Christine Gaylarde, da UFRGS
(foto: Eduardo Geraque)

Duras de matar
18 de novembro de 2003

Pesquisadores UFRGS, liderados por Christine Gaylarde, percorrem monumentos históricos do mundo para investigar as cianobactérias, resistentes microrganismos que põem em risco as edificações antigas. O trabalho foi apresentado no Congresso Brasileiro de Microbiologia

Duras de matar

Pesquisadores UFRGS, liderados por Christine Gaylarde, percorrem monumentos históricos do mundo para investigar as cianobactérias, resistentes microrganismos que põem em risco as edificações antigas. O trabalho foi apresentado no Congresso Brasileiro de Microbiologia

18 de novembro de 2003

Christine Gaylarde, da UFRGS
(foto: Eduardo Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Florianópolis

Agência FAPESP - "Elas não apenas não se deixam vencer facilmente como costumam se superar cada vez mais". A definição sobre as cianobactérias, microrganismos que sobrevivem apenas com luz, água e um pouco de sais minerais, é da cientista Christine Gaylarde, do Departamento de Biofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Um grupo liderado por Christine já percorreu o mundo investigando as cianobactérias, que costumam freqüentar edificações que fazem parte do patrimônio cultural da humanidade. A equipe esteve nas ruínas incas no México, nas igrejas de Congonhas do Campo, em São João Del Rey e Ouro Preto, em castelos franceses e na imponente catedral de Sevilha, no sul da Espanha.

"As cianobactérias estão presentes em todos esses lugares e formam a principal biomassa dos microrganismos coletados", disse Christine, que apresentou os resultados dos seus estudos nesta terça (18/11), no Congresso Brasileiro de Microbiologia, que está sendo realizado em Florianópolis.

Por não precisarem de matéria orgânica para sobreviver, as cianobactérias colonizam com facilidade substâncias limpas constituídas de rochas. Elas também são resistentes à seca e à luz ultravioleta, o que torna sua presença em construções históricas ainda mais facilitada.

Estudos realizados por outros pesquisadores identificaram a presença de vários gêneros de cianobactérias em diferentes tipos de rochas, não em prédios históricos, mas no meio ambiente. Análises realizadas especificamente em prédios históricos mostraram que esses microorganismos, além de perfurarem rochas, desenvolvem-se no interior das paredes ou entre as rochas da edificação. "Todos esses comportamentos fragilizam e comprometem a estrutura dos prédios", disse Christine.

Nas amostras coletadas e identificadas pelos pesquisadores da UFRGS, foram descobertos gêneros nunca antes identificados no patrimônio cultural da humanidade. Segundo Christine, surgiram exemplares de Synechococcus nas pedras sabão de Ouro Preto, representantes do gênero Synechocystis em arenitos de São João Del Rey e, ainda, cianobactérias do gênero Nostoc em granitos da igreja matriz da cidade de Paraty, entre outros.

Depois de identificar as cianobactérias, os cientistas tentarão desenvolver métodos eficientes para evitar que a lenta proliferação desse tipo específico de microrganismos destrua os prédios.

Segundo David Moon, do Departamento de Genética da Universidade de São Paulo, também presente em Florianópolis, a maioria dos herbicidas ou biocidas utilizados não costuma fazer efeito. "Essas substâncias são usadas para evitar o crescimento das culturas. Funcionam para bactérias tradicionais, mas não para as cianobactérias que possuem um ritmo de crescimento bastante baixo", disse.

De acordo com Christine, a aplicação de vernizes ou a proteção das superfícies de rochas com algum tipo de anteparo podem ser as melhores formas de preservar o patrimônio cultural dos ataques das resistentes cianobactérias.


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