Memórias do Instituto Oswaldo Cruz lança especial sobre a paleopatologia, ciência que ajuda a entender como problemas de saúde pública atuais, como a tuberculose e a sífilis, comportavam-se em épocas remotas (foto: divulgação)

Doenças históricas
11 de janeiro de 2007

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz lança especial sobre a paleopatologia, ciência que ajuda a entender como problemas de saúde pública atuais, como a tuberculose e a sífilis, comportavam-se em épocas remotas

Doenças históricas

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz lança especial sobre a paleopatologia, ciência que ajuda a entender como problemas de saúde pública atuais, como a tuberculose e a sífilis, comportavam-se em épocas remotas

11 de janeiro de 2007

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz lança especial sobre a paleopatologia, ciência que ajuda a entender como problemas de saúde pública atuais, como a tuberculose e a sífilis, comportavam-se em épocas remotas (foto: divulgação)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP - Reunir estudos que ajudem a compreender como doenças que hoje representam graves problemas de saúde pública se comportavam em épocas remotas, além de tentar decifrar de que maneira enfermidades de populações extintas conseguiram se manter com o tempo ou contribuíram para o surgimento de novas patologias.

Essa é a proposta do suplemento especial que acaba de ser lançado pela revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, um dos mais antigos periódicos científicos da América Latina, editado desde 1909 pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro.

O volume, organizado pelos pesquisadores do IOC Sheila Maria Mendonça de Souza, Luiz Fernando Ferreira, Adauto Araújo e Karl Jan Reinhard, é composto de 20 artigos, produzidos por 50 autores de instituições do Brasil, Argentina, França, Canadá, Hungria e Estados Unidos.

"O objeto de trabalho da paleopatologia são os materiais remanescentes do corpo humano, como esqueletos, dentes e cabelos, ainda preservados em sítios arqueológicos", disse Sheila Maria à Agência FAPESP.

A partir das informações genéticas contidas nos materiais, são utilizados diversos métodos para tentar descobrir, por exemplo, quais parasitas infectaram determinado indivíduo, mesmo que ele não tenha marcas de doenças. "Com a comparação das características do DNA de parasitas remotos e atuais, os processos evolutivos das doenças passam a ser entendidos com mais clareza", afirma a pesquisadora.

Nesse contexto, um dos destaques da publicação é a tuberculose pulmonar, abordada em três artigos. Um discute a prevalência da doença na era pré-colombiana, além de refletir sobre o uso de pesquisas biológicas e biomédicas em estudos paleopatológicos. Os outros dois sugerem que lesões ósseas encontradas em esqueletos são bons indicadores da presença da bactéria Mycobacterium tuberculosis, causadora da doença em humanos.

"Essas linhas de estudos paleoepidemiológicos têm provocado mudanças de concepção sobre a história da evolução da tuberculose pulmonar em populações humanas. Antes se pensava que a tuberculose era uma doença transmitida aos humanos pelo gado bovino, em especial com a domesticação dos animais no período Neolítico. Mas estudos começam a provar que a doença surgiu primeiro nos humanos para só depois afetar os animais", destaca Sheila Maria.

O comportamento da tuberculose permanece exatamente o mesmo há milhares de anos: uma doença que afeta principalmente indivíduos submetidos a más condições de moradia e alimentação, inclusive na pré-história. "Mas, por outro lado, mesmo que a tuberculose pulmonar exista nas Américas há pelo menos 3 mil anos, ainda não se conseguiu achar uma solução viável para a doença, que não dependeria apenas de antibióticos, mas de melhores índices de qualidade de vida", aponta.


Múmias portuguesas

Um artigo assinado por Sheila sobre a sífilis congênita é outro destaque da publicação, resultado de um trabalho liderado por integrantes do Departamento de Endemias Samuel Pessoa, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), na capital fluminense, em parceria com a Universidade de Coimbra, em Portugal, onde a pesquisadora leciona. O estudo descreve o caso de um bebê de um ano e meio com a doença, cujo cadáver data do século 18.

"Encontramos 70 múmias embaixo do altar de uma igreja no centro de Lisboa. Pela análise do cadáver da criança, pudemos confirmar que a sífilis era realmente uma doença comum na Europa naquela época, inclusive nas classes sociais mais elevadas. O que mais aguçou a curiosidade da comunidade acadêmica, no entanto, foi a própria descrição do achado das múmias. Até então, era muito raro encontrar múmias em Portugal e apenas três casos tinham sido documentados arqueologicamente no país", disse Sheila.

O conteúdo do suplemento especial dedicado à paleopatologia da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz está disponível na internet na íntegra, em inglês. Para acessar, clique aqui.


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