Múmias Chinchorro: os primeiros habitantes do Atacama, provavelmente, chegaram à região após a doença de Chagas

Doença milenar
02 de fevereiro de 2004

Pesquisa publicada pela PNAS mostra que os membros da cultura Chinchorro – primeiros habitantes da região costeira do deserto de Atacama – sofriam há 9 mil anos com o mal de Chagas. Segundo o estudo, 40,6% da população era portadora da doença

Doença milenar

Pesquisa publicada pela PNAS mostra que os membros da cultura Chinchorro – primeiros habitantes da região costeira do deserto de Atacama – sofriam há 9 mil anos com o mal de Chagas. Segundo o estudo, 40,6% da população era portadora da doença

02 de fevereiro de 2004

Múmias Chinchorro: os primeiros habitantes do Atacama, provavelmente, chegaram à região após a doença de Chagas

 

Agência FAPESP - Não são apenas os ossos das múmias encontradas em pleno deserto de Atacama, no norte do Chile e sul do Peru, que apresentam importância científica. Os avanços metodológicos conquistados na área da biologia molecular jogaram luz sobre um outro elemento, normalmente desprezado quando o objetivo é reconstruir o passado distante.

Cientistas dos Estados Unidos, Chile, Colômbia e Itália, liderados por Arthur Aufderheide, do Laboratório de Paleobiologia da Universidade de Minnesota, acabam de publicar um trabalho instigante no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Ao investigar os tecidos de 283 múmias encontradas ao longo do deserto atacamenho, eles descobriram que grande parte daquela população sofria de uma infecção que afeta hoje cerca de 18 milhões de pessoas na América Latina.

Segundo as inéditas investigações baseadas na biologia molecular, 40,6% da população era portadora da doença de Chagas. O registro mais antigo data de 9 mil anos. O mais recente, de 1,5 mil anos, é do período em que os espanhóis chegaram à América para dominar a maior parte do continente. Todas as múmias investigadas eram da cultura Chinchorro, primeiro grupo humano que povoou a zona costeira do Atacama, ao norte do que é hoje a região ocupada pela cidade chilena de Antofagasta.

Pelos resultados obtidos em uma das regiões mais secas do mundo – o que explica, em parte, a mumificação natural dos cadáveres –, foram os seres humanos que chegaram depois da doença, e não o contrário, afirmam os cientistas que participaram do trabalho.

Como a doença de Chagas tem a sua fase silvestre e a doméstica, a tese defendida pelos cientistas é a de que, ao chegar ao deserto, os membros da cultura Chinchorro passaram a fazer parte – para os insetos transmissores da doença – do ciclo silvestre. Os humanos se tornaram, então, apenas mais um elo dentro da cadeia da doença. Com o passar do anos, o ciclo doméstico do mal de Chagas se estabeleceu no deserto, entre a comunidade de humanos.

Apesar de alta, a taxa identificada pela análise de DNA na paleoepidemiologia atacamenha é muito próxima da registrada atualmente, também na América do Sul, como em algumas zonas no interior da Bolívia e da Venezuela.


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