a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis. Belém honrará os legados das COPs28 e 29”, afirmou.
O chefe do Executivo também disse que a COP30 é um retorno da convenção do clima ao "país onde nasceu", em referência à Eco-92, cúpula feita no Rio em 1992, quando foi estabelecida a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que criou o órgão de conferência anual conhecido como Conferência das Partes (COP).
“Pela primeira vez na história, uma COP terá lugar no coração do clima. No imaginário global, não há símbolo maior da causa ambiental do que a Amazônia. E é justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo para evitar o colapso de suas casas”, sublinhou.
Limite de 1,5 °C de aquecimento
Em seu discurso na abertura da cúpula, o secretário-geral da ONU, António Guterres, ressaltou que não é possível garantir que o aquecimento global permanecerá abaixo de 1,5 ºC.
“A ciência agora nos diz que um excedente temporário além do limite de 1,5 ºC – começando, no máximo, no início da década de 2030 – é inevitável. Precisamos de uma mudança de paradigma para limitar a magnitude e a duração desse excedente e reduzi-lo rapidamente. Mesmo um excedente temporário terá consequências dramáticas. Poderá empurrar os ecossistemas para além de pontos de inflexão irreversíveis, expor bilhões de pessoas a condições inviáveis e amplificar as ameaças à paz e à segurança. Cada fração de grau significa mais fome, deslocamento e perda – especialmente para as pessoas menos responsáveis. Isso é uma falha moral – e uma negligência mortal”, avaliou.
Segundo Guterres, o aquecimento global de 1,5 ºC representa uma linha vermelha para a humanidade, que não deveria ser ultrapassada.
“As Nações Unidas não desistirão da meta de 1,5 ºC. Ela deve ser mantida ao nosso alcance, e os cientistas também nos dizem que isso ainda é possível. Se agirmos agora, com rapidez e em grande escala, podemos tornar o excedente o menor, o mais curto e o mais seguro possível — e trazer as temperaturas de volta para menos de 1,5 °C antes do fim do século”, avaliou.
Na opinião dele, o desafio é imenso, mas as escolhas são claras. “Ninguém pode negociar com a física, mas podemos escolher liderar — ou ser levados à ruína. Escolham fazer de Belém o ponto de virada. Apoiem a ciência e defendam a justiça e as gerações futuras.”
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